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terça-feira, 15 de julho de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (139)



Da fidalguia espiritual de Benedito Lima com pedido de publicação: "Teresina, 2.11.71. Professor. Propositalmente, não falei no nome do seu inesquecível pai, desembargador Arimathéa Tito, quando, em 27 de outubro, lhe enviei uma carta, citando jornalistas que muito lutaram nas campanhas eleitorais, em busca da Democracia que tranqüiliza a população brasileira. Deixei para hoje, Dia dos Finados, em que todos [apagado no original] sentindo saudades de nossos entes queridos - justamente nesta data, quando a pureza das velas e o silêncio das almas bem traduzem o sentimento religioso de confraternização universal, unidos com os mesmos soluções e lágrimas do coração. Com o perfume das flôres que depositamos no cemitério, estou trazendo ao nobre amigo uma mensagem de solidariedade e admiração, dedicada especialmente ao valoroso e admirável espírito do seu boníssimo pai, desembargador Arimathéa Tito, alma generosa que já subiu ao céu, onde está gozando as delícias do paraíso com as bençãos de Deus. Fiz questão de deixá-lo separadamente, porque foi êle nosso chefe e comandante dos memoráveis combates, iniciados em 1935, quando eu era ainda aluno da velha Escola de Aprendizes Artífices, muitos anos chamada Escola Industrial e agora Escola Técnica Federal do Piauí. Juntamente com Fabrício Areia Leão, ao lado e incansáveis companheiros, repetidas vêzes fizemos as montagens dos palanques para os movimentados e concorridos comícios. Seu corajoso, elegante, inteligente e invejável pai falava horas seguidas eletrificando as multidões, sensibilizadas e comovidas com as maravilhas da eloquente oratória do eminente líder e excepcional tribuno, salvo engano, época em que Helvécio Coelho Rodrigues, Vaz da Costa e outros dirigentes vibravam e empolgavam todos os ouvintes. Foi êle um notável juiz, ilustrado mestre do direito e da justiça, aprimorado escritor, brilhante jurista e abnegado educador, que nunca esqueceremos. Inegàvelmente, foi êle uma grandiosa pilastra de civismo e esteio de brasilidade, com ardoroso empenho e dedicada colaboração, sacrificando a preciosa saúde em benefício da democracia, que graças a Deus e aos homens de boa vontade estamos desfrutando em nosso querido Brasil, servindo ainda hoje de estímulo e de exemplo para as novas gerações, notadamente para os que não tiveram a felicidade de conhecê-lo e ouvi-lo com sua bravura e heroísmo".  

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De Jacyra Marlene Araújo, encantadora inteligência, alta funcionária da Secretaria de Educação do Piauí: "Pittsburgh, 26.1071. Professor. Aqui em Pittsburgh está acontecendo um espetáculo maravilhoso com a natureza. O outono já chegou e com êle as árvores mudam de roupagem. As fôlhas são coloridas em contraste com o gramado bem verde dos campos. A cidade, por sua vez, torna-se diferente. É um misto de alegria e tristeza, pois a cor do céu, cinzento, figura neste quadro poético. O senhor, com sua sensibilidade, típica de homem culto, naturalmente se curvaria perante tamanha beleza e traduziria para os demais homens do mundo o que de tão belo a natureza americana pode oferecer àqueles que a visitam". Observação. Jacyra escreve-me de Pittsburgh, cidade do estado da Pennsylvania - um dos mais belos da América do Norte. Historicamente, um dos mais antigos. Dos mais importantes, econômicamente. Significa carvão e aço. Pennsylvania é obra do quacre William Penn, fundador também da Filadélfia (cidade de amor fraterno). Nessa cidade, num pequeno edifício de tijolos vermelhos, foi redigida por Jefferson a Declaração de Independência dos Estados Unidos. A cidade de Pittsburgh, de onde me escreve Jacyra, tem história notável contada por Davenport, talentosa romancista, em "O Vale da Decisão". De feito, lutas sangrentas travou aí o homem branco com o índio. Cartier acentua que Pittsburgh foi, durante muito tempo, fronteira brutal onde a astúcia era uma arma tão importante como a espingarda. Pittsburgh possui hoje dezenas de indústrias. A maior fábrica de alumínio do mundo. A fábrica de KETCHUP. Ali funciona a Westinghouse. E a US Steel (Aço).

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Ótimo o livro "Tempo e Expressão Literária", de Castagnino. Análise da época na obra literária. A época, para Castagnino, infiltra-se na personalidade do artista e, por fim, em sua criação. Há um clima de época, como queria Balzac: "As épocas tingem os homens que passam por elas". Castagnino acrescenta: "As épocas imprimem nos homens o seu sêlo característico e os moldam". A tese do eminente crítico está assim por êle resumida: em uma época há ideias e teorias dominantes, preponderância de razão ou imaginação, do idealismo ou do materialismo. Na atmosfera de uma época percebem-se irradiações pessimistas ou otimistas, euforias coletivas ou depressões, angústia e neurose. No piano da arte pode-se assinalar a época por seu sentido de ordem, do acatar disciplinado de modelos e cânones ou por uma propensão para a originalidade rebelde. Cada época oferece ao criador temas, ideias, perspicácias ou cegueiras.


In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 7, 25 nov. 1971.

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