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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (6)

DA CORRESPONDÊNCIA - De Brasília, com data de um de agosto: "Expressamos, com prazer, os nossos agradecimentos ao notável jornalista pelo apoio que deu, em suas colunas e falas, à campanha em prol da Barraca do Piauí. Alcançamos êxito e, por isto, a direção da Casa do Candango elogiou a participação do Piauí na Festa dos Candangos. Ao manifestar-lhe o nosso profundo reconhecimento, desejamos-lhe pleno sucesso como Secretário de Estado de Educação e Cultura. aa) Inês Bandeira Gonçalves, Carmita Ramos, Maria Teresa de Almeida, Magnólia Nogueira Paranaguá de Santana, Antonieta Ferreira".

AS NOTAS - 1) O jornal "A Luta", de Campo Maior, de 2.8.1970, reclama contra a falta de equipamento do ginásio daquela cidade. Sem carteiras. Sem que possa funcionar. Pois fica a informação que mandei àquele vibrante órgão de imprensa: no dia 31 de julho, antes da edição do jornal, a Secretaria de Educação encaminhou todo o equipamento para que o educandário pudesse funcionar normalmente, como se encontra funcionando.

2) Indicamos para o lugar de Secretário Executivo do Movimento Brasileiro de Alfabetização no Piauí o professor Pedro Vasconcelos Filho, educador de reconhecidos méritos.

3) Na Casa Anísio Brito, por iniciativa dos seus orientadores (Herculano Moraes, Ruth Ferrez e Odélia Gonçalves), foram postos os retratos do ex-governador Helvídio Nunes, governador Clímaco de Almeida e prof. Simplício Mendes. Presidi à sessão, na qualidade de presidente da Academia Piauiense de Letras e proferi palavras a respeito da significação da Homenagem. Agradecimentos de Clímaco e de Simplício Mendes.

4) Aplaudida a festa folclórica piauiense, organizada pela Secretaria de Educação e Cultura. Instalação solene no Clube dos Diários. Presença de altas autoridades. Proferi palestra. Tema: Folclore. em seguida, exibição do Coral Nossa Senhora do Amparo, com declamação do notável Tarcísio Prado. Houve ainda exposição em grupos e colégios (trabalhos dos estudantes) e peça teatral de Gomes Campos no Teatro 4 de Setembro. Encerramento no Teatro de Arena. Agradecimentos a todos os que cooperaram, com esforço e inteligência, para o bom sucesso da promoção, que tem caráter nacional. A organização coube especialmente aos Departamentos de Educação Primária e Média do Estado. Dom Avelar dedicou crônica especial a esta festa de cultura. Ainda sobre o folclore: a Secretaria de Educação e Cultura vai premiar os melhores trabalhos escolares que se compuserem com o objetivo de estudar o folclore piauiense.

5) Do dedicado professor Melo de Floriano: "A sua palestra brilhante teve imensa repercussão em todas as camadas da sociedade florianense, e depois de uma semana da realização ouvem-se sempre comentários com grandes elogios".

6) O governador Clímaco de Almeida palestrou demoradamente com representante do Ministro da Educação, Deoclécio Dantas. Elvira Raulino e Secretário de Educação. Objetivo: turismo. Ofereci sugestão. Antes disse que a Secretaria de Educação não poderia arcar com as responsabilidades de um departamento de turismo. Melhor seria criar tal departamento diretamente subordinado ao governador do Estado, como se faz em Santa Catarina. Alvitre aceito. O departamento de turismo vai ser criado por essa forma.

7) Outra reunião com o governador: Dom Avelar, Secretários de Educação e de Saúde, Padre Pedro (Centro Social Cristo Rei) e Secretário Santos Rocha. Assuntos debatidos: problemas da Ação Social Arquidiocesana. Várias recordações urgentes do governador do Estado aos secretários presentes.

8) Bem organizadas as comemorações da Semana de Caxias. Palestras nos colégios de Teresina. Inauguração solene do Grupo Escolar Duque de Caxias, com palavra do Secretário de Educação e do Comandante da Guarnição Federal. Juramento dos novos soldados no Estádio Lindolfo Monteiro (espetáculo de civismo e beleza patriótica).

9) Muito festiva a solenidade de instalação do segundo período letivo da Escola Normal Antonino Freire. Realizei palestra sobre as responsabilidades da professora primária. Parabéns ao Diretor Maurício Camilo da Silveira.

10) José Walter manda-me interessante artigo a respeito de ingresso de mulheres (gratuitamente) no Estádio Lindolfo Monteiro (futebol). É contra esse ingresso. Cada cabeça, cada sentença.

11) Diz o "Diário de Notícias", do Rio, que Sousa Santos é o Pelé do Piauí.

12) Ainda o mesmo jornal acentua que a maior preocupação do governador Clímaco de Almeida é a instalação da Universidade do Piauí.


A. Tito Filho, 02/09/1970, Jornal do Piauí.     

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (5)

Faz dias, e comentei pelo rádio o assunto, dois mestres de português, um deles Bechara, lúcido sempre nos ensinamentos, prestaram declarações a "O Globo", do Rio, e com elas se manifestaram contra livros que acatassem termos de gíria, nas escolas. Adolescentes e jovens não deviam ler termos de gíria, sustentaram os dois professores. A gíria, porém, é sabedoria popular. Criação inconsciente das coletividades. O povo transfere significados de uma cousa a outra, por semelhança. Bofe é parte do animal que a muitos repugna. Bofe, na gíria, vale mulher feia, sem atrativos, que ninguém quer para amores. No meu modo de entender a gíria enriquece o idioma. Não se confunda, entretanto, gíria com calão, nem com linguagem iê-iê-iê. E para que a juventude, nas escolas, deixasse de ter contacto com a gíria, seria necessário subtrair dela notáveis livros da literatura nacional. Exemplos:

- Sente a falta do ARAME nas gavetas (Emílio de Meneses - "Mortalhas" - pág. 42).

-... ganhou hoje e levou uma BOLADA (Machados de Assis - "Outras Relíquias" - 27).

- Vai, BRUACA velha... (Simões Lopes - "Contos Gauchescos" - 146).

- O que vamos fazer, o casamento não é nenhuma CANJA (Afrânio Peixoto - trabalho intitulado "Outros Tempos").

- Meu avô materno, Francisco de Paula Rubim, mineiro. CASCA-GROSSA... (Humberto de Campos - "Um sonho de Pobre" - 133).

- Sob a presidência do Marechal Hermes tornou-se proverbial o CHALEIRISMO (João Ribeiro - "A língua nacional" - 76).

- Em primeiro lugar pagarei aqueles COBRES me devo (Artur Azevedo - "Contos efêmeros" - 61).

- As turcas acabaram EMBRULHANDO Alá Maomé (Medeiros e Albuquerque - "Por terras alheias" - 88).

- Este santo não passa de um ESTRADEIRO de marca (José Lins do Rego - "Pedra Bonita" - 343).

- Ficou de GALINHAGEM com o marido (Lins do Rego - "Pedra Bonita" - 305).

- Cortou cerce naquela MAMATA (Paulo Setúbal - "Marquesa de Santos" - 70).

-... estou namorando uma vizinha do sobrado fronteiro. É um PANCADÃO (Rodrigo Otávio - "Minhas memórias dos outros" - 203).

- Não foi igualmente bonito nem sumário o ROLO do largo de São Francisco... (Machado de Assis - "Crônicas" - 117).

São milhares os exemplos. Bastam os que ficam acima registrados. X X X RAIMUNDO Rosa de Sá escreve-me: "A política de valorização do artista teresinense anunciada pelo governo e posta em prática pela Fundação Projeto Piauí não corresponde a realidade. Não houve definição exata dos problemas da musica piauiense. A exibição de grupos folclóricos, os corais e a criação de bandas nos colégios não são expoentes da nossa cultura musical. Estamos com uma radiofonia ociosa nesse sentido. Não há estímulo a profissionalização do musico. Não há no Piauí leis que regulem a atividade profissional do músico". OBSERVAÇÃO. O autor das considerações que ora se publicam é jovem idealista, bom candidato a vereador. Discordo de algumas opiniões suas. Não vejo mal na extinção de grupos folclóricos, desde que sejam realmente FOLCLÓRICOS. São necessárias as atividades artísticas dos corais. As bandas de musica dos colégios pecam pelo excesso de treinamento e pela espécie de musica ensaiada e executada. E mais: a profissão de músico no Brasil está regulamentada pela Lei 3857, de 22 de dezembro de 1960. Finalmente: Raimundo Rosa de Sá, amigo que muito prezo, deve levar sugestões ao prof. João Ribeiro, do Projeto Piauí. Apenas a critica, não. A critica e a sugestão para que os problemas sejam resolvidos em beneficio da coletividade. X X X DE VEZ EM QUANDO se grita contra o meretrício. E fala-se de ação policial contra o meretrício, como se policia fosse o remédio. Estamos com Rui na condenação do jogador, mas temos pena do jogador, vitima do vicio. A prostituta é degradante, mas nos penalizamos das infelizes horizontais. Essas pobres mercadoras procuram no subsolo social pão e roupa. Compete a todos a ação para reabilitá-las, oferecendo-lhes oportunidades. O meretrício é problema social. Centenas de mariposas iniciaram a vida que levam por pouco dinheiro. A essas vitimas falta o mínimo afeto e a dose por pequena que seja de compreensão. A prostituta em Teresina reclama a atenção da sociedade, das instituições sociais acreditadas. Do Estado. De dom José Falcão. Dos protestantes. Jesus deu perdão a Madalena e mandou que ela se reabilitasse. Atenção de todos. Não se justifica mais o prostíbulo, o oferecimento da carne pelas ruas suspeitas. A mulher se torna prostituta por virtude da miséria. Não é prostituta por prazer neste século em que a mulher conquistou liberdade sexual. É chegado o instante de varrer da vida social a caridade paternalista do natal dos pobres. Do dia da mãe pobre. De examinar o gravíssimo problema da prostituição em Teresina.


A. Tito Filho, 22/10/1972, Jornal do Piauí.