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quarta-feira, 20 de abril de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (26)

DA CORRESPODÊNCIA - Do talentoso universitário José Joaquim Monte, com data de 24.2.70:

"Tendo sido eleito recentemente para a vice-presidência do II ENCONTRO CIENTÍFICO DE ESTUDANTES DE MEDICINA, a ser realizado no próximo mês de julho em Fortaleza, coube a mim a tarefa de promover e afirmar êsse encontro científico no meio médico do norte e nordeste brasileiros. Com êste objetivo e no cumprimento de uma obrigação que me apraz, estou a lhe escrever.

O ECEM, como assim é conhecido, é uma promoção da classe universitária brasileira, no campo médico, que tem como principal objetivo criar as oportunidades de uma integração entre médicos e estudantes de medicina, de todo o território nacional. O I encontro foi realizado na Bahia, quando e onde foi plantada a semente de uma idéia que, logo aceita, germinou com a intensidade prevista e, hoje, já produz frutos que tão acertadamente nos orientam nesta tarefa de aprender e bem.

Quando dizemos INTEGRAÇÃO, nos referimos tanto ao sentido horizontal, como ao sentido vertical. Horizontal, quando a aproximação e o entrosamento é estabelecido entre os estudantes das várias escolas e dos vários Estados; vertical, quando o mesmo se verifica entre os médicos e estudantes.

Essa falta de oportunidades de integração constituía uma lacuna que necessitava ser preenchida o mais urgentemente possível.

O temário do segundo ECEM constará de Mesas-redondas, Conferências, Curso Paralelo de Patologia a cargo de Professores especialmente convidados e Temas Livres, apresentados pelos colegas de Todo o Brasil, que se inscreverem antecipadamente. Cabe a cada Diretório estabelecer os temas, indicar os assuntos, convidar os conferencistas e tomar tôdas as iniciativas relacionadas com a estruturação e a realização de cada ECEM. Na Bahia, o I ECEM girou em tôrno principalmente da Medicina Tropical.

Nessa oportunidade, queremos transcorrer sôbre outros assuntos de igual importância, principalmente no que diz respeito à prática da Medicina no norte e nordeste brasileiros.

À medida que o ECEM desenvolve ao jovem o estímulo pelo estudo, incentiva a pesquisa cientifica, consolida suas relações culturais e estreita os laços de amizade entre acadêmicos de medicina de todo o Brasil, êle se afirma não pelo que possa apresentar de nôvo e de aperfeiçoado, mas sim pela necessidade que êle representa, pelo papel que desempenha na formação de uma nova mentalidade entre os integrantes da classe e pelas oportunidades que oferece à própria ciência ao seu dilatamento e a sua difusão pelos caminhos do Brasil afora.

Andamos por várias capitais, visitamos governadores, abordamos Diretores de Medicina, mantivemos contactos com representantes estudantis para garantirmos a participação de representações de todos os Estados. Aqui no Piauí, o govêrno nos deu total apoio, colocando-se à disposição, oferecendo as condições para o desempenho de nossa missão e para futura ida dos conferencistas piauienses que participarão do II ECEM.

Os médicos Dr. ZENON ROCHA e Dr. DELSON CASTELO BRANCO ROCHA já confirmaram a aceitação ao nosso convite. O primeiro para participar de uma mesa redonda sôbre a PERSPECTIVA DO EXERCÍCIO DA MEDICINA NO BRASIL e o segundo para outra mesa redonda sôbre DETECTAÇÃO, PREVENÇÃO, PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DO TRATAMENTO DO CÂNCER, das quais também participarão grandes figuras da medicina nacional.

Amanhã estaremos de volta a Fortaleza. Acreditamos que nosso relatório levamos mais do que pensávamos levar. Sentimos que realmente o ECEM é uma necessidade, compreendida e aceita por todos.

Na certeza de que o nobre mestre e amigo muito poderá fazer pelo ECEM, tornando-o cada vez mais conhecido e afirmando-o desta tribuna donde tanto semeia cultura e colhe desenvolvimento, enviamos-lhe nossas saudações universitárias".


A. Tito Filho, 04/03/1970, Jornal do Piauí

segunda-feira, 11 de abril de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (25)

DA CORRESPONDÊNCIA - De José Magalhães da Costa, com data de sete de agôsto dêste ano: "Mestre. Sensibilizou-me que eu o tenha sensibilizado com a simples dedicatória de meu livrinho, feita de coração, como os casos que ali estão. Nada fiz senão dar a César o que é de César. Ou fazer-lhe o merecido elogio, que muitos lhe negam invejosamente, ou deixam de fazê-lo com mêdo".
Observação. - Gratíssimo. O bom, certo, correto José Magalhães da Costa tem razão, em parte. Escreveu êle livro belíssimo, retrato fiel da paisagem cabocla, através de muita inteligência. Comentarei o livro nesta coluna, depois de analisá-lo pelo rádio. Quanto ao resto: descreio da inveja dos simples, dos dignos, dos amigos, dos que me conhecem. Repudio os que, por mêdo, não me dedicam a referência nobre do esforço que desenvolvo,s em interêsse, para que êste Piauí seja melhor e mais dignificado.

AS NOTAS

1) Presidi a instalação do curso de monitores de aulas, pelo rádio, da madureza. Tudo muito bem orientado. Môças e rapazes de escolas normais e ginásios, a serviço da educação. Cooperação magnífica de Teresina, Parnaíba e Floriano.
2) Outra grande promoção da Secretaria de Educação e Cultura: mais de cem diretoras de grupos escolares se encontram no Centro de Treinamento de Campo Maior. Estudos durante trinta dias. Ambiente de convivência salutar e espiritual. Organização da professora Cecília Mendes e da supervisora Elza Paiva. Colaboração generalizada. Dei a aula inaugural, com muita satisfação. Dialoguei com mestres e educadoras durante mais de hora. Presença incentivadora do prefeito de Campo Maior.
3) Inteiramente recuperado o Colégio Estadual Zacarias de Góis. Mais de duzentos e vinte mil cruzeiros gastos, de acôrdo com verbas federais, autorizadas pelo Governador do Estado. Esfôrço dignificante do prof. Figueiredo, diretor do educandário. Presença de altas autoridades. Palavras do diretor do estabelecimento, do Secretário de Educação e do governador Clímaco de Almeida. Foi sincero e franco o Chefe do Executivo: o Colégio Estadual (padrão do Piauí) estava em postura lamentável. Sem higiene. Sem equipamento. Graças ao governador do Estado, existe um educandário nôvo na paisagem teresinense.
4) Sousa Santos, da tribuna da Câmara Federal, pronunciou segura e vibrante alocação a respeito da Suíça, enaltecendo-lhe a data patriótica. Discurso firme, elaborado com conhecimentos históricos e análise da grandeza social dêsse país da Europa.
5) Ainda Sousa Santos: informa o "Diário de Notícias", da Guanabara, que o deputado piauiense sempre escolhe assuntos especiais para fazer sugestões válidas.
6) Telegrama do diretor do Departamento de Educação Física do Ministério da Educação: "Prof. Tito Filho. Como nôvo Secretário Educação agradeço esforços vem desenvolvendo caro amigo maior incentivação Educação Física unidades escolares constituídas grupos escolares sedes municipais".

A. Tito Filho, 03/09/1970, Jornal do Piauí

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (24)

Félix Aires, com o título "Salmos do Meu Destino", mandou-me o seguinte comentário:

Compõe de 37 produções e mais de mil versos com vários títulos, o livro da poetisa Judith Santana, de bela feição gráfica e predominância da poesia amena e despretensiosa; a candidez de um estro delicado se faz claro de inspiração mais simples, denunciando-se pelo requinte da descrição e a sutileza dos encômios. Não há novidade nas rimas, na técnica, no verso propriamente dito; mas, sentimento, aprumo no artesanato; mas, cintilância de modéstia, pois muito bem sabe se expressar em versos brancos e róseos, setissilábicos, heróicos, alexandrinos. A cadência, o ritmo, as tônicas acentuadamente bem conduzidas no estilo, pratica a poesia moderada singularmente. A mulher já nos encanta por natureza, imagine se quando ainda é poetisa!
Para minha inspiração
cantar num verso - a saudade
e noutro - a felicidade
de ser filha do sertão.

Aconselha com segurança fora do comum:

Deixa essa falsa aparência
vive a vida em sua essência
e não te arrependerás,
deixa de ser orgulhoso,
sê franco, leal, bondoso,
e mais feliz viverás.

No sonêto "Os Amigos" explora o mesmo tema que Camilo Castelo Branco, tirando novas expressões do velho assunto. Dos amigos do mestre luso, restou apenas um, dos da poetisa, "partiram todos e ninguém voltou". É forte a página e válido o argumento. Fixa em "Flor Singela" um quadro pungente da vida humana que sempre se reproduz nos adunos populares. A inocência auxiliando a velhice, enfrentando os azares da vida quotidiana. Se bem interpretamos o pensamento da autora. "A Sorte da Rosa" nos parece retratar um romance da vida... Quem sabe? Há um soneto-familiar impregnado de amor-paterno-materno-filial sob o título "Rua 24 de Janeiro". Se é um desafôgo, "Desilusão", "Mal Sem Cura", uma tristeza e uma ironia... "Sonho de Amor", um momento de felicidade. "Ontem", um sonho que se transforma em amargura. "Idílio", uma composição bem conduzida. "Última Página", confissão e desprendimento. A variedade dos temas nos mostra que JS tem amplos recursos de interpretação, vitalidade no discernimento, segurança nos conceitos, alma na tessitura do verso coerente. Sua poesia com razão de ser, seu ideal transparece logo pela clareza dos provérbios. O verbo de Gabriela Mistral é servir, o de Judith Santana, sentir. Para Gilka Machado "a saudade é uma tristeza que nos dá tanta alegria". Para Judith: "Descrer da fatalidade, e vivo sempre pensando minha alegria chorando, cantando minha saudade". Para Cecília Meireles:

Ao lado da minha casa
morre o sol, e nasce o vento,
o vento me traz teu nome
leva o sol meu pensamento.

Para Judith:

Nos sertões do Piauí,
nos olhos meus a tristeza
refletia a profundeza
da saudade que sofri.

Para Stella Leonardos ficou assim o romance:

"Hoje nem a rua existe
para o meu sumido amor".

Para Judith o idílio rejuvenesce, alenta:

Numa doce comunhão,
quanta ventura tivemos
nesse instante que vivemos
nesse instante de ilusão!

Palmira Wanderley recorda:

Teu nome na minha bôca
é o meu pão de cada dia...

Judith, com a sensibilidade amargurada evoca numa admirável sextilha:

As rosas que nos cercaram
nos áureos tempos, murcharam
no meio dos roseirais,
bem tristes nossos caminhos
são paralelos de espinhos
que não se encontram jamais.

Luísa Amélia de Queiroz Brandão, Francisca de Sá Viana Montenegro, Maria Isabel Gonçalves de Vilhena, Vulmirina Correia, Alvina Fernandes Gameiro, Yolanda Bugyja de Sousa Britto, Lili Castelo Branco, Dagmar Alencar Caldas, Sonata da Cunha Nunez, Nerina Castela Branco, Conceição Castelo Branco, Concita Cordeiro - as poetisas do Piauí. Judith Santana mais uma inscrita no livro de nossa admiração, para alegria desta crônica.


A. Tito Filho, 02/06/1970, Jornal do Piauí

terça-feira, 5 de abril de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (23)

Ernesto Alves Filho, no "Correio Popular", de Campinas, são Paulo, edição 05 de setembro de 1970, publica a seguinte apreciação a respeito de Francelino S. Piauí:

"O nome dele é realmente Francelino de Sousa Araújo.

É o registro civil, a certidão de idade, a expressão individual em todos os documentos.

Desde, entretanto, que me encontra com êle - que saudade, Piauí, daqueles tranqüilos dias! - e, depois, pelos anos em que vimos vindo na intensidade pungente ou alvorejante da vida, por êsse conteúdo intangível de alma que realmente torna em vida a mera existência, e que nos faz, de fato, conhecer e penetrar as criaturas - nessa marcha interior que o mais precioso de nossos dias, percebi nêle a existência de duas grandezas, ambas imperativas uma da outra, e que transmutavam, no fundo, o nome dêle.

Duas grandezas, duas paixões: primeira delas, a paixão da terra distante, o torrão amável do Piauí, a ternura fermentada de muito amor pelo 'povo humilde e impassível, tão pacato e ordeiro' que aprendeu, na desesperança e na esperança, a transgredir para confiar, e a confiar em que, um dia, com bons governos e bons representantes, alcançara a sorte e o padrão correspondente ao esplendor daquela terra, cujo frêmito anímico parece germinar do próprio amor.

A outra paixão: o poder da própria personalidade - e que personalidade!

Antes de tudo, possui ela aquele fundamental na estrutura jornal e moral da personalidade: a vontade. Uma poderosa vontade para levar avante e realizar aquilo que tenha elaborado por meta, por objetivo, por terra prometida. Vontade capaz de vencer desertos e incompreensões, capaz de paciências e até de muito sacrifício, mas sempre servida de inteligência, sutil percepção das criaturas e do significado das coisas, e, então, quando crente do caminho e da vereda certa, - aquêle devotamento, aquela bondade, aquêle doce e lírico modo de querer bem, que é, talvez, a maior refulgência de nossa espiritualidade nacional.

Que notável Piauí - e estou certo de que farei a justiça de assim exclamar até o fim!

Pois bem: as duas paixões se uniram nêle, indivisíveis, hipostáticas.

O Piauí, para ser amado; a forte personalidade do homem, para dêle a mística de todos os dias, o assunto, a doutrina, o próprio compasso do coração.

E isto se fêz tão vivo, tão aprofundado o amor do homem pela terra e pelo povo, e a terra se fêz tão presente no homem, e a vibração de comum afeto se intensificou tanto, que o homem, desejando tornar a terra cada vez mais presente em si e clarim para os outros - acrescentou ao próprio nome o nome dela, como título e comenda; não serie êle, mais, nos domínios de sua ternura, somente Francelino de Sousa Araújo; seria, isto sim, Francelino S. Piauí, - terra e homem, homem e terra. E isto iria também depois, para sua organização comercial, 'Piauí'. E irá para tudo onde êle estiver e fôr. E não acabará. E será uma lenda para sempre... poema de amor de um homem por sua terra e seu povo.

Daí, então, estas obras, folhetos de poucas páginas, mas sucintas, essenciais, reportagens e observações, geografia e sociologia, e, sempre, a divulgação honesta e o equilíbrio, a obra do servidor permanente: 'PIAUÍ, TERRA DE TRANSIÇÃO', 'VIAGEM A TERRA-BERÇO', 'NAS TERRAS VERDES DO NORDESTE'. E agora, por último, em janeiro dêste ano, saiu mais um denominado 'TUDO PELA GRANDEZA DO PIAUÍ'.

Para ler, para meditar, para aprender - sobretudo porque, dentro destas páginas tôdas, vigilante e fiel no amor e na verdade, se encontra, puro e nítido, o coração escancarado de um homem".


A. Tito Filho, 01/12/1970, Jornal do Piauí

sexta-feira, 1 de abril de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (22)

DA CORRESPONDÊNCIA - De Campinas, são Paulo, com data de 21 de novembro, recebo estas distinções de Francelino Piauí: "Tito Filho, acabo de receber, pelo correio, três exemplares de Jornal do Piauí, nos quais, em Caderno de Anotações, leio generosas referencias do ilustre confrade a respeito de meu livreto Tudo pela Grandeza do Piauí. Gostei sincera e imensamente tanto das transcrições como de suas apreciações. Residindo há vinte anos aqui no Sul, e embora, no decurso dêsse período, já tenha feito duas visitas ao Piauí, é sempre saudável e reconfortante para mim receber qualquer comunicação da Boa Terra, sobretudo quando esta lembrança ou comunicação vem filtrada pela mente fulgurante de um José Arimathéa Tito Filho. Tal fato faz crescer em mim, a cada instante, o sagrado e justificado orgulho de ser piauiense e aqui, longe do torrão amado, procuro venerá-lo o quanto posso, na razão direta da distância que nos separa. Fico-lhe, pois, caro Arimathéa, imensamente grato, não somente pela sua gentileza como ainda pelo seu cavalheirismo em me remeter os jornais. Ficar-lhe-ei imensamente grato se, de quando em quando, me remeter alguns números de Jornal do Piauí, cuja feição gráfica e cujo conteúdo informativo, bem como sua forma de diagramação, muito me sensibilizaram".
AS NOTAS
1) Presenteia-me a Casa Juvenal Galeno, de Fortaleza, com a coleção das obras do grande poeta que foi Juvenal: "Lendas e Canções Populares" (dois volumes), "Folhetins de Silvanus e a Machadada", "Cenas Populares", "Medicina Caseira" e "Cantigas Populares". Grato.
2) Outro presente valioso manda-me a Livraria Civilização Brasileira: "Lolita", de Vladimir Nabokov, a história dos amôres de um homem maduro e uma menina de doze anos.
3) Mais um presente de boa leitura veio de Félix Aires: “Antologia de Autores Catarinenses".

A. Tito Filho, 03/12/1970, Jornal do Piauí