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sábado, 28 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (4)

De Orisvaldo Bugyja Britto, este comentário:

"Por volta de 1947, indo a São Luís, em viagem de passeio com demora de uns trinta dias, freqüentava, assiduamente, a Biblioteca Pública e a Livraria Universal, no Largo do Carmo, que já tinha o nome oficial de Praça João Lisboa com uma estátua do eminente jornalista e municipalista João Francisco Lisboa.

Na Livraria, que ficava no térreo de um dos sobradões de azulejo, de que muito se ocupa o acadêmico Josué Montello, eu sempre prosava com o seu proprietário Ramos de Almeida e com outro assíduo freqüentador - o professor, polemista e jornalista Nascimento de Moraes.

Já naquele ano, ele velho e trôpego, mas de lucidez admirável, nascimento de Moraes era, ainda, uma figura oracular e uma espécie de código a quem todos consultavam sobre fatos da vida histórica, politica e cultural do Maranhão e de sua velha Metrópole fundada em 1512 por Daniel de la Touche - o senhor de La Ravardière.

Interessante dizer que Nascimento de Moraes havia escrito e publicado em O IMPARCIAL em 1913, uma monumental critica com o título MARTINS NAPOLEÃO E O MOMENTO LITERARIO BRASILEIRO.

Esse trabalho foi transcrito aqui no Diário Oficial do Estado, e eu o havia lido e relido, como revisor e redator daquele órgão oficial.

Mas nas minhas andanças na Livraria Universal, de Ramos de Almeida, certo dia o livreiro me fez presente de exemplar da LIRA SERTANEJA, de Hermínio Castelo Branco, informando-me de já se achar esgotada a edição. Era uma brochura feia, mal paginada, composição em tipo manual - feia e anti-estética. Capa de papelão pardo e na primeira face desenhada uma lira (o instrumento musical) em amarelo.

Parte daí a grande diferença diante desta edição elaborada, corrigida, composta e impressa no governo do Sr. Alberto Silva. Diga-se mesmo que não há termo de comparação entre a edição Ramos de Almeida e esta do Governo piauiense atual.

Aquele exemplar antigo me foi pedido pelo comentarista de imprensa, já falecido, Eurípedes de Aguiar, que aproveitando alguns termos empregados por Hermínio, desancou um figurão da politica nacional aqui mandado como observador do então Presidente da República, nas questões do PSD e UDN.

Não só na feitura gráfica se nota a grande diferença entre aquela e esta edição. Agora surgiu um volume de rara magnitude em se tratando de livro simples de poesia brejeira ou matuta (brejeira é termo caipira). Tem a enriquecê-la o notável trabalho lexicológico do gramático José de Arimathéa Tito Filho que é, sem favor, a maior expressão literária, no momento, dentro desde 250 mil quilômetros quadrados do território do Piauí.

Lá fora temo piauienses brilhantes, porém, servindo a SANTA TERRINHA, com abnegação, vivencia e convivência por aqui ninguém supera Arimathéa Tito Filho. Outro trabalho digno de louvor nesta edição é esse escrito por Celso Pinheiro Filho, à guisa de prefácio. Veja-se a feliz coincidência: Arimathéa é barrense, filho de barrense; Celso Pinheiro é teresinense filho de barrense, ambos ilustrando a obra literária do barrense Hermínio Castelo Branco!

Nos versos de Hermínio Castelo Branco a gente sente o motivo, a ingenuidade de quase pureza do sertanejo, o seu meio, o seu ambiente social e a filosofia prosaica naquele viver feliz e tranqüilo. Hermínio fez a mais bela prosa em poesia - o que é cousa difícil.

O nosso caboclo sente isto, mas não sabe dizer, e Hermínio disse ou diz por ele. Vejam-se estas sextilhas a alma sertaneja em cantiga de São Gonçalo:

Eu ainda estando morto
De três dias enterrado,
Ouvindo tocar viola
E vendo o baião formado,
Arranco já dos infernos
Fedendo a chifre queimado

E para entrar no baião ou dança de pobre, que nas cidades se chama FORRÓ, Hermínio Castelo Branco enxerga na alma sertaneja isto, que ele pensaria de fazer quando a caminho ou à entrada da casa da festa:

Mato cem dum pontapé,
Duzentos dum empurrão,
Trezentos dum cocorote,
Seiscentos dum pescoção,
Carrega pra riba de mim,
Vem morrer sem confissão.

Na minha opinião - aliás desvaliosa - o vaqueiro do Piauí é diferente do vaqueiro dos outros estados. Ele é também lavrador e boêmio, como em Aparecida, cidade piauiense entre Jerumenha e Urucuí, Alto Longá, Castelo, São Pedro e Corrente de São Benedito, hoje chamada Beneditinos. Como tal, Hermínio Castelo Branco, não há (como) negar, tem no vaqueiro o fiel propagador, o indiscutível mensageiro de seus versos, de sua lira, como eu conheci antes de ler o livro, recitadas por crianças estas sextilhas:

Era no mês da mutuca,
Fins dágua vinha chegando,
Quando o gado sai da mata
Na carreira, escramuçando,
Se deram estas façanhas
Que eu por aqui vou contando
Nesse tempo dos prazeres

Do diligente vaqueiro,
Quando ferra suas sortes
Casa parta no chiqueiro,
E se o dono da fazenda
Não é sujeito estradeiro.

São versos que andam de boca em boca, tal qual os de Casimiro de Abreu, Raimundo Correia e outros, a modinha O GONDOLEIRO DO AMOR e muitas outras.

Em 1950, quando eu era o principal redator de ESTADO DO PIAUÍ, em mais uma fase de circulação sob a responsabilidade do destacado barrense Josípio Lustosa, desde maio de 1957, fiz uma carta-aberta naquele jornal ao então Governador Chagas Rodrigues, por sinal também parnaíbano, na qual sugeria ao Chefe de Estado reedição de obras notáveis de piauienses notáveis, principalmente. De autores não piauienses parece que lhe sugeri a CRONOLOGIA HISTÓRICA, de Francisco Augusto Pereira da Costa, editada uma única vez pelo Governo Anísio de Abreu, em 1908, e inteiramente esgotada. Falei, também da narração do Engenheiro Dodt, do Rio Parnaíba, com prefácio de seu neto Gustavo Barroso.

Citava eu obras de Clodoaldo Freitas, do célebre Engenheiro Sampaio - filho da Vila do Livramento, hoje José de Freitas, de Abdias Neves e de muitos outros filhos deste Piauí.

Como resposta às sugestões, obtive o silêncio. Certamente, creio, pelo desvalimento de quem sugeria. Veio-nos agora este outro parnaíbano para - sem que ninguém lhe pedisse ou sugerisse tamanha iniciativa - desbravar o assunto e exumar aquilo que se soterrava há longo tempo.

Alberto Silva é um governante de escol, que conquista o espírito de primeira grandeza que não o meu, que sou pequeno e não uso muito aproximar-se dos mais poderosos.

Mas não deixo de ser um dos seus admiradores incondicionais neste setor da vida pública e em alguns outros empreendimentos que Sua Excelência toma aos ombros num rasgo de liberdade e patriotismo.

A equipe que o ajuda é boa, magnífica e despretensiosa, como é o caso da Academia Piauiense de Letras, sob a égide de José de Arimathéa Tito Filho”.


A. Tito Filho, 02/12/1972, Jornal do Piauí.           

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (3)

Livros lidos e anotados:

A NOVA LITERATURA PIAUIENSE, de Herculano Moraes. História, crítica e antologia. Exposição de nossa vida literária por cortes longitudinais correspondentes aos distintos gêneros. O trabalho reclama ampliação. O jovem autor soube fixar a literatura desta unidade federada na sua totalidade cultural.

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A QUEM QUEREMOS, SENHOR? , de Hugo Silva. Romance social, em que se praticam notáveis lições religiosas e políticas dos nossos tempos. Exemplos vivos de altruísmo e de abnegação. Obra de raro teor educativo de orientação, de formação da personalidade. Verdadeira enciclopédia de assuntos filosóficos e de profundos conhecimentos e de profundos conhecimentos do homem e da vida.

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A PROVÍNCIA DESERTA, de H. Dobal. Um dos maiores poetas do Brasil de hoje, H. Dobal escreve como ninguém os versos de "A Província Deserta" - encantadores, plenos de vida e verdade, graciosos, bons de reler e decorar. Um poeta cantando, chorando e rindo. E berrando a melhor ironia que já se viu. Grande, irrevogável coleção de jóias de inteligência e de talento criativo.

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DO ESCRITOR gaúcho Alceu Krigg Ferreira: "Reproduzindo as significativas palavras que me enviou, encontro na sua pessoa as mesmas preocupações próprias do homem que pensa, dignas do mestre que procura semear a verdade".


A. Tito Filho, 07/05/1975, Jornal do Piauí.

sábado, 21 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (2)

A "Antologia de Sonetos Piauienses", que Félix Aires organizou com talento para homenagear esta terra, abriga o soneto "Árvore Velha", concebido pela inteligência de Raimundo da Costa Ribeiro:

Árvore velha, esqueleto apenas,
chacoalhando ao vento
Fantasma dos passarinhos... Árvore velha, sêca,
miserável, moribunda, resquicio de vida.

Quem diria que nesta manhã
me surpreendesses, verde, coberta de fôlhas,
e tôda enfeitada de flôres amarelas?

Árvore renovada,
amiga dos passarinhos,
filha dos caprichos da natureza,

te acabrunhas, murchas,
floresces de nôvo, e eu envelheço,
sucumbo, e não floresço mais!...



A. Tito Filho, 24/09/1970, Jornal do Piauí.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (1)

Magnífica ficará a praça Da Costa e Silva. Tive a honra de selecionar, pacientemente, as dezesseis poesias do poeta que serão transcritas nos dezesseis painéis do logradouro cada um de um metro e setenta de altura por oito centímetros de largura. Foi difícil a seleção, pois o inspirado amarantino concebeu quase sempre no simbolismo, e era necessário que os versos fossem facilmente entendidos de todos. Parti da ideia de Deus, com três poemas de profunda beleza: , Esperança e Caridade (são os três poemas dos três primeiros painéis). Seguidamente, três sonetos: Mãe, Amarante (terra natal) e A Moenda (aspecto da vida piauiense). Após, trechos de quatros poesias, que retratam quadros do sertão: A Derrubada (da mata), A Queimada (da mata), O Inverno (renascimento da mata) e A Enchente (conseqüência das águas invernosas). Mais três sonetos com quadros da vida piauiense: A Balsa (transporte), A Caatinga (canto do homem no trabalho da moenda), O Aboio (canto do vaqueiro). Os três painéis seguintes homenageiam a grande inspiração do poeta, a saudade: A Saudade e Sob Outros Céus. Finalmente o décimo sexto poema para o último painel: o hino do Piauí, cuja letra lhe pertence.

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Já pronta para distribuição entre acadêmicos, intelectuais e entidades culturais a cadeira número treze da Academia Piauiense de Letras: biografias e analises da obra do patrono (Joaquim Ribeiro Gonçalves) e dos ocupantes (Antônio Ribeiro Gonçalves, Gonçalo de Castro Cavalcante e Clidenor de Freitas Santos)

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Juristas, magistrados, do Brasil e de várias nações prestam depoimento a respeito da grande obra de Geraldo Bezerra, reconhecido como o verdadeiro estruturador da Justiça do Trabalho, integrando-a no Poder Judiciário. Diga-se que o eminente brasileiro é um dos conspícuos cultores do direito, autor de obra louvada e de mérito indiscutível.

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Já está pronto mais um livro humilde de minha autoria intitulado "Crônica da Cidade Amada" (Teresina). Devera ter circulação em dezesseis de agosto deste ano (cento e vinte e cinco anos da fundação da cidade de Saraiva).

A. Tito Filho, 17 DE JUNHO DE 1977, Jornal do Piauí.