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terça-feira, 15 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (71)

DA CORRESPONDÊNCIA - Com pedido de publicação, recebo, com data de 18.1.70, o seguinte, que me envia Antônio nobre, sócio-gerente de DILERTEC:

"Por incrível que pareça ainda estamos vivendo em Teresina uma época que não sei se deve receber o nome de pré-histórica ou de Idade Média. Vamos aos fatos: hoje, pelas onze horas da manhã, mais ou menos, recebo aqui na Livraria a visita de um cidadão à paisana e de dois outros da Polícia Militar do Piauí. O civil, já de certa idade, diz-me: “É proibido botar banca no passeio. O passeio não pode ser interrompido" - arrematou.

"Para govêrno e esclarecimento do leitor, e de quem mais interessar possa, explicarei que não se trata de banca, dessas que muitos botam por aí. A banca que está diariamente aqui na porta da livraria Dilertec é uma modesta banquinha feita de madeira, em cima da qual se colocam livros. É de notar que referida banca não ocupa na calçada, mais do que um terço dela, e a cabeça tem apenas dois míseros metros de largura.

"Os livros expostos em cima da banca são de caráter didático e pedagógico e técnico, à disposição e ao alcance de todos, por preço de promoção, e de estímulo à juventude, que muitas vêzes, sem tempo para entrar nas livrarias, toma conhecimento das novidades mais facilmente.

"Em Teresina há bancas e mais bancas por tôda parte, que vendem até antipáticos remédios contra picadas de cobras, vendem frutas, doces, e mais que seja, mas bancas de livros devem ser proibidas, como está lendo o professor".

OBSERVAÇÃO. É triste quem em Teresina ainda se registrem episódios como o que relata o sr. Antônio Nobre. Pois em Paris e na Guanabara, para citar dois centros civilizados. O govêrno manda espalhar bancas de livros por tôdas parte.

AS NOTAS

1) Para orientação de Eliseu Guimarães Rocha: Mohenjo Daro e Harappa não são propriamente cidades. Constituem sítios ou regiões da Índia, em que pesquisas e descobertas arqueológicas positivaram restos de sete cidades, com a idade de três mil anos antes de Cristo. As escavações revelaram nelas numerosas casas, com portas, janelas, banheiros, piscina. Ruas amplas e retas, com esgotos. Parece que os habitantes tinham capacidade planejadora e construtora.

2) Morreu Bertrand Russel, que tanto se distinguiu na luta por dois objetivos: a paz e a dignificação da família.

3) Félix Aires estêve em Caxias. Recebeu homenagens de Vitor Gonçalves Neto e da sociedade caxiense. Também o homenageou, com almôço no Aeroporto, o acadêmico e procurador Darcy Araújo.

4) Inauguração a filial da Casa do Criador, mais um serviço de Karam Cúri à coletividade teresinense. Grato a distinção do convite para a solenidade.

5) Do "Jornal do Brasil", edição de 28.170: "O atual vice-governador do Piauí, João Clímaco de Almeida, figura entre os pretendentes fortes ao govêrno daquele Estado, nas eleições indiretas dêste ano. O governador Helvídio Nunes pretende desincompatibilizar-se para ser candidato ao Senado".

6) A Associação dos Cegos do Piauí promoverá dois bailes carnavalescos no Clube das classes Produtoras, em benefício da entidade. Dias 7 e 9 de fevereiro. Mesa para os dois bailes: vinte e cinco cruzeiros novos. Para um baile: quinze cruzeiros novos.


A. Tito Filho, 31/01/1970, Jornal do Piauí

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (70)

DA CORRESPONDÊNCIA - De Berlim, manda-me Cláudio Mota de Almeida bonito cartão com êstes escritos (data de 5.5.70): "Prezado professor. Agradeço-lhe profundamente, os incentivos que muito me animaram para vir à Europa em busca de aperfeiçoamento profissional. Hoje, decorridos alguns dias de curso, posso assegurar-lhe que acertei. A Fundação Alemã para os países em Desenvolvimento é local de estudos realmente valiosos, no campo da administração. A partir de setembro, terei oportunidade de observar, nas principais cidades, o funcionamento dos diferentes tipos de organização municipal existentes na República Federal da Alemanha.

No início de janeiro vindouro, estarei de volta, em Teresina, com a certeza de continuar merecedor das emoções do estimado".


AS NOTAS

1) Hardi Filho, nome acatado da poesia nordestina, amigo cá do coração, entregou-se magnífico estudo a respeito de Celso Pinheiro. Título do trabalho intelectual: O Poeta da Dor. Será publicado numa das próximas edições da Revista da Academia Piauiense de Letras.

2) Outro trabalho de muita segurança acabo de ler: pesquisa social e econômica em vários municípios piauienses, realizada por um jovem de invulgar capacidade de observação: Paulo B. Sá.

3) De Altevir Alencar, com data de 7.5.70: "Recebi carta do poeta Roosevelt da Silveira solicitando publicações minhas e tecendo rasgados elogios à sua pessoa, à pessoa de Tito Filho, orgulho da minha terra. Também recebi solicitação do Dr. Aron Menda, de Pôrto Alegre, reclamando publicações minhas. Êle vai incluir-me numa antologia de poetas vivos do Brasil. Igualmente, do poeta Aparício Fernandes, colocando-me noutra antologia de trovadores nacionais. Dos amigos do Piauí o único que ainda me escreve é você".

4) De Maria Helena de Sousa Martins, do Recife, com data de 16.4.70: "Soube da ameaça de sêca no interior do Estado e sinto muito que isto ocorra porque essa pobre gente não merece tanto sofrimento".

5) Recebo um pronunciamento do ilustre Deputado Sousa Santos, como sempre criterioso na apreciação de fatos dos mais alto interêsse nacional. Linguagem escorreita. Desta vez analisa a visita de Missão Econômica da Holanda ao Brasil.

6) Da professôra Francisca C. Ferreira Lima, em data recente: "Estou orgulhosa com a sua ida para a Secretaria da Educação. Parabéns ao governador do Estado".

7) De H. Dobal, poeta piauiense que o Brasil aplaude e admira, recebo o seu último livro O dia sem presságios. Grato. Comentário depois da leitura.

8) Li os originais de poesia e prosa, escritos cívicos, patrióticos, de Lino da Fonseca. Título: Acorda, Nordeste.

9) O II Encontro Científico dos Estudantes de Medicina da Universidade Federal do Ceará e do Centro Médico se encarecem que as delegações confirmem a presença em Fortaleza até o dia 30 de maio (ontem). E mais: que os promotores do Encontro só se responsabilizam pela estada e refeições das delegações que tenham confirmado presença; que cada delegação deverá ser composta, no máximo, de dez membros; que a hospedagem e alimentação são gratuitas; que os delegados deverão chegar a Fortaleza entre 11 e 13 de julho de 1970, e procurarão a sede da Secretaria do Encontro, na rua Pedro I, nº 997.


A. Tito Filho, 31/05/1970, Jornal do Piauí

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (69)

DA CORRESPONDÊNCIA - Do causídico inteligente e culto José Nicod*mos Ramos, em data de 20.2.70, de Brasília: "Arimathéa, meu abraço. Acuso recebida a bem elaborada Revista da Academia Piauiense de Letras, edição comemorativa do cinqüentenário de um sodalício que em mais de meio século de profícua existência intelectual se há firmado na simpatia e no conceito do povo piauiense, nada ficando a dever, pela sua estrutura e organização e pela magnitude dos cultos que a integram - quais luzeiros da glória e da imortalidade - às suas demais congêneres de outros Estados da Federação.

"Li e reli suas páginas, detendo-me sobremodo no discurso de sua posse, verdadeira obra-prima, de oratória e de literatura, pela graça e leveza de um sitio que o credenciam e o qualificam como jornalista e escritor aprimorado, cuja pena se há colocado, no curso de sua vida, a serviço da Academia e das Letras de nossa terra.

"A leitura de páginas tão belas dominou-me a emoção, demorando-me na análise e na crítica desenvolvida pelo nôvo Acadêmico sôbre a personalidade e a vida de seu ilustre e saudoso pai, meu ex-professor, civilista dos maiores que conheci, individualidade marcante nas letras jurídicas e literárias do Piauí. Permita-me a digressão: ninguém mais honrou o magistério e a judicatura, emprestando a sua extraordinária colaboração e inteligência a serviço da sociedade e da comunidade  a que serviu, com dedicação, com amor, com coragem cívica e moral e invulgar brilhantismo.

"A Revista focaliza, pelos discursos que nela se contém, cada qual mais joeirado e escorreito, quer do ponto de vista da linguagem limpa e pura, quer pelos conceitos, emitidos a respeitos dos que dela fazem parte aspectos e facetas interessantes, ângulos e contornos que me deleitaram o espírito e a acuidade intelectual.

"Parabenizo-o, pois, pela feitura e elaboração da obra, permitindo-me ainda lembrar-lhe transmitir aos demais componentes da direção da Casa, em particular ao meu dileto amigo e colega Celso Barros, os votos e os desejos de prosseguimento no caminho e na senda traçada por essa nobre e tradicional Casa, desde os idos de 1917".


A. Tito Filho, 21/03/1970, Jornal do Piauí  

* Apagado no original

terça-feira, 8 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (68)

EXCEPCIONAIS - Palavras que pronunciei, em Parnaíba, na solenidade de criação da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (gravação em fita magnética e cópia de Fernando Mendes): "Tanto se gasta neste país com futilidade, tanto se dissipa com o supérfluo, com o luxo demasiado, com as festas freqüentes, a ponto de a gente ouvir de uma comissão organizadora do plano integrado de Teresina, dialogando com essa comissão, como tive oportunidade de fazer, que Teresina, no Brasil, é a cidade que mais atira dinheiro fora com o desnecessário. Quantas vêzes gastamos com o supérfluo e nos esquecemos de que poderíamos resolver muitos problemas educacionais da comunidade. Se cada um de nós desse um grão, um pouco do pouco que a gente tem para ajudar as unidades educacionais, se a gente tivesse uma caixa escolar que funcionasse não só com a virtude financeira dos alunos, mas dos comerciantes, dos industriais, dos médicos, dos professôres, de todos, os problemas materiais das unidades escolares estariam resolvidos, até o ambiente de higiene das escolas sofreria modificações. Todos nos só trabalhamos bem em ambiente funcional. e aqui está o professor Cordão com o seu apêlo. Ele não quer ajuda financeira da prefeitura de Parnaíba. Êle precisa da comunidade parnaíbana, aquela que nunca faleceu e não é Possível que faleça nas suas responsabilidades de ajudar a educação em todos os seus aspectos, e principalmente naquele aspecto mais humano, que é salvar o excepcional, para que êle não seja uma fonte de humilhação para a própria família. E basta que nós queiramos, basta que nós o ajudemos. Muito obrigado ao prefeito João Silva, cujos méritos tanto proclamo e tanto reconheço, e a esta comunidade de educadores".

AS NOTAS

1) Visitei Campo Maior. Fiz levantamento ali das necessidades das unidades escolares. Recepção cativante das educadoras. Muita receptividade do prefeito Raimundo Andrade, sempre preocupado com os problemas educacionais.

2) Estive também em visita a Alto Longá. Já estamos procurando recuperar as unidades escolares daquele município. Beneditinos, de outro lado, mereceu atenção da Secretaria de Educação. Grupo escolar da cidade em péssimas condições de funcionamento. Vai ser recuperado.

3) Estive em Salvador, mas não me foi possível participar do Congresso de Jornalistas, pois compromissos inadiáveis reclamavam a minha presença em Teresina. Mas na capital baiana deixei uma representação inteligente e vontadoso de jornalistas, integrada de corpo e alma nos trabalhos da reunião. Chefia (e boa) de Deoclécio Dantas. Integrantes: Rodrigues Filho, Araújo Mesquita, José Trabulo, Thedy Ribeiro, Al Lebre, J. Miguel de Matos, Edite Anunciação Carvalho, Macário Oliveira.

4) Em Recife, participei dos debates a respeito da televisão e do rádio a serviço do curso de madureza. Presença de oito secretários de Educação do Nordeste. Presença de Gilson Amado. Solicitude permanente de Leonides Filho.

5) Mensagens de fé e de coragem do Presidente Médici foram publicadas com o título de "O Jôgo da Verdade", verdadeira cartilha de civismo.

6) dialoguei mais de duas horas com o conselho de Educação do Piauí. Presidência segura e correta de José Gayoso Freitas. Membros ilustres presentes: Paulo Nunes, Ribamar, Delfina Boavista, Clemente Fortes, Padre Airemorais, Itamar Brito, Benjamin Carvalho. Ao final, a orientação da Secretaria de Educação mereceu palavras elogiosas de mestre Clemente, de Paulo Nunes, do Presidente do Conselho.


A. Tito Filho, 09/09/1970, Jornal do Piauí

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (67)

COMENTÁRIO - Lilizinha Castelo Branco de Carvalho, romancista consagrada, escreve por esta forma a Judith Santana:

"Seu livro SALMOS DE MEU DESTINO é um encanto e, ao lê-lo, veio-me à memória uma antiga lenda chinesa sôbre o imperador YU, mas mais conhecido como o Filho do Sol.

YU, sentado no trono de dragão, tinha ao lado, como conselheiro, o Espírito da Humanidade.

De tôdas as partes do universo lhe chegavam presentes valiosos em mostra de reconhecimento pelo grande valor que possuía. Entre eles, encontravam-se uns carimbos de letras para a formação de escritas. O imperador admirou a invenção e indagou ao conselheiro se o mundo seria mais feliz com aquêle invento. O conselheiro então lhe disse:

- Filho dos Céus, imperador, se antigamente as mentiras e verdades se esvaneciam no ar, esta invenção as fixará e eternizará.

E agora lhe digo eu, Judith Santana, sôbre o livro que acaba de publicar.

Passem os anos que passarem, os seus versos a eternizarão pela beleza pura e sincera que se sente ao recitá-los. São como reminiscências de acontecimentos fixados por você na alma sonhadora e um tanto tristonha que possui.

Perdoe-me a maneira de expressar, mas fique certa de que mais vale uma tristeza lembrada do que um prazer esquecido.

Agradeço-lhe ter-se recordado de remeter-me um exemplar de seu livro de estréia e acredite desejo, de todo o coração, continue a produzir, para nosso deleite, frutos da inteligência privilegiada que Deus lhe deu".

AS NOTAS

1) De Ismael Santana, com data de 20.05.70: "O nome do confrade, como legítima expressão da cultura nacional, será uma garantia de grandes realizações para o setor cultural e educacional de nossa comunidade. Por tudo isso, alguém de bom senso poderia admitir contrariasse o convite honroso do atual governador para assumir a direção da aludida pasta, justamente quando o seu nome já se identifica com o da própria Secretaria de Educação na evolução da cultura piauiense".

2) Segura interpretação de fatos históricos é êste discurso de Sousa Santos: "Vocação Democrática das Forças Armadas" - pronunciado no dia do 25º aniversário do fim da II Grande Guerra. Análise sociológica das causas do conflito. Participação dos pracinhas brasileiros. O esforço de guerra da Marinha, da Aeronáutica e do Exército. Discursos assim dignificam o deputado pela justiça com que homenageou os soldados brasileiros.

3) Joaquim Castro Aguiar envia-me do Rio, com sensibilizadora dedicatória ("expressão da cultura piauiense") o "Servidor Municipal", obra de mestre, lançada pela Konfino. Castro Aguiar, romancista, meu antigo e notável aluno, entrou agora no estudo de direito. Livro de lições claras, que, oportunamente, comentarei. Grato.

4) De Picos, manda-me João Libório êste telegrama: "Sinceras congratulações investidura Secretaria de Educação que ficou enriquecida por sua notória cultura e inteligência fulgurante".

5) Ibrahin Sued gosta de dizer: "Os cães ladram e a caravana passa".

6) Altevir Alencar remete-me "Sentinelas da Amazônia", revista de civismo.

7) Mais uma edição de "Jornal Literal" recebo, sempre agradável de notícias e de reportagens. Grato ao confrade Luís Alves de Sousa.

8) Do Dr. Mário Carvalho: "Parabéns justa investidura".

9) De Vitalino de Alencar Bezerra: "Elusivamente lhe envio-lhe o meu abraço de congratulação pela alta investidura nas funções de Secretario de Estado da Educação e Cultura. Até que enfim, no Piauí se escolheu o homem certo para o lugar certo".


A. Tito Filho, 06/06/1970, Jornal do Piauí

domingo, 6 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (66)

A CONCEPÇÃO - De Pierre Monbeig: "A rapidez com que, no Brasil, nascem, desaparecem ou se deslocam os tipos de cultura impede qualquer arraigamento do homem. Apenas os Estados do Sul parecem mais evoluídos, ou mais exatamente em vias de evolução para a formação de uma democracia campesina. Como já foi demonstrado no caso de São Paulo, a pequena propriedade, se está longe de ser a regra, não é mais desconhecida: a variedade de culturas é muitíssimo mais marcada, as estradas e caminhos garantem comunicação regular com os centros de população. Dessa maneira assiste-se ao comêço de dispersão das casas, modificando-se rapidamente a paisagem geográfica". (Ensaios de Geografia Humana Brasileira - 1940 - página 181).

AS NOTAS

1) Hóspedes do Hotel do Piauí receberam ordem escrita da Secretaria de Viação e Obras Públicas: desocupação dos cômodos de moradia dentro de vinte e quatro horas. Caso contrário, a intervenção policial seria imediata e violenta. Os ameaçadores foram a justiça, e o nobre juiz Paulo Freitas deu-lhes liminar no mandato de segurança. Garantiu-lhe a hospedagem e condenou, assim, a violência que se pretendeu praticar. Êsses hóspedes são pessoas educadas, de elegante cavalheirismo e nenhuma objeção fariam a uma retirada amigável, dentro em prazo razoável. E não creio que a autoridade do governador do Estado e do Secretário Adalberto Correia Lima possam ter consentido na demonstração de fôrça desnecessária.

2) Posse da nova Diretoria da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais, sob a presidência de irradiante otimismo, de permanente distinção. Duarte Rosa comandou a solenidade emprestando aos trabalhos a ajuda de sua experiência e de seu constante devotamento aos interesses da coletividade. Recebia as sugestões e as dignificava com novas sugestões, harmoniosamente. Presenças de Lima Cordão (reeleito secretário), Francisco Figueiredo, Ludgero Raulino, João de Deus Lima, Álvaro Brandão Filho, José Eduardo Pereira, Tarso Carvalho, Selemérico Carvalho, Tito Filho (todos reeleitos para o Conselho Deliberativo). Presença da professôra Maria do Rosário Lemos, e a respeito de Maria do Rosário Lemos esta coluna fará referências noutra oportunidade. Amanhã, talvez.

3) Várias obras públicas entregues à coletividade de Altos pelo prefeito José Gil Barbosa, cujo esfôrço administrativo mereceu elogios gerais, no último sábado. Grato ao convite para as solenidades de inauguração.

4) Agradecido à mensagem de Natal que me mandaram o Sindicato dos Empregados do Comércio de Teresina, Afonso Carvalho, o casal Eurípedes Carvalho, José Ribamar de Matos e Hélio Passos.

5) Empossada a nova Diretoria da Associação dos Cegos do Piauí. Solenidade muito concorrida. Grato ao convite.

6) Para orientação de Luiz Gonzaga dos Santos Rêgo: método é a direção que a gente imprime aos próprios pensamentos a fim de investigar e demonstrar a verdade. Também para classificar as verdades e ensinar as verdades aos outros. De modo geral há três espécies de método: inventivo (o que descobre a verdade, apoiando sôbre o princípio da autoridade, e ainda das revelações místicas e da razão); o sistemático (prova da verdade) e o didascálico (transmissão dos conhecimentos às gerações). Regras principais do método: não aceitar como verdadeiro o que não esteja provado, dividir as dificuldades em parcelas, conduzir o pensamento pelo conhecimento das verdades mais simples, nada omitir, nunca abandonar as verdades já provadas.


A. Tito Filho, 13/01/1970, Jornal do Piauí

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (65)

A CONCEPÇÃO - De J. Pereira: "Por que inferninhos? Porque, fechado com tabiques e divisões internas, luz morta, os seus interiores passam a ser palco dos mais ignominiosos espetáculos de degradação moral. Transformaram-se em foco de vício, da prostituição, locais onde o aviltamento dos costumes e da própria condição humana encontrava ambientes favoráveis". (Polícia, Justiça e Inferninhos - edição de 1960 - página 14).

AS NOTAS

1) De São Paulo, com data de 5 de maio, João Bosco de Andrade manda dizer-me: "Fiquei feliz no dia em que o ouvi a primeira vez, e ainda estou agradecido pelo livro O Idioma Nacional, do grande Antenor Nascentes, com o senhor me presenteou. Ufano-me de confessar que fui eu quem lhe fêz a indagação a respeito do sujeito do primeiro verso do hino nacional".

2) Félix Aires está visitando, mais uma vez, Santa Catarina. Escreve de Joinville (29.4.70): "Novamente aqui, para uma reportagem. Nestes dias viajarei a São Francisco do Sul, Bruisque e Blumenau".

3) Recebi da editôra Laudes "A Experiência da Guanabara", livro  que resume as principais medidas de administração e de economia orientadoras do govêrno Negrão de Lima.

4) Deliciei-me com uma antologia de baianos, organizada pelo talento crítico de Antônio Olinto. Desfile de uma geração de escritores na presença de variados e complexos problemas humanos e sociais. Nome do livro: "Doze Contistas da Bahia". Presente de Jackson Moreira. Grato.

5) Osvaldo Lemos envia-me a notícia, do Rio: "Depois de chegar ao Rio de Janeiro, tive a sorte de encontrar o escritor e editor Moacir Lopes. Para minha maior satisfação, além de tôda uma acolhida sincera e amiga. Moacir está reeditorando aquêle livro de Ludwig Schewenuhagen, a "Antiga História do Brasil", e necessita do apoio de todos os intelectuais piauienses. Moacir atualmente, é dos maiores ficcionistas do Brasil. O carinho com que êle tem olhado o nosso problema de cultura merece a mais fiel estima e a mais esforçada acolhida dos piauienses. Irei à TV-Tupi para dar entrevista sôbre meu livro "Redação Dinâmica". Moacir deseja também publicar obra de Tito Filho".

6) Recebo de Altevir Alencar presente régio: "Guerra Silenciosa", de Robin Clark, "Antologia de João Brigido", de Jáder de Carvalho.


A. Tito Filho, 15/05/1970, Jornal do Piauí

terça-feira, 1 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (64)

DA CORRESPONDÊNCIA - Do poeta Clóvis Moura, de são Paulo, com data de 4.2.70:

"Caro Tito Filho.

Terminei um livro de poesia, Manequins Corcundas, mas agora, em face da censura prévia, a publicação parece ser bem problemática, não pelo conteúdo do livro em si, mas porque prefiro não publicá-lo a vê-lo submetido a censores. Parece que esta será a posição da maioria dos escritores brasileiros, que estão aderindo a um movimento iniciado por Érico Veríssimo e Tristão de Athayde nesse sentido. Como você vê cada dia que passa ser escritor no Brasil se torna um ato de heroísmo maior. Não sei como vocês aí encaram o assunto e se já tomaram alguma posição. Aqui em São Paulo a grita foi geral, não apenas por parte dos escritores, mas dos editores também. Todos os editôres, a Câmara Brasileira do Livro, a Academia Paulista de Letras, a União Brasileira dos Escritores e inúmeras outras entidades culturais protestaram contra a medida. Inúmeros foram os pronunciamentos individuais de escritores, teatrólogos, artistas em geral. De tudo isto fica um gêsto amargo de frustação, pois a criação literária deveria ser a mais livre das criações".

AS NOTAS

1) Miséria e fome é o quadro do interior do Piauí. E o governador reconheceu a situação de calamidade pública. Faz um ano que grito nos rádios e protesto nos jornais contra o abandono da agropecuária pelos prefeitos. Nesta terra, só se inauguram, nos municípios, comissaria dos policiais, cadeiolas, parques infantis, calçamento. Há exceções raras. Resultado: escassez de chuva, sem que ninguém esteja preparado para enfrentar o problema.

2) Mauro Júnior promoveu bonita e concorrida festa de homenagem a personalidades que sobressaíram em 1969. Grato ao inteligente cronista pelo convite e pela inclusão de meu nome entre os contemplados.

3) De Hélio Passos, com data de 2.4.70: “Soube da atitude de Rádio Clube para com você. Antes de mais nada, devo solidarizar-me com o velho e precioso amigo, tão acostumado a injustiças, tão acostumado a receber o que jamais mereceu. E isso em troca de serviços prestados diuturnamente à cultura do Piauí. Fôsse você um mau elemento, subserviente, um puxa-saco, talvez as coisas lhe saíssem de outro modo. Ganharam os poderosos. Perdeu o Piauí uma das pouquíssimas chances de ouvir as lições de um homem inteligente e culto, através de um programa que rapidamente se firmou como o mais conceituado dessa terra. Que tristeza! Enfim, mestre, você há de continuar brilhando, com rádio ou sem rádio. Em tôrno do que houve, e por causa do que houve, torna-se cada vez mais urgente a criação de um PRÊMIO IGNOBEL".


A. Tito Filho, 17/04/1970, Jornal do Piauí