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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (9)

CLÓVIS MOURA - Este grande nome da poesia brasileira, piauiense de nascimento e de coração, mandou-me, de São Paulo, mais esta concepção poética:

PÁSSARO PRETO

Na caatinga ou chapadão
ele aparece na certe
- bico, asas, crispação -
com silhueta completa
menos carne que esqueleto
- pássaro prêto.

Ao longe, ao pé da rastinga,
de água pouca e muito suja
um grito se escuta e vinga
com voz de medida acústica
que rasga o centro do peito
- pássaro prêto.

O homem com água e o drama
que lava as léguas da vida
sente a língua carcomida
por um soluço que lembra
voz de defunto no peito:
- pássaro prêto.

Na caatinga ou chapadão
Me aparece na certa
- grito, luta, crispação -
igual ao pássaro prêto
com silhueta completa:
- o poeta.

AS NOTAS:

1) A direção da Livraria José Olímpio Editora comunica-me que realizará, até dezembro, "uma arrancada editorial" para todo o Norte e Nordeste do Brasil. Representantes da emprêsa já se encontram em Teresina.

2) De Maria Helena de Sousa Martins, do Recife, com data de 27.8.70: "Fiquei feliz com a designação de seu nome para a Secretaria de Educação do Piauí: apenas uma retribuição pequena ao inestimável esfôrço que o senhor vem desenvoilvendo, há tantos anos, pelo soerguimento intelectual, moral e até espiritual da juventude piauiense. Não é demais lembrar a quantos transpuseram as luzes do seu magistério, os beneficios que dele emanam, e emanam sempre, em têrmos de idealismo e combatividade. Da sua fé nos bens eternos, e da sua ação como resultado dele, muitas potencialidades têm se feito voz, atitude, fôrça, enfim, têm cumprido o seu destino, calcados no seu exemplo de homem inteligente, justo e bom. As recompensas materiais, que seguramente o cumulariam em outros lugares, por onde fôsse, não o comprometeram diante do seu povo, porque a sua luta permanente e êle, em apoio aos seus valores. As recompensas lhe têm chegado aos poucos, suavemente, sob a forma de solidariedade, de reconhecimento ao seu trabalho, o que a um homem bom faz tornar-se melhor ainda".

3) Assis brasil, aplaudido mestre da ficção neste país, manda-me "O Salto do Cavalo Cobridor", "Pacamão", "Beira Rio Beira Vida" e "A filha do Meio-Quilo", romances. Muito grato. Comentários depois da leitura.


A. Tito Filho, 16/09/1970, Jornal do Piauí.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (8)

DA CORRESPONDÊNCIA - De Piripiri, a poetisa Judith Santana, cujo coração vive em festas de bondade, escreve, com data de 3.6.70:

"Caro mestre. Com a intenção de homenagear sua mimosa Scarlettinha na data festiva de seu primeiro aniversário, envio-lhe êste sonêto:

No aniversário de Scarlett O'Hara
Que hoje completa um ano em sua vida,
Tento escrever alguma coisa rara
Para uma oferta justa e merecida.

Ó Scarlettinha - flor mimosa e cara,
No seu jardim de amigos tão querida
A inspiração que eu tanto desejara
Em vão busquei na musa preferida!

E assim, querida amiga, em tua festa
Êste sonêto é uma oferta modesta
De um coração que pede a Deus por ti.

Para que sejas bem feliz na vida:
A princesinha sempre mui querida
De Arimathéa Tito Filho e de Delei".

AS NOTAS:

1) Do confrade estimado Alberoni Lemos: "Foi com justa alegria que vi seu nome escolhido para a Secretaria de Educação. E tá de parabéns a mocidade estudiosa de nossa terra. Honra a um Governo que soube dignificar a cultura tão bem representada em sua pessoa".

2) Do Tenente Coronel José Augusto Resende recebo duas edições da excelente "Revista Didática do Colégio Militar do rio de Janeiro". Grato.

3) De Sônia da cunha e Silva: "Tenho a honra de congratular-me com a sua escolha para ocupar as altas funções de Secretário da Educação".

4) João Bosco, com data de 15.5.70, manda dizer-me de São Paulo: "Notícias funestas, tristes, provenientes do Nordeste, particularmente do nosso Piauí, eram manchetes nos jornais paulistanos, deixando-nos condoídos".

5) De Parnaíba, o confrade ilustre Ranulpho Tôrres Rapôso envia-me telegrama: "Satisfeito parabenizo prezado amigo merecida nomeação Secretário Educação. Estou certo pleno desempenho função tendo em vista sua brilhante inteligência e capacidade".

6) Soube da elegância e distinção da festa de Socorro Falconery, no Piauí Esporte Clube. Nome da bonita convivência social: Máxi Noite. Dela recebi certificado como intelectual máximo de 1969. Bondade excessiva da jovem e inteligente cronista. Grato.

7) De Mundica Pimentel Ferreira: "Contenttissima apresento-lhe parabéns investidura nessa Secretaria Educação augurando-lhe feliz gestão. Confiante sua sábia orientação esperamos melhores dias para sobrevivência mal compreendida e sempre espezinhada classe professor primário".

8) De Lino da Fonseca: "Receba e o nosso Piauí sincero abraço de parabéns pela nomeação para Secretario de Educação. Valeu sua inteligência".

9) Do simpático e digno Ney Ferraz Neto: "Aceite nossos cumprimentos e votos de grandes realizações no importante cargo de Secretário da Educação".


A. Tito Filho, 05/06/1970, Jornal do Piauí.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (7)

VITÓRIA - Castro Aguiar (Joaquim), muito jovem ainda, é dos melhores lutadores intelectuais que conheço. Reside hoje no Rio, mas aqui deixou traços de inteligência bem cultivada. Deu a vida literária do Piauí dois romances, de boa linguagem literária, estilo vivo, colorido, conteúdo psicológico e social merecedor de analise e estudo. Comentei-os quando do aparecimento de ambos. Na terra carioca, Castro Aguiar dedicou-se ao Direito, alimentando-se de aprofundadas leituras para a seriedade da interpretação de leis reguladoras de direitos e deveres do servidor público, notadamente o servidor municipal. E escreveu "O Servidor Municipal", apoiado sôbre a melhor doutrina, na jurisprudência mais atualizada - livro sério que revela o jurista, o sociólogo, o hermeneuta. Mandou-me exemplar cuja leitura agora encerrei para aumentar conhecimentos com tantas lições de ordem, da disciplina, de orientação jurídica relativamente a tantas questões controvertidas, que Castro Aguiar debate, esclarece, jurídicas nacionais e o Piauí sente a projeção de resolve. Enriqueceram-se, com a obra, as letras mais um filho ilustre.

AS NOTAS:

1) João Bezerra da Silva, sempre a serviço do Livro, incentiva-me com esta mensagem: "Ao ilustre chefe e dedicado amigo de todos compartilhamos jubilosos data natalício desejando votos perenes felicidades com elevada estima da Editora Piauí Limitada".

2) Prêmios valiosos foram distribuídos pela Delegacia da Receita Federal (José Ribeiro Gonçalves), em expressiva solenidade na Rádio Pioneira. Presença de diretores de grupos escolares, professôres, pais e mães dos premiados no concurso promovido pelo Ministério da Fazenda e coordenado, em todo o Piauí, pela Secretaria de Educação (Cecília Mendes). Os alunos contemplados estudam em Teresina, Parnaíba, Picos, Campo Maior, Floriano, Pedro II, Bom Jesus e Esperantina.

3) Da professôra Atelita Batista da Silva Amorim: "As Oficinas de Artes Industriais de Teresina e Parnaíba auguram-lhe os melhores votos pela passagem de seu natalício".


A. Tito Filho, 01/11/1970, Jornal do Piauí.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (6)

DA CORRESPONDÊNCIA - De Brasília, com data de um de agosto: "Expressamos, com prazer, os nossos agradecimentos ao notável jornalista pelo apoio que deu, em suas colunas e falas, à campanha em prol da Barraca do Piauí. Alcançamos êxito e, por isto, a direção da Casa do Candango elogiou a participação do Piauí na Festa dos Candangos. Ao manifestar-lhe o nosso profundo reconhecimento, desejamos-lhe pleno sucesso como Secretário de Estado de Educação e Cultura. aa) Inês Bandeira Gonçalves, Carmita Ramos, Maria Teresa de Almeida, Magnólia Nogueira Paranaguá de Santana, Antonieta Ferreira".

AS NOTAS - 1) O jornal "A Luta", de Campo Maior, de 2.8.1970, reclama contra a falta de equipamento do ginásio daquela cidade. Sem carteiras. Sem que possa funcionar. Pois fica a informação que mandei àquele vibrante órgão de imprensa: no dia 31 de julho, antes da edição do jornal, a Secretaria de Educação encaminhou todo o equipamento para que o educandário pudesse funcionar normalmente, como se encontra funcionando.

2) Indicamos para o lugar de Secretário Executivo do Movimento Brasileiro de Alfabetização no Piauí o professor Pedro Vasconcelos Filho, educador de reconhecidos méritos.

3) Na Casa Anísio Brito, por iniciativa dos seus orientadores (Herculano Moraes, Ruth Ferrez e Odélia Gonçalves), foram postos os retratos do ex-governador Helvídio Nunes, governador Clímaco de Almeida e prof. Simplício Mendes. Presidi à sessão, na qualidade de presidente da Academia Piauiense de Letras e proferi palavras a respeito da significação da Homenagem. Agradecimentos de Clímaco e de Simplício Mendes.

4) Aplaudida a festa folclórica piauiense, organizada pela Secretaria de Educação e Cultura. Instalação solene no Clube dos Diários. Presença de altas autoridades. Proferi palestra. Tema: Folclore. em seguida, exibição do Coral Nossa Senhora do Amparo, com declamação do notável Tarcísio Prado. Houve ainda exposição em grupos e colégios (trabalhos dos estudantes) e peça teatral de Gomes Campos no Teatro 4 de Setembro. Encerramento no Teatro de Arena. Agradecimentos a todos os que cooperaram, com esforço e inteligência, para o bom sucesso da promoção, que tem caráter nacional. A organização coube especialmente aos Departamentos de Educação Primária e Média do Estado. Dom Avelar dedicou crônica especial a esta festa de cultura. Ainda sobre o folclore: a Secretaria de Educação e Cultura vai premiar os melhores trabalhos escolares que se compuserem com o objetivo de estudar o folclore piauiense.

5) Do dedicado professor Melo de Floriano: "A sua palestra brilhante teve imensa repercussão em todas as camadas da sociedade florianense, e depois de uma semana da realização ouvem-se sempre comentários com grandes elogios".

6) O governador Clímaco de Almeida palestrou demoradamente com representante do Ministro da Educação, Deoclécio Dantas. Elvira Raulino e Secretário de Educação. Objetivo: turismo. Ofereci sugestão. Antes disse que a Secretaria de Educação não poderia arcar com as responsabilidades de um departamento de turismo. Melhor seria criar tal departamento diretamente subordinado ao governador do Estado, como se faz em Santa Catarina. Alvitre aceito. O departamento de turismo vai ser criado por essa forma.

7) Outra reunião com o governador: Dom Avelar, Secretários de Educação e de Saúde, Padre Pedro (Centro Social Cristo Rei) e Secretário Santos Rocha. Assuntos debatidos: problemas da Ação Social Arquidiocesana. Várias recordações urgentes do governador do Estado aos secretários presentes.

8) Bem organizadas as comemorações da Semana de Caxias. Palestras nos colégios de Teresina. Inauguração solene do Grupo Escolar Duque de Caxias, com palavra do Secretário de Educação e do Comandante da Guarnição Federal. Juramento dos novos soldados no Estádio Lindolfo Monteiro (espetáculo de civismo e beleza patriótica).

9) Muito festiva a solenidade de instalação do segundo período letivo da Escola Normal Antonino Freire. Realizei palestra sobre as responsabilidades da professora primária. Parabéns ao Diretor Maurício Camilo da Silveira.

10) José Walter manda-me interessante artigo a respeito de ingresso de mulheres (gratuitamente) no Estádio Lindolfo Monteiro (futebol). É contra esse ingresso. Cada cabeça, cada sentença.

11) Diz o "Diário de Notícias", do Rio, que Sousa Santos é o Pelé do Piauí.

12) Ainda o mesmo jornal acentua que a maior preocupação do governador Clímaco de Almeida é a instalação da Universidade do Piauí.


A. Tito Filho, 02/09/1970, Jornal do Piauí.     

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (5)

Faz dias, e comentei pelo rádio o assunto, dois mestres de português, um deles Bechara, lúcido sempre nos ensinamentos, prestaram declarações a "O Globo", do Rio, e com elas se manifestaram contra livros que acatassem termos de gíria, nas escolas. Adolescentes e jovens não deviam ler termos de gíria, sustentaram os dois professores. A gíria, porém, é sabedoria popular. Criação inconsciente das coletividades. O povo transfere significados de uma cousa a outra, por semelhança. Bofe é parte do animal que a muitos repugna. Bofe, na gíria, vale mulher feia, sem atrativos, que ninguém quer para amores. No meu modo de entender a gíria enriquece o idioma. Não se confunda, entretanto, gíria com calão, nem com linguagem iê-iê-iê. E para que a juventude, nas escolas, deixasse de ter contacto com a gíria, seria necessário subtrair dela notáveis livros da literatura nacional. Exemplos:

- Sente a falta do ARAME nas gavetas (Emílio de Meneses - "Mortalhas" - pág. 42).

-... ganhou hoje e levou uma BOLADA (Machados de Assis - "Outras Relíquias" - 27).

- Vai, BRUACA velha... (Simões Lopes - "Contos Gauchescos" - 146).

- O que vamos fazer, o casamento não é nenhuma CANJA (Afrânio Peixoto - trabalho intitulado "Outros Tempos").

- Meu avô materno, Francisco de Paula Rubim, mineiro. CASCA-GROSSA... (Humberto de Campos - "Um sonho de Pobre" - 133).

- Sob a presidência do Marechal Hermes tornou-se proverbial o CHALEIRISMO (João Ribeiro - "A língua nacional" - 76).

- Em primeiro lugar pagarei aqueles COBRES me devo (Artur Azevedo - "Contos efêmeros" - 61).

- As turcas acabaram EMBRULHANDO Alá Maomé (Medeiros e Albuquerque - "Por terras alheias" - 88).

- Este santo não passa de um ESTRADEIRO de marca (José Lins do Rego - "Pedra Bonita" - 343).

- Ficou de GALINHAGEM com o marido (Lins do Rego - "Pedra Bonita" - 305).

- Cortou cerce naquela MAMATA (Paulo Setúbal - "Marquesa de Santos" - 70).

-... estou namorando uma vizinha do sobrado fronteiro. É um PANCADÃO (Rodrigo Otávio - "Minhas memórias dos outros" - 203).

- Não foi igualmente bonito nem sumário o ROLO do largo de São Francisco... (Machado de Assis - "Crônicas" - 117).

São milhares os exemplos. Bastam os que ficam acima registrados. X X X RAIMUNDO Rosa de Sá escreve-me: "A política de valorização do artista teresinense anunciada pelo governo e posta em prática pela Fundação Projeto Piauí não corresponde a realidade. Não houve definição exata dos problemas da musica piauiense. A exibição de grupos folclóricos, os corais e a criação de bandas nos colégios não são expoentes da nossa cultura musical. Estamos com uma radiofonia ociosa nesse sentido. Não há estímulo a profissionalização do musico. Não há no Piauí leis que regulem a atividade profissional do músico". OBSERVAÇÃO. O autor das considerações que ora se publicam é jovem idealista, bom candidato a vereador. Discordo de algumas opiniões suas. Não vejo mal na extinção de grupos folclóricos, desde que sejam realmente FOLCLÓRICOS. São necessárias as atividades artísticas dos corais. As bandas de musica dos colégios pecam pelo excesso de treinamento e pela espécie de musica ensaiada e executada. E mais: a profissão de músico no Brasil está regulamentada pela Lei 3857, de 22 de dezembro de 1960. Finalmente: Raimundo Rosa de Sá, amigo que muito prezo, deve levar sugestões ao prof. João Ribeiro, do Projeto Piauí. Apenas a critica, não. A critica e a sugestão para que os problemas sejam resolvidos em beneficio da coletividade. X X X DE VEZ EM QUANDO se grita contra o meretrício. E fala-se de ação policial contra o meretrício, como se policia fosse o remédio. Estamos com Rui na condenação do jogador, mas temos pena do jogador, vitima do vicio. A prostituta é degradante, mas nos penalizamos das infelizes horizontais. Essas pobres mercadoras procuram no subsolo social pão e roupa. Compete a todos a ação para reabilitá-las, oferecendo-lhes oportunidades. O meretrício é problema social. Centenas de mariposas iniciaram a vida que levam por pouco dinheiro. A essas vitimas falta o mínimo afeto e a dose por pequena que seja de compreensão. A prostituta em Teresina reclama a atenção da sociedade, das instituições sociais acreditadas. Do Estado. De dom José Falcão. Dos protestantes. Jesus deu perdão a Madalena e mandou que ela se reabilitasse. Atenção de todos. Não se justifica mais o prostíbulo, o oferecimento da carne pelas ruas suspeitas. A mulher se torna prostituta por virtude da miséria. Não é prostituta por prazer neste século em que a mulher conquistou liberdade sexual. É chegado o instante de varrer da vida social a caridade paternalista do natal dos pobres. Do dia da mãe pobre. De examinar o gravíssimo problema da prostituição em Teresina.


A. Tito Filho, 22/10/1972, Jornal do Piauí.

sábado, 28 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (4)

De Orisvaldo Bugyja Britto, este comentário:

"Por volta de 1947, indo a São Luís, em viagem de passeio com demora de uns trinta dias, freqüentava, assiduamente, a Biblioteca Pública e a Livraria Universal, no Largo do Carmo, que já tinha o nome oficial de Praça João Lisboa com uma estátua do eminente jornalista e municipalista João Francisco Lisboa.

Na Livraria, que ficava no térreo de um dos sobradões de azulejo, de que muito se ocupa o acadêmico Josué Montello, eu sempre prosava com o seu proprietário Ramos de Almeida e com outro assíduo freqüentador - o professor, polemista e jornalista Nascimento de Moraes.

Já naquele ano, ele velho e trôpego, mas de lucidez admirável, nascimento de Moraes era, ainda, uma figura oracular e uma espécie de código a quem todos consultavam sobre fatos da vida histórica, politica e cultural do Maranhão e de sua velha Metrópole fundada em 1512 por Daniel de la Touche - o senhor de La Ravardière.

Interessante dizer que Nascimento de Moraes havia escrito e publicado em O IMPARCIAL em 1913, uma monumental critica com o título MARTINS NAPOLEÃO E O MOMENTO LITERARIO BRASILEIRO.

Esse trabalho foi transcrito aqui no Diário Oficial do Estado, e eu o havia lido e relido, como revisor e redator daquele órgão oficial.

Mas nas minhas andanças na Livraria Universal, de Ramos de Almeida, certo dia o livreiro me fez presente de exemplar da LIRA SERTANEJA, de Hermínio Castelo Branco, informando-me de já se achar esgotada a edição. Era uma brochura feia, mal paginada, composição em tipo manual - feia e anti-estética. Capa de papelão pardo e na primeira face desenhada uma lira (o instrumento musical) em amarelo.

Parte daí a grande diferença diante desta edição elaborada, corrigida, composta e impressa no governo do Sr. Alberto Silva. Diga-se mesmo que não há termo de comparação entre a edição Ramos de Almeida e esta do Governo piauiense atual.

Aquele exemplar antigo me foi pedido pelo comentarista de imprensa, já falecido, Eurípedes de Aguiar, que aproveitando alguns termos empregados por Hermínio, desancou um figurão da politica nacional aqui mandado como observador do então Presidente da República, nas questões do PSD e UDN.

Não só na feitura gráfica se nota a grande diferença entre aquela e esta edição. Agora surgiu um volume de rara magnitude em se tratando de livro simples de poesia brejeira ou matuta (brejeira é termo caipira). Tem a enriquecê-la o notável trabalho lexicológico do gramático José de Arimathéa Tito Filho que é, sem favor, a maior expressão literária, no momento, dentro desde 250 mil quilômetros quadrados do território do Piauí.

Lá fora temo piauienses brilhantes, porém, servindo a SANTA TERRINHA, com abnegação, vivencia e convivência por aqui ninguém supera Arimathéa Tito Filho. Outro trabalho digno de louvor nesta edição é esse escrito por Celso Pinheiro Filho, à guisa de prefácio. Veja-se a feliz coincidência: Arimathéa é barrense, filho de barrense; Celso Pinheiro é teresinense filho de barrense, ambos ilustrando a obra literária do barrense Hermínio Castelo Branco!

Nos versos de Hermínio Castelo Branco a gente sente o motivo, a ingenuidade de quase pureza do sertanejo, o seu meio, o seu ambiente social e a filosofia prosaica naquele viver feliz e tranqüilo. Hermínio fez a mais bela prosa em poesia - o que é cousa difícil.

O nosso caboclo sente isto, mas não sabe dizer, e Hermínio disse ou diz por ele. Vejam-se estas sextilhas a alma sertaneja em cantiga de São Gonçalo:

Eu ainda estando morto
De três dias enterrado,
Ouvindo tocar viola
E vendo o baião formado,
Arranco já dos infernos
Fedendo a chifre queimado

E para entrar no baião ou dança de pobre, que nas cidades se chama FORRÓ, Hermínio Castelo Branco enxerga na alma sertaneja isto, que ele pensaria de fazer quando a caminho ou à entrada da casa da festa:

Mato cem dum pontapé,
Duzentos dum empurrão,
Trezentos dum cocorote,
Seiscentos dum pescoção,
Carrega pra riba de mim,
Vem morrer sem confissão.

Na minha opinião - aliás desvaliosa - o vaqueiro do Piauí é diferente do vaqueiro dos outros estados. Ele é também lavrador e boêmio, como em Aparecida, cidade piauiense entre Jerumenha e Urucuí, Alto Longá, Castelo, São Pedro e Corrente de São Benedito, hoje chamada Beneditinos. Como tal, Hermínio Castelo Branco, não há (como) negar, tem no vaqueiro o fiel propagador, o indiscutível mensageiro de seus versos, de sua lira, como eu conheci antes de ler o livro, recitadas por crianças estas sextilhas:

Era no mês da mutuca,
Fins dágua vinha chegando,
Quando o gado sai da mata
Na carreira, escramuçando,
Se deram estas façanhas
Que eu por aqui vou contando
Nesse tempo dos prazeres

Do diligente vaqueiro,
Quando ferra suas sortes
Casa parta no chiqueiro,
E se o dono da fazenda
Não é sujeito estradeiro.

São versos que andam de boca em boca, tal qual os de Casimiro de Abreu, Raimundo Correia e outros, a modinha O GONDOLEIRO DO AMOR e muitas outras.

Em 1950, quando eu era o principal redator de ESTADO DO PIAUÍ, em mais uma fase de circulação sob a responsabilidade do destacado barrense Josípio Lustosa, desde maio de 1957, fiz uma carta-aberta naquele jornal ao então Governador Chagas Rodrigues, por sinal também parnaíbano, na qual sugeria ao Chefe de Estado reedição de obras notáveis de piauienses notáveis, principalmente. De autores não piauienses parece que lhe sugeri a CRONOLOGIA HISTÓRICA, de Francisco Augusto Pereira da Costa, editada uma única vez pelo Governo Anísio de Abreu, em 1908, e inteiramente esgotada. Falei, também da narração do Engenheiro Dodt, do Rio Parnaíba, com prefácio de seu neto Gustavo Barroso.

Citava eu obras de Clodoaldo Freitas, do célebre Engenheiro Sampaio - filho da Vila do Livramento, hoje José de Freitas, de Abdias Neves e de muitos outros filhos deste Piauí.

Como resposta às sugestões, obtive o silêncio. Certamente, creio, pelo desvalimento de quem sugeria. Veio-nos agora este outro parnaíbano para - sem que ninguém lhe pedisse ou sugerisse tamanha iniciativa - desbravar o assunto e exumar aquilo que se soterrava há longo tempo.

Alberto Silva é um governante de escol, que conquista o espírito de primeira grandeza que não o meu, que sou pequeno e não uso muito aproximar-se dos mais poderosos.

Mas não deixo de ser um dos seus admiradores incondicionais neste setor da vida pública e em alguns outros empreendimentos que Sua Excelência toma aos ombros num rasgo de liberdade e patriotismo.

A equipe que o ajuda é boa, magnífica e despretensiosa, como é o caso da Academia Piauiense de Letras, sob a égide de José de Arimathéa Tito Filho”.


A. Tito Filho, 02/12/1972, Jornal do Piauí.           

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (3)

Livros lidos e anotados:

A NOVA LITERATURA PIAUIENSE, de Herculano Moraes. História, crítica e antologia. Exposição de nossa vida literária por cortes longitudinais correspondentes aos distintos gêneros. O trabalho reclama ampliação. O jovem autor soube fixar a literatura desta unidade federada na sua totalidade cultural.

X   X   X

A QUEM QUEREMOS, SENHOR? , de Hugo Silva. Romance social, em que se praticam notáveis lições religiosas e políticas dos nossos tempos. Exemplos vivos de altruísmo e de abnegação. Obra de raro teor educativo de orientação, de formação da personalidade. Verdadeira enciclopédia de assuntos filosóficos e de profundos conhecimentos e de profundos conhecimentos do homem e da vida.

X   X   X

A PROVÍNCIA DESERTA, de H. Dobal. Um dos maiores poetas do Brasil de hoje, H. Dobal escreve como ninguém os versos de "A Província Deserta" - encantadores, plenos de vida e verdade, graciosos, bons de reler e decorar. Um poeta cantando, chorando e rindo. E berrando a melhor ironia que já se viu. Grande, irrevogável coleção de jóias de inteligência e de talento criativo.

X   X   X

DO ESCRITOR gaúcho Alceu Krigg Ferreira: "Reproduzindo as significativas palavras que me enviou, encontro na sua pessoa as mesmas preocupações próprias do homem que pensa, dignas do mestre que procura semear a verdade".


A. Tito Filho, 07/05/1975, Jornal do Piauí.

sábado, 21 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (2)

A "Antologia de Sonetos Piauienses", que Félix Aires organizou com talento para homenagear esta terra, abriga o soneto "Árvore Velha", concebido pela inteligência de Raimundo da Costa Ribeiro:

Árvore velha, esqueleto apenas,
chacoalhando ao vento
Fantasma dos passarinhos... Árvore velha, sêca,
miserável, moribunda, resquicio de vida.

Quem diria que nesta manhã
me surpreendesses, verde, coberta de fôlhas,
e tôda enfeitada de flôres amarelas?

Árvore renovada,
amiga dos passarinhos,
filha dos caprichos da natureza,

te acabrunhas, murchas,
floresces de nôvo, e eu envelheço,
sucumbo, e não floresço mais!...



A. Tito Filho, 24/09/1970, Jornal do Piauí.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CADERNO DE ANOTAÇÕES (1)

Magnífica ficará a praça Da Costa e Silva. Tive a honra de selecionar, pacientemente, as dezesseis poesias do poeta que serão transcritas nos dezesseis painéis do logradouro cada um de um metro e setenta de altura por oito centímetros de largura. Foi difícil a seleção, pois o inspirado amarantino concebeu quase sempre no simbolismo, e era necessário que os versos fossem facilmente entendidos de todos. Parti da ideia de Deus, com três poemas de profunda beleza: , Esperança e Caridade (são os três poemas dos três primeiros painéis). Seguidamente, três sonetos: Mãe, Amarante (terra natal) e A Moenda (aspecto da vida piauiense). Após, trechos de quatros poesias, que retratam quadros do sertão: A Derrubada (da mata), A Queimada (da mata), O Inverno (renascimento da mata) e A Enchente (conseqüência das águas invernosas). Mais três sonetos com quadros da vida piauiense: A Balsa (transporte), A Caatinga (canto do homem no trabalho da moenda), O Aboio (canto do vaqueiro). Os três painéis seguintes homenageiam a grande inspiração do poeta, a saudade: A Saudade e Sob Outros Céus. Finalmente o décimo sexto poema para o último painel: o hino do Piauí, cuja letra lhe pertence.

X   X   X

Já pronta para distribuição entre acadêmicos, intelectuais e entidades culturais a cadeira número treze da Academia Piauiense de Letras: biografias e analises da obra do patrono (Joaquim Ribeiro Gonçalves) e dos ocupantes (Antônio Ribeiro Gonçalves, Gonçalo de Castro Cavalcante e Clidenor de Freitas Santos)

X   X   X

Juristas, magistrados, do Brasil e de várias nações prestam depoimento a respeito da grande obra de Geraldo Bezerra, reconhecido como o verdadeiro estruturador da Justiça do Trabalho, integrando-a no Poder Judiciário. Diga-se que o eminente brasileiro é um dos conspícuos cultores do direito, autor de obra louvada e de mérito indiscutível.

X   X   X

Já está pronto mais um livro humilde de minha autoria intitulado "Crônica da Cidade Amada" (Teresina). Devera ter circulação em dezesseis de agosto deste ano (cento e vinte e cinco anos da fundação da cidade de Saraiva).

A. Tito Filho, 17 DE JUNHO DE 1977, Jornal do Piauí.