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terça-feira, 1 de novembro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (64)

DA CORRESPONDÊNCIA - Do poeta Clóvis Moura, de são Paulo, com data de 4.2.70:

"Caro Tito Filho.

Terminei um livro de poesia, Manequins Corcundas, mas agora, em face da censura prévia, a publicação parece ser bem problemática, não pelo conteúdo do livro em si, mas porque prefiro não publicá-lo a vê-lo submetido a censores. Parece que esta será a posição da maioria dos escritores brasileiros, que estão aderindo a um movimento iniciado por Érico Veríssimo e Tristão de Athayde nesse sentido. Como você vê cada dia que passa ser escritor no Brasil se torna um ato de heroísmo maior. Não sei como vocês aí encaram o assunto e se já tomaram alguma posição. Aqui em São Paulo a grita foi geral, não apenas por parte dos escritores, mas dos editores também. Todos os editôres, a Câmara Brasileira do Livro, a Academia Paulista de Letras, a União Brasileira dos Escritores e inúmeras outras entidades culturais protestaram contra a medida. Inúmeros foram os pronunciamentos individuais de escritores, teatrólogos, artistas em geral. De tudo isto fica um gêsto amargo de frustação, pois a criação literária deveria ser a mais livre das criações".

AS NOTAS

1) Miséria e fome é o quadro do interior do Piauí. E o governador reconheceu a situação de calamidade pública. Faz um ano que grito nos rádios e protesto nos jornais contra o abandono da agropecuária pelos prefeitos. Nesta terra, só se inauguram, nos municípios, comissaria dos policiais, cadeiolas, parques infantis, calçamento. Há exceções raras. Resultado: escassez de chuva, sem que ninguém esteja preparado para enfrentar o problema.

2) Mauro Júnior promoveu bonita e concorrida festa de homenagem a personalidades que sobressaíram em 1969. Grato ao inteligente cronista pelo convite e pela inclusão de meu nome entre os contemplados.

3) De Hélio Passos, com data de 2.4.70: “Soube da atitude de Rádio Clube para com você. Antes de mais nada, devo solidarizar-me com o velho e precioso amigo, tão acostumado a injustiças, tão acostumado a receber o que jamais mereceu. E isso em troca de serviços prestados diuturnamente à cultura do Piauí. Fôsse você um mau elemento, subserviente, um puxa-saco, talvez as coisas lhe saíssem de outro modo. Ganharam os poderosos. Perdeu o Piauí uma das pouquíssimas chances de ouvir as lições de um homem inteligente e culto, através de um programa que rapidamente se firmou como o mais conceituado dessa terra. Que tristeza! Enfim, mestre, você há de continuar brilhando, com rádio ou sem rádio. Em tôrno do que houve, e por causa do que houve, torna-se cada vez mais urgente a criação de um PRÊMIO IGNOBEL".


A. Tito Filho, 17/04/1970, Jornal do Piauí   

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