MANDAMENTO de Karla: "Dê-me alguns esclarecimentos sôbre LEITURA
ORIENTADA". Resposta. A leitura compreende três modalidades:
EXPRESSIVA, para que se valorizem as palavras, para que se fale com [apagado no
original] preza; EX EXTENSÃO, para a fixação daquilo que se leu; EM
PROFUNDIDADE, para exploração da matéria que foi lida. Depois disto, há
necessidade de assimilar a matéria. Finalmente, organizá-las no espírito. A
LEITURA ORGANIZADA indica que ela está sempre pronta para ser mobilizada,
quando necessário.
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RÊ-LI "Memórias", de Higino Cunha.
As lutas do jovem (chegou a ser caixeiro), o estudante da Faculdade do Recife,
a influência que nêle exerceu Tobias Barreto. Em seguida, o jornalista
político, inclemente, o homem da política partidária. Finalmente, as ideias
filosóficas de Higino. Escrevia o Mestre com simplicidade e firmeza, sem nenhum
artificialismo.
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O acreditado jornal "O Estado", de Teresina, publica uma
página de realizações da Secretaria de Obras Públicas. Uma delas é esta: "Grupo Escolar de vinte salas de aula, na
avenida Campos Sales, em Teresina". OBSERVAÇÃO. Meu parente Murilo Resende (parece que eram irmãs duas
das nossas avós, ou bisavós) foi mal informado. Os dinheiros dêsse grupo
pertencem ao Plano Nacional de Educação de 1969, quando era Secretário de
Educação o professor Balduíno Barbosa de Deus. Ano passado, administração
Clímaco de Almeida, consegui que o ex-governador adquirisse terreno, comprado
do dr. João Martins Morais. Foi aberta concorrência para a construção do grupo.
E ainda iniciada a construção. Todos os dinheiros para pagamento da construção
eu os deixei no Banco do Piauí. O grupo foi construído com dinheiro federal
(excetuado o terreno). A verdade acima de tudo. O céu a seu dono.
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LEIO informação da Secretaria de Educação: o
govêrno vai reeditar cinquenta importantes obras de escritores piauienses. Que
obras? Outro dia topei com a notícia de duas delas: A GUERRA DO FIDIÉ e VÁRIA
FORTUNA DE UM SOLDADO PORTUGUÊS. Ambas - dizia o jornal "O Glôbo" - indicadas pelo govêrno
do Piauí ao Instituto Nacional de Livro, para republicação, como de autoria de
Abdias Neves. Acontece que Abdias só escreveu a primeira. A outra não é
propriamente obra literária. É a reunião de petições do brigadeiro Fidié à
coroa portuguesa - petições que nenhum interêsse despertam. O governador
Alberto Silva deve ter muito cuidado na reedição dessas cinquenta obras. Quais
são elas? Identificam UMA LITERATURA PIAUIENSE? Uma literatura DO HOMEM
PIAUIENSE? Num TEMPO HISTORICAMENTE PIAUIENSE? Antes do romantismo o Piauí
quase nada oferece às letras. A própria escola romântica, aqui, se limitou a
fixar costumes sertanejos, a desenhar quadros da natureza, a cantar queixumes e
desesperanças. Ninguém registrou graves e notáveis episódios históricos na
concepção artística. Desconhece-se uma produção extraída das lutas da
Independência. Romances e poesias esqueceram as lutas da colonização, no século
XVII. Que ficou do ROMANTISMO da literatura piauiense? Na poesia, a obra de
Coriolano de Sousa Lima, descritiva por excelência (costumes, gado, campos); de
Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco (quadros da natureza), de Luísa
Amélia de Queirós Brandão, lírica exagerada, de Licurgo José Henrique de Paiva,
fantasioso, de Raimundo de Arêa Leão, dolente, de muito pieguismo. Na prosa,
sobressaem José Martinho Lustosa do Amaral, com um romance histórico, Francisco
Gil Castelo Branco, contista. Não fiz referência a cientistas, oradores de
parlamento, jornalistas políticos, polemistas, memorialistas, uma vez que não
escreveram literatura. Estudaram assuntos da sua especialidade, ou debateram
problemas políticos e jurídicos nos jornais e nas tribunas das assembléias.
Assevera João Pinheiro que "as modernas correntes precursoras do
naturalismo e do parnasianismo, de que foi Tobias Barreto um dos principais
fatores no país, não tiveram quase nenhuma repercussão no pequeno meio
intelectual piauiense, ainda mais reduzido pela morte ou absoluto retraimento
de vários de seus representantes, renomados DILETANTES absorvidos pelo
partidarismo intransigente ou interêsse outros de oradores puramente
individuais".
João Pinheiro fala, porém, que ESSAS
CORRENTES PRECURSORAS do naturalismo e do parnasianismo determinaram uma fase
de verdadeira floração subseqüente.
É preciso convir em que Clodoaldo Freitas,
Higino Cunha e Anísio de Abreu foram notáveis e cultos propagandistas das
idéias de Tobias Barreto e Silvio Romero (Escola do Recife). Expoentes do
estudo e inteligências extraordinárias. Exerceram profunda influência no meio
cultural piauiense. Anísio deixou poesias de grande valor, filosóficas,
apaixonadas de liberdade, de civismo, de conteúdo realista (parnasiano).
Mostrei a pobreza do movimento romântico do
Piauí. Se no Brasil o romantismo, na caracterização de [Paul?] Hazard,
endossada por Afrânio Coutinho, o romantismo foi fôrça religiosa, social e
nacional, então no Piauí praticamente inexistiu LITERATURA ROMÂNTICA.
O realismo (a verdade, técnica da
documentação e da observação, vida contemporânea, emoções e temperamentos) e o
naturalismo (fisiologia do homem, sua origem egoística sem parentesco com os
animais) quase não aparecem na literatura piauienses? Causas? Neste resumo
jornalístico não há espaço para determiná-la. Mas apareceu a literatura
regional [apagado no original]
Esta o regionalismo piauiense representado
por Hermínio Castelo Branco (LIRA SERTANEJA), Leônidas Benício Mariz e Sá,
Clodoaldo Freitas, Abdias Neves, Amélia Beviláqua, João Pinheiro.
O parnasianismo e o simbolismo
enriqueceram-se de muitos nomes (incluo aqui o impressionismo0. O parnasianismo
do ideal de objetividade, do positivismo filosófico, descritivo, mais técnico,
menos inspirado. O simbolismo - espiritual, subconsciente, fugidor da
realidade, fantasioso, colorido. O impressionismo das emoções e sentimentos
despertados pelos sentidos. Alinham-se aqui: Joaquim Ribeiro Gonçalves,
Taumaturgo Vaz, Fócion Caldas, Fenelon Castelo Branco, Félix Pacheco, Antônio
Neves de Melo, Baurélio Mangabeira, Jônatas Batista, Tito Batista, Alcides
Freitas, Nogueira Tapeti, Lucidio Freitas, João Cabral, Pedro Borges, Cristino
Castelo Branco, Edison Cunha, Antônio Chaves, Arimathéa Tito, Cromwell
Carvalho, Celso Pinheiro, Da Costa e Silva, Pedro Brito, Martins Vieira, Bugyja
Britto, Alarico da Cunha, Moura Rêgo, Monsenhor Sampaio, Isabel Vilhena,
Vicente Araújo, João Ferry, Mário Batista, Mário Bento, Antônio Justa, Veras de
Holanda, Almir Fonseca, Luís Lopes Sobrinho, Hardi Filho, Vidal de Freitas,
Alvina Gameiro, Felício Pinto, Fabrício Areia Leão, Oliveira Neto, Otávio Melo,
Judith Santana.
Não incluo na parte rigorosamente literária
nomes consagrados na crítica, na história, no direito, na sociologia, na
matemática, na medicina, na oratória como os de João Cabral, Pedro Borges, João
Alfredo, Costa Alvarenga, Cromwell Carvalho, Celso Pinheiro Filho, Simplício
Mendes, Esmaragdo Freitas, João Pinheiro, Cristino Castelo Branco, Arimathéa
Tito, Elias Martins, Clodoaldo Freitas, Matias Olímpio, Anísio Brito, Elias de
Oliveira, Hermínio Conde, Otávio de Freitas, Carlos Pôrto, Monsenhor Chaves,
Odilon Nunes, Cunha e Silva, Rodrigues dos Santos, Castro Aguiar, Dom Avelar,
Deolindo Couto, Davi Caldas, Fernando Lopes, Petrarca Sá, Breno Pinheiro, Sousa
Neta, Coelho Rodrigues, Gonçalo Cavalcante, Clemente Fortes, Clidenor Santos,
Adelmar Rocha, Pires Rebêlo, Odilo Costa, Paranaguá, José de Abreu, Antônio
José de Sampaio, Luis Mendes Ribeiro Gonçalves, Gayoso e Almendra, Luís
Correia, Jônatas de Morais Correia, Robert Carvalho, Benjamim Batista, Álvaro
Ferreira, Armando Madeira, Taumaturgo Azevedo, Antonio Freire, Miguel Rosa,
Raimundo Santana, Wilson Brandão, Alves Noronha, Darci Araújo, Heitor Castelo
Branco, Paulo Nunes, Celso Barros Coelho, João Coelho Marques, Edgard Nogueira,
Vitalino Alencar, Gerardo Vasconcelos, Cecília Mendes, Moisés Castelo Branco
Filho, Petrônio Portela, Felismino Weser - nomes consagrados nas suas
respectivas especialidades culturais - não os incluo neste capítulo das letras
históricas, jurídicas, sociológicas, históricas, médicas, científicas, enfim, porque
estou tratando exclusivamente da OBRA LITERÁRIA propriamente dita, embora
reconheça as superiores qualidades de execução, de forma, de estilo dessas
produções do engenho humano.
Também não trato aqui nestas considerações,
escritas ao correr da pena, do JORNALISMO, obra de arte, em que militam
expressões de merecida projeção intelectual.
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Os movimentos renovadores resultantes da
Primeira Grande Guerra - as experiências, as ligações dessa carnificina humana
- não chegaram ao Piauí. Izara, Bréton, Marinetti, Apollinaire, Aragon nenhuma
influência literária puderam exercer no Piauí. Também desconheço influência da
corrente de Joyce, Virginia Woolf, Eliot, Kafka, na época em que o
expressionismo se manifestou pelo subjetivismo total.
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O modernismo foi compreendido por uma das
maiores figuras da LITERATURA PIAUIENSE em todos os tempos: Martins Napoleão.
Talento renovador. Consciência criadora. E por José Newton de Freitas, falecido
muito jovem, deitando poesia de sentido social e humano. Hoje as correntes do
modernismo se representam na literatura piauiense (poesia) por Clóvis Moura,
Renato Castelo Branco, Romão da Silva, Mário Faustino, Altevir Alencar,
Conceição Castelo Branco, Miguel de Moura, Cristina Leite, Nerina Castelo
Branco, Herculano Morais, H. Dobal, Gregório de Moraes, Pompílio Santos, Adail
Maia, Domingos Fonseca, Hermes Vieira, Vidal Ferreira, e outros - poetas de
várias tendências, cada qual com a sua (universalista, espiritualista,
nacionalizante, inconformista, socializante, formalista).
Na ficção, projetam-se Sousa Neto, Renato
Castelo Branco, Assis Brasil, Odilo Filho, O. G. Rêgo de Carvalho, Palha Dias,
J. Miguel de Matos, Magalhães da Costa, as duas Lilis, cada qual com sua ficção
típica - ficção documental, regional ou social.
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O governador bem poderia adotar estas
sugestões: 1) reeditar poucas obras, pouquíssimas - justamente as que podem, no
momento, despertar interesse, como "A
Lira Sertaneja", "Frei
Serafim de Catânia" e uma ou outra mais; 2) organizar antologias,
incluindo ficcionistas, poetas, historiadores, oradores, jornalistas, juristas
- das fases literárias: modernismo (uma antologia) e fases anteriores ao
modernismo (outra antologia); 3ª publicar obras inéditas de intelectuais
piauienses.
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Observação. Deixei de citar Berilo Neves.
Notável cronista, crítico de superior qualidade da vida social. A sua obra,
porém, é carioca. E citaria neste final cronista do melhor naipe: Hélio Passos.
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As omissões foram absolutamente
involuntárias.
TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 04 jan.
1972.