Quer ler este post em PDF?

sábado, 1 de novembro de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (191)

MISSIVA cordial. De São Luís, com data de 16-12-71: "Professor Tito Filho. Só hoje nos chegou ao conhecimento a apreciação de V. Exa. sôbre o nosso modesto trabalho VOZ DA RAZÃO. Acreditamos que V. Exa., adotando as normas dos doutos, como medida salutar de estímulo e incentivos para  a conquista de êxito satisfatório no enriquecimento da inteligência, fôra, de conseguinte favorável ao nosso trabalho, mais por generosidade do que por merecimento. Trazemos, pois, a V. Exa. o nosso comovido agradecimento, que também envolve os honrosos conceitos de V. Exa. sôbre a nossa família no Piauí e, em particular, pela manifestação de aprêço de V. Exa., quando se referira à personalidade de Cromwell Carvalho, irmão de tanta estima e amizade. a) Fernando Barbosa de Carvalho".

X   X   X

Agudo e simples. Nome: Jomard Muniz de Britto. Livro: "Do Modernismo à Bossa Nova". Obra necessária a estudantes e mestres, a críticos, a quem queira ter interpretação da literatura dêste país a partir de 1922 e da música popular, fonte de tantas mensagens sociais, a partir de Noel Rosa. Diz Jomard que não fez trabalho de historiador, nem de crítico, mas de filosofia da cultura nacional. O autor, num dos capítulos, demonstra o problema da compreensão artística, que reclama tratamento especial pela escola. Preparar o homem para que ele possa ler, efetive capacidade de análise. Orientação estética. Conhecimento básico da história e da sociologia da cultura.

X   X   X

Li, neste jornal, que "diversos auxiliares do govêrno vão viajar para passar o natal com as suas famílias". Pensava eu que os auxiliares do eminente governador Alberto Silva aqui residiam em companhia dos familiares. Aliás, alguns auxiliares do govêrno estão viajando muito. Resta saber se cada qual paga as respectivas despesas de passagem.

X   X   X

TENHO lido nos jornais e nos convites para solenidades de diplomação barbarismos como VESTIBULANDO, ODOTOLANDO, TECNOCOLANDO, NORMALISTANDO. Isto com o apoio, a solidariedade, a chancela das autoridades, de diretores e da própria Universidade do Piauí. São palavras, porém, mal formadas, como FARMACOLANDO, AGRONOMANDO.

X   X   X

ÊSTE JORNAL DO PIAUÍ noticiou que os técnicos do Projeto Piauí se encontram em Parnaíba. E disse que os ilustrados estudiosos cogitam das "perspectivas turísticas", da "criação de uma cooperativa na praia do Coqueiro" e do "treinamento de famílias com vistas ao Natal". Tudo publicado neste órgão. a gente só acredita porque o jornal merece fé. Para isto vieram mestres de sociologia, de antropologia, de psicologia, ao Piauí? Outro dia foi o caso de o Projeto Piauí adotar sistema de matar ratos e baratas no Parque Piauí. Agora, turismo, criação de cooperativa (cousa batida, cansada) e treinamento de família para os festejos natalinos. Decididamente o Piauí não abdica de ridicularias pelo torto e pelo direito.

X   X   X

TÊRÇA-FEIRA, dia 21, saiu nesta coluna: "E Rui Barbosa FAZEM na paz do túmulo". Escrevi JAZEU, sim JAZEU, do verbo JAZER, permanecer.

X   X   X

OPORTUNA, séria, bem argumentada a palestra do deputado Pinheiro Machado em defesa dos municípios brasileiros. Num trecho, sustenta criteriosamente o parlamentar: "De início, não cremos que o Govêrno Federal venha a utilizar a fórmula simplista de supressão de municípios - mais de um milhar dêles - tidos como inviáveis. Acreditamos, ao contrário, que o expurgo das distorções ocorridas no passado já foi feito e que, salvo exceções flagrantes e facilmente comprováveis, a grande maioria dêsses municípios tem condições de autogovernarem-se desde que lhes seja dada a assistência administrativa de que carecem. E mais do que isso, dêles necessita o Brasil, para a grande arrancada da ocupação e da integração do imenso território nacional".

X   X   X

PARA justificar o estádio Albertão, de sessenta mil lugares, numa cidade de duzentos e trinta mil habitantes, incluindo-se os habitantes da zona rural, os mendigos, os anciões, os aleijados, as criancinhas, os que não suportam futebol, meu parente Murilo Resende (parece que tivemos duas avós irmãs) afirma que Teresina, em 1980, terá quinhentos mil habitantes. Murilo pensa que população é progresso. Quer uma cidade MONARCA de grande, como dizem os tabaréus. Murilo deve ler o deputado Pinheiro Machado e abolir a mania de querer mal a Teresina. Pois leia-o: "A avalanche humana rumo aos grandes centros tem criado problemas de tal ordem que, recentemente, o prefeito de uma grande capital brasileira, viu-se obrigado a admitir que sua cidade não tinha mais condições de atender ao enorme crescimento oriundo das volumosas migrações rurais, chegando a apelar que cessassem tais correntes migratórias". Refere-se o deputado Pinheiro Machado ao prefeito de São Paulo. Eis outro pedaço do citado parlamentar: "Há poucos dias o eminente economista Rubens Costa, Presidente do Banco Nacional de Habitação, em importante conferência realizada em São Paulo, alertou a nação para a necessidade de coordenar-se o crescimento dos grandes centros urbanos, crescimento que traz no seu bojo graves problemas econômicos e sociais". Murilo deve meditar ainda sôbre esta sugestão do dep. Pinheiro Machado - fartalecimento do porque no município brasileiro - para "atenuar a vertiginosa saturação dos grandes centros, dando-lhes o hiato necessário para ordenarem o seu próprio crescimento e evitando, tanto quanto possível, a formação intempestiva das gigantescas megalópoles, com todo o seu cortejo de problemas correlatos". Murilo lembra-se de que o estádio Lindolfo Monteiro não ficou lotado no dia do Cruzeiro com tostão, embora o govêrno distribuísse ingressos gratuitos a granel. E mais esta lembrança ao bom Murilo: o que mais se vende nesta cidade se chama PÍLULA ANTICONCEPCIONAL. Até os nossos bons caboclos já sabem da PIULA, como êles e nós outros piauienses.

X   X   X

Escrevi nesta coluna a respeito do acordo entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa - acôrdo para algumas alterações nas normas ortográficas de 1943. Pois o acôrdo tornou-se lei e vigorará a partir de 16 de janeiro de 1972. As emprêsas editôras de livros e publicações - diz "O Globo", do Rio, têm prazo de quatro anos para cumprimento da lei. As alterações foram por mim expostas neste canto faz alguns dias. Passarei a observar a legislação de 16 de janeiro em diante.

X   X   X

UM APÊLO ao magnífico reitor da Universidade do Piauí: mande retirar de circulação, com urgência, o trabalho mimeografado "Ensino e Avaliação". Mal redigido. Adaptado de livros estrangeiros. Obrigado pelo atendimento do pedido.

X   X   X

AINDA não me foi possível preparar as notinhas prometidas a respeito da literatura piauiense. Paciência. O Albertão me tem dado muito trabalho. Depois de concluído vai dar trabalho a muita gente, menos a mim.

X   X   X

Ontem saiu aqui IRMÃES, mas escrevi IRMÃS.       



TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 23 dez. 1971.

Nenhum comentário:

Postar um comentário