Félix Aires, com o título "Salmos do Meu Destino", mandou-me o seguinte comentário:
Compõe de 37 produções e mais de mil versos com vários títulos, o livro da poetisa Judith Santana, de bela feição gráfica e predominância da poesia amena e despretensiosa; a candidez de um estro delicado se faz claro de inspiração mais simples, denunciando-se pelo requinte da descrição e a sutileza dos encômios. Não há novidade nas rimas, na técnica, no verso propriamente dito; mas, sentimento, aprumo no artesanato; mas, cintilância de modéstia, pois muito bem sabe se expressar em versos brancos e róseos, setissilábicos, heróicos, alexandrinos. A cadência, o ritmo, as tônicas acentuadamente bem conduzidas no estilo, pratica a poesia moderada singularmente. A mulher já nos encanta por natureza, imagine se quando ainda é poetisa!
Para minha inspiração
cantar num verso - a saudade
e noutro - a felicidade
de ser filha do sertão.
Aconselha com segurança fora do comum:
Deixa essa falsa aparência
vive a vida em sua essência
e não te arrependerás,
deixa de ser orgulhoso,
sê franco, leal, bondoso,
e mais feliz viverás.
No sonêto "Os Amigos" explora o mesmo tema que Camilo Castelo Branco, tirando novas expressões do velho assunto. Dos amigos do mestre luso, restou apenas um, dos da poetisa, "partiram todos e ninguém voltou". É forte a página e válido o argumento. Fixa em "Flor Singela" um quadro pungente da vida humana que sempre se reproduz nos adunos populares. A inocência auxiliando a velhice, enfrentando os azares da vida quotidiana. Se bem interpretamos o pensamento da autora. "A Sorte da Rosa" nos parece retratar um romance da vida... Quem sabe? Há um soneto-familiar impregnado de amor-paterno-materno-filial sob o título "Rua 24 de Janeiro". Se é um desafôgo, "Desilusão", "Mal Sem Cura", uma tristeza e uma ironia... "Sonho de Amor", um momento de felicidade. "Ontem", um sonho que se transforma em amargura. "Idílio", uma composição bem conduzida. "Última Página", confissão e desprendimento. A variedade dos temas nos mostra que JS tem amplos recursos de interpretação, vitalidade no discernimento, segurança nos conceitos, alma na tessitura do verso coerente. Sua poesia com razão de ser, seu ideal transparece logo pela clareza dos provérbios. O verbo de Gabriela Mistral é servir, o de Judith Santana, sentir. Para Gilka Machado "a saudade é uma tristeza que nos dá tanta alegria". Para Judith: "Descrer da fatalidade, e vivo sempre pensando minha alegria chorando, cantando minha saudade". Para Cecília Meireles:
Ao lado da minha casa
morre o sol, e nasce o vento,
o vento me traz teu nome
leva o sol meu pensamento.
Para Judith:
Nos sertões do Piauí,
nos olhos meus a tristeza
refletia a profundeza
da saudade que sofri.
Para Stella Leonardos ficou assim o romance:
"Hoje nem a rua existe
para o meu sumido amor".
Para Judith o idílio rejuvenesce, alenta:
Numa doce comunhão,
quanta ventura tivemos
nesse instante que vivemos
nesse instante de ilusão!
Palmira Wanderley recorda:
Teu nome na minha bôca
é o meu pão de cada dia...
Judith, com a sensibilidade amargurada evoca numa admirável sextilha:
As rosas que nos cercaram
nos áureos tempos, murcharam
no meio dos roseirais,
bem tristes nossos caminhos
são paralelos de espinhos
que não se encontram jamais.
Luísa Amélia de Queiroz Brandão, Francisca de Sá Viana Montenegro, Maria Isabel Gonçalves de Vilhena, Vulmirina Correia, Alvina Fernandes Gameiro, Yolanda Bugyja de Sousa Britto, Lili Castelo Branco, Dagmar Alencar Caldas, Sonata da Cunha Nunez, Nerina Castela Branco, Conceição Castelo Branco, Concita Cordeiro - as poetisas do Piauí. Judith Santana mais uma inscrita no livro de nossa admiração, para alegria desta crônica.
A. Tito Filho, 02/06/1970, Jornal do Piauí
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