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quarta-feira, 16 de julho de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (141)



LIVRO que se recomenda: "Arte Popular e Folclore", de Christensen. Aspectos das manifestações espirituais de coletividade norte-americanas. E artesanato. Lições de história do artesanato. A máquina sufocando o artesanato como atividade lucrativa. Obra bem escrita, de muita clareza.

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HAROLDO Borges dedica-me "Como conquistar, falando", de Marques Oliveira. Tratado de psicologia do auditório hostil. Ensinança para oradores. Demonstração de como dominar ouvintes de discursos. Grato.

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MARIA Helena Coelho, 25 anos de idade, remete-me, da Guanabara, o seu primeiro livro: "Bruxaria no pé de feijão". Na última capa do volume está a mensagem: "Eu sou Maria Helena, vim da guerra, meu nome é Helena von Eitcher, sinto o mundo, o meu século é de espera, vim de um morro, eu sou Helena-sem-Terra. Sou nulista, nada existe. Tudo existe, mas onde o sem-guerra? Venho das profundezas do inferno, e reina um éter que só é perda, perda. Tudo na vida pe de espera". OBSERVAÇÃO. Livro-redemoinho. Grato. Comentário proximamente.

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NESTE "Jornal do Piauí" que o Secretário de Agricultura pretende montar jardim zoológico em Teresina. Jardim de animais piauienses, nacionais ou internacionais? Pacas, tatus, capivaras, emas, pássaros de variada côr, onças e quatis? Também cangurus, girafas, hipopótamos, hienas, leões, iaques, bisões? Será parque turístico digno de ver. E de admirar. HABITAT (paisagem natural) para a fauna estrangeira. Quanto vai custar a atração? Quem alimentará tal bicharia? Não basta que vivam subnutridos tantos sêres humanos e os poucos jabutis e macaquinhos da praça da Bandeira? Está em tempo de o Piauí criar juízo. Em lugar de prender bichos no Pirajá, o ilustre pernambucano da Secretaria de Agricultura trabalharia melhor com os bovinos doentes do Piauí, com a agricultura abandonada e de subsistência dos caboclos interioranos. Mande o Secretário verificar quanto se gasta para o sustento do jardim botânico da Quinta da Boa Vista, no Rio; paisagem natural, fabricada, para animais de outras terras, alimentação especial, corpo de veterinários. E interessante: o zoológico do Rio vive deserto de visitantes. Só aos domingos recebe gente. Teresina necessita de bicho na panela: chega de veados e da boa quantidade de animais intelectualizados que passeiam as ruas. De bicho, os vinte e cinco do jôgo respectivo representam constante atração. Bom que se recorde o gesto aplaudido de Haroldo Borges, ano passado. Havia na praça da Bandeira, enjaulada, uma onça. Mofina. Esperta. Exigente de apetitosos filés crus na alimentação. Haroldo, bom prefeito, emprestou-a ao Rio. Quiseram devolvê-la. Haroldo achou acertado doá-la. E desta forma praticou. Não vá o Secretário de Agricultura atual fazer viveiro de gambás. Gambá do século vinte exige uísque. E tipo escocês.  


In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 5, 4 dez. 1971.

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