POESIA - Herculano
Morais recebeu muita solidariedade de intelectuais e jornalistas no dia da
apresentação de seu MEUS POEMAS TEUS. Só espiritualmente estive na festa do
Arquivo Público. O corpo ficou na rêde. Ôlho muito inflamado privou-me da
alegria de comungar, pessoalmente, da vitória do jovem poeta.
No prefácio do livro,
assim me pronunciei a respeito dos versos de MEUS POEMAS TEUS:
"O principal é a
crença na poesia - sustentou Guilherme de Almeida naquela sugestiva mensagem
aos poetas de um mundo só:
Uma única fôrça no mundo é capaz de salvá-lo,
pois não desintegra, mas une, porque ela é do
[espírito:
e o espírito é um só como Deus. Ela é a fôrça
[centrípeta
do Sonho, do Ritmo, do Verbo, do Ideal,
[da Beleza.
É ela a poesia. Por isso em verdade vos digo
e clamo e reclamo do fundo de minha humildade:
- Que todos os poetas do mundo se dêem as mãos!
Que todos os poetas do mundo se digam irmãos!
X X X
Esta coleção de
Herculano Moraes, que li e reli atentamente, fixando os melhores instantes do
poeta e procurando descobrir-lhe intenções e analisar-lhe afirmações - esta
coleção conesta o pensamento de Guilherme de Almeida: a crença na poesia é o
principal para quem a concebe - a crença de que o poeta é mensageiro, de que a
poesia é mensagem de fraternidade e de convivência espiritual. Não valem apenas
as aflições e as angústias do mundo, porque o mundo se enriquece também de amor
e de fé.
Herculano Moraes,
nestes "Meus poemas teus", realiza, como queria a antiga tese
modernista de Carlos Drumond de Andrade, "afirmação de subjetividade, expansão do eu, desdobramento do poeta nos
fatos quotidianos que o cercam". Os versos constituem comunicação
direta. O poeta explica a poesia e explica a própria personalidade. Não é um
torturado, é um sensível, aprofundado em emoções, imaginação criadora, espírito
inquieto. Ama o ritmo. Faz poesia ao ar livre, de movimentos libertos,
pensamento ágil - eficaz colaborador do processo da vida.
Pode dizer-se que
"Meus Poemas Teus" se reparte em dois aspectos conteudísticos: em
primeiro lugar, a Mulher, de quem o poeta se enamora, para cantá-la com os
recursos dos estados de consciência, com a dúvida, com os sentimentos da alma
ante as realidades da existência - e vai dos conflitos que o amor sugere aos
desencantos psicológicos; em segundo lugar o poeta busca, em composições
originais de ironia, mas otimistas, os quadros triviais da vida, da pátria, da
cidade, os gestos dos homens para fixá-los e interpretá-los, valendo-se das inquietações
da mocidade.
Afirma-se que
Herculano faz poesia acentuadamente moderna, apaixonado dos temas leves, à
procura por vêzes de destruir sensações. Acredita na bondade e na pureza,
embora desconfie de ambas. Parece que ainda não encontrou o caminho de sua
verdade - a verdade de que as vozes humildes do mundo até agora não foram
entendidas e satisfeitas. E sei que o poeta continuará fazendo versos e que os
seus cantos, um dia, lhe darão sossêgo espiritual, sossêgo da paz interior -
aquela paz abençoada que os domingos sugerem.
In: TITO FILHO, A.
Caderno de anotações. Jornal do Piauí,
Teresina, p. 2, 22 março 1970.
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