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terça-feira, 26 de agosto de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (178)

LIVROS RECEBIDOS: Humanismo Telúrico do Nordeste, de F. Alves e Andrade e Cândida Maria Galeno; Chegança, de Fernando Braga; Antologia Escolar Brasileira, organizada por Marques Rebêlo, oferta de Vicente de Paula Reis e Silva; e A Porta do Paraíso, de Heli Menegale, oferta de Celso Barros.

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Consulta de Karla: "É errado usar-se PASSADO precedido de PARTICÍPIO? Por que se diz ZIMPATIZO-O, se o verbo exige preposição?" RESPOSTA. Pode dizer-se PARTICÍPIO PASSADO. Nenhum mal há nisto. Particípios são formas verbais que têm natureza verbal e adjetiva, ao mesmo tempo. Em português há o PASSADO e o PRESENTE. Construção muito antipática a registrada pela missivista: SIMPATIZO-O. O verbo SIMPATIZAR normalmente vem com a preposição COM: simpatizo com os homens nobres de caráter.

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DEOCLÉCIO Dantas oferece-me livro recentemente editorado pela COMEPI. Trata-se de COMO SE COMPORTAM AQUÊLES QUE PARTICIPAM DIRETAMENTE NA OBRA – ensaio ténico-econôico-sociológico – escrito pelo engenheiro civil Lidenor de Mello Motta, que esclarece, na apresentação: "Pretendemos fazer com êste trabalho uma longa reportagem do Mundo da Indústria de Construções no setor de execução da obra. É um relato escrito nos canteiros de serviços de prédios de apartamentos residenciais, vivendo e dialogando diariamente com os protagonistas, sentindo os seus anseios pelo desejo de propiciá-los e participando das suas tarefas pela co-responsabilidade da investidura de engenheiro encarregado da obra. Os assuntos abordados, acreditamos, levaram-nos a invadir searas doutros departamentos da cultura, como a Economia e a Sociologia".

Lidenor de Melo Mota aprecia, com invulgar capacidade, o trabalho e a personalidade de vários tipos de operário, como o mestre-de-obra, o armador, o pedreiro, o carpinteiro, o eletricista, o bombeiro, o estucador, o taqueiro, o marmorista, o vidraceiro, o pintor, o servente e outros. Obra de técnico, de economista, de psicólogo.

O esfôrço de composição, paginação, impressão e ilustração do livro pertence à COMEPI – um esfôrço digno de admirar e altear e que revela o nível de aprimoramento a que chegaram os servidores dessa emprêsa, liderados pela capacidade devotada de Deoclécio Dantas. Aplausos a Ari Lopes, ilustrador da obra, concebedor da capa. Ari é artista consumado.

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Outra pergunta de Karla: "Está correta a construção MINHA CASA FICA AO PEGADA A SUA?" RESPOSTA. Não. Certo assim: minha casa fica pega à sua. Pegada aí tem valor de junta, ligada.

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Um ex-diretor do FRIPISA ofereceu ao órgão competente denúncia contra Rodrigues Filho. Segundo a denúncia, o ex-delegado da SUNAB "estaria usando os poderes do cargo para beneficiar-se, na qualidade de proprietário de vacaria", e ainda para "prejudicar o denunciante, ao permitir a matança (de gado) em outros abatedouros".

O processo mereceu sindicâncias e recebeu depoimentos. Examinado pela Procuradoria Geral da Superintendência Nacional do Abastecimento, esta concluiu que as denuncias eram "não só infundadas, como também imbuídas de má-fé, com o fim de, desmoralizando o delegado, desmoralizar a SUNAB naquele estado".

Está Rodrigues Filho de parabéns. Totalmente absolvido das leviandades com que quiseram tisnar-lhe a honra, bem luminoso, o mais luminoso da existência. Ouvi, certa vez, de incautos que Rodrigues estava envolvido em corrupção na SUNAB. Protestei. Não sei investir contra a honra de ninguém sem provas inatacáveis. Já padeci ofensa à minha honra. Mastigaram-na com a podridão de haver eu recebido diárias ilícitas como Secretário de Educação. Provei com certidão do Departamento de Administração da própria Secretaria a inverdade da acusação baixa e vil. Provei mais: que não recebi dois terços das diárias de viagem que efetuei, que não recebi os dinheiros que gastei com gasolina no interior, que não recebi os dinheiros das despesas pagas com o café fornecido à Secretaria. Dirigi requerimento de cobrança ao governador Alberto Silva. Nunca o Chefe do Executivo mandou pagar-me o que o Estado me deve, justamente porque sou pobre. Alguns ricaços recebem pagamentos com rapidez espantosa. Outros recebem pagamento alto por serviço que não corresponde aos dinheiros metidos na bôlsa de ilicitudes. Eu, não. O Estado não me paga o que me deve.

Fiquei jubiloso com a vitória de Rodrigues Filho - uma vitória que reafirmou a integridade do seu patrimônio moral - riqueza mais pura que se deixa à mulher e aos filhos e com que se vive de fronte erguida em sociedade.

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Outra pergunta de Karla: "É obrigatório o uso da vírgula quando o objeto antecede ao verbo?" RESPOSTA: não.

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Parque Nacional de Sete Cidades, área do govêrno federal. Administração do Ministério da Agricultura, por intermédio do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, órgão dirigido no Piauí por essa figura de estimação, convivência reclamada, de nome Raimundo Nonato Medeiros, que é também o administrador do Parque. E bom admirador. Fêz ali abrigo para visitantes, residências para servidores, pôsto de saúde, uma escolinha. Há energia elétrica. O IBDF do Piauí editorou agora trabalho de divulgação, coordenado pelo talento artístico de Hardi Filho. Aspectos históricos das SETE CIDADES, com fundamento nas idéias de Ludwig Schwenhegen. Em seguida, transcrição do Decreto 50.744, de 8 de junho de 1961, que criou o Parque Nacional de Sete Cidades e considerou flora, fauna e belezas naturais da área merecedora da proteção dos podêres públicos. O trabalho do IBDF passa a demonstrar a localização do Parque, limites, vias de acesso, flora, fauna (perequitos, veados, onças, variedades de répteis, batráquios), clima, obras realizadas. Finalmente, as finalidades dos Parques Nacionais.

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Li num jornal de Teresina que será realizado concurso de dança. Não sei quantas orquestras tocarão por processo de revezamento. Ganhará o Prêmio aquêle que conseguir dançar durante quarenta horas, sem parar. Deus meu, que estais pendente de um madeiro, protegei a mocidade desta terra. Por que em Teresina só se pensa em futilidade? Não seria melhor convocar a juventude para um concurso literário? Não. Chega ou não chega de concurso de exibição de corpos? Desta vez, com a dança, exibição de rebolado. Aqui já se elegem misses do algodão, da carnaúba, do fumo, da escuridão, o da gordura, do funcionalismo - e o prefeito de Buriti dos Lopes outro dia anunciava que ia escolher a misse do arroz. E quantas rainhas: do carnaval, das férias, do caju, da pitomba, dos colégios, das tertúlias, das escolas de samba, do verão, do folclore, e agora certamente virá a rainha do futurismo. Aqui já escolheram até o homem mais bonito. Entenda-se que uma coletividade não pode viver o ano todo de pasmaceira. Que caminhos são oferecidos à mocidade? Então a vida se resume nas lições de que o estudo não merece incentivos? Noite e dia, dia e noite, de janeiro a dezembro , os rádios e os jornais, permanentemente, registram festas, festinhas, festocas e festanças. É necessidade espiritual a diversão. Nunca a diversão como objetivo da vida, como única forma de vivência. Nos Estados Unidos se fazem êsses concursos de dança ao ar livre. Os pares ingressam numa área cercada. Música e mais músicas. Não se para de tocar. Os que não agüentam vão deixando a pista. O par que conseguir ficar sozinho, ganha o prêmio. Coy, em romance forte, condena a estupidez de tais concursos. Teresina vai copiar a moda. Interessante é que aqui a gente só copia dos outros o que não presta.            




In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 6, 17 dez. 1971.

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