NUM estilo leve,
gracioso, pleno de harmonia, expressão correta, Heli Menegale - escreveu contos
de entretenimento e suavidade, mensagens de fé na grandeza do amor de Jesus.
Encanto de originalidade êste A PORTA DO PARAÍSO. O burrinho do presépio,
brincalhão, "o mesmo que trouxera
Maria, de Nazaré a Belém, e o mesmo que a levaria, com o menino ao colo, na
fuga para o Egito". O primeiro milagre de Jesus, a conversão dos
salteadores, a história do centurião degolador de criancinhas, a mando de
Herodes, o rei que não quis salvar-se, e finalmente a lágrima do menino ante a
figura em que se enforcou Judas - agora figueira morta e estéril - são páginas
fecundadas de inteligência e de bom gôsto literário. Merecem [ser] lidas.
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EM FEVEREIRO de 1966,
escrevi carta-prefácio do livro O PIAUÍ no FUTEBOL, do vibrante Carlos Said,
sujeito professor de entusiasmo e vero conhecedor do esporte chamado bretão.
Nesse documento escrevi: "Disse-lhe
que de futebol conheço o nome inglês e a fama de Pelé, para significar o meu
leiguismo na técnica, nas normas, nos métodos dêsse desporto das multidões,
orientadores de posições e jogadas, de arbitragens, de preparação física e
espiritual dos homens do campo. Mas não o desamo, nem sou alheio às emoções das
grandes pugnas futebolísticas". Adiante acentuei: "Érico Veríssimo conta que observou curiosa
predileção do mexicano de rua pelos fogos de artifício, principalmente pelo
foguete e pelo busca-pé: tanto um como o outro - diz o romancista gaúcho - têm
dois predicados que o mexicano admira do funda da alma - são ambos explosivos,
chispantes, coloridos. Assim como nas festas do México (digo eu), no futebol do
Brasil: o que às vêzes dá impressão de alegria, é fúria, o que parece
contentamento é violência. como tourada na terra de Juarez, futebol no Brasil
semelha UMA REVOLUÇÃO, UMA EXPLOSÃO, UMA VÁLVULA DE ESCAPE PARA A VIOLÊNCIA
REPRIMIDA - uma atitude bovárica irreversível, um protesto da angústia, uma
fuga da realidade, uma forma de evasão". Admirável esta observação
psicológica a respeito do futebol. "Quem
observa de longe... a multidão a gritar, a dançar, no meio da explosão dos
foguetes, tem uma impressão de alegria. Mas não nos devemos iludir. Se a
floresta é alegre, as árvores são tristes". Realmente, as árvores são
tristes, embora se mostrem ruidosas, como que porejando alegria. os gritos
representam a fuga, a evasão da realidade. Ou o processo pelo qual cada ÁRVORE
procura fugir da angústia. Os estádios gigantescos nada conferem ao povo
grávido de problemas. Assim, o Albertão, monstruosidade que se alevanta na
chapada para fantasiar de rica, de tranquila uma coletividade paupérrima,
insultada por gravíssimos problemas. Antes de ser iniciado, já que se queimaram
com êsse elefante branco quinhentos mil contos, em compra de terreno a um
deputado federal, e mais seiscentos e quarenta mil contos pelo projeto, dados a
felizarda firma mineira, escolhida ninguém sabem como. A dedo. Soube que houve
até coquetel-churrasco por conta do govêrno. Festejamento do futuro estádio.
Comes e bebes, sinal de fartura num aterra em que se angaria, se pede
contribuição para o NATAL DOS POBRES. E os pobres receberam a ceia de Natal:
meio quilo de arroz, um pedaço de sabão, meio quilo de açúcar. O prefeito Joel
andou distribuindo pipocas. O Albertão será o símbolo caboclo do progresso, da
civilização, da riqueza. Que Deus o tenha na sua glória.
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EXPRESSÕES bem
conduzidas escreveu José Joaquim Monte, recém-formado pela Universidade do
Ceará, para definir as responsabilidades do médico e a missão social da
medicina.
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O ARGUTO colunista
Dário Macedo, jornalista aplaudido, de leitura obrigatória, publicou o seguinte
em "Tribuna do Ceará", edição de 20.12.71: "Depois de anos de estagnação, o Piauí com Alberto Silva ao leme começa
a percorrer os caminhos do progresso e do desenvolvimento. E se apresenta hoje
aos olhos da Nação com uma imagem inteiramente nova. tudo ali está em
transformação, mesmo o calor". E um pouco adiante sustenta o confrade:
"Hoje, em Teresina, há numerosos
escritórios, repartições públicas, hotéis, cinemas com aparelhos de ar
condicionado". OBSERVAÇÃO. Embora bem intencionado, o colunista não
deve atribuir dons sobre-humanos ao governador Alberto Silva, que passou a
TRANSFORMADOR DO CALOR do Piauí. Quando Alberto chegou a Carnaque, encontrou o
gabinete governamental dotado com AR ACONDICIONADO (escrevi ACONDICIONADO).
Quando o Piauí se libertará dêsses registros que o cobrem de ridículo na
compreensão dos patrícios de outras terras?
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DE Luís Pereira da
Silva, com data de 4.12.71: "Prezado
Mestre. Dou um ouvinte assíduo e admirador incondicional do seu programa, que é
levado ao ar de segunda a sábado na nossa querida Rádio Difusora, às 22 horas.
Já escrevi várias vêzes para êsse programa e, naturalmente, sempre fui atendido
satisfatoriamente. Hoje, portanto, volto a utilizar-me dêle para, com o tesouro
de sabedoria com que êle é apresentado, tirar dúvidas quanto às seguintes
questões". Em seguida, o missivista indaga a respeito de vário
assunto. Eis o primeiro: "Qual a
origem das palavras AMAZONAS e AMAZÔNIA? Sabemos que há a região da AMAZÔNIA e
o ESTADO do AMAZONAS. Por que êsses dois nomes?" RESPOSTA. A mitologia
fala das AMAZONAS, mulheres guerreiras da Ásia-Menor, e de lá expulsas. Alguns
contam a fábula - aliás muito reproduzida pela gente amazônica. Admite-se que
Orelana encontrou mulheres guerreiras nessa região do Brasil - e em razão disto
deu ao grande rio o nome de Amazonas. O velho latim - assegura Xavier Fernandes
- possuiu AMAZON, "mulher que carece de um peito". As amazonas eram
guerreiras. Para que conseguissem mais agilidade na guerra, "queimavam ou
cortavam o seio direito". Pela origem, AMAZONAS (singular) significa SEM
SEIO. Por extensão: MULHER SEM SEIO. No poeta Horácio há referência a essas
mulheres belicosas: "Amazonia securi dextras obarmet" (arma os braços
com os machados das Amazonas). O nome Amazonas batiza o ESTADO das Amazonas e o
Rio das Amazonas. Quando se faz referência ao Estado, diz-se ou escreve-se
Estado do Amazonas. Há aqui ideia do Rio. Estado do (rio) Amazonas. A expressão
RIO DAS AMAZONAS converteu-se em RI OAMAZONAS, com elipse da proposição. Mas
tanto faz dizer Rio Amazonas, como Rio das Amazonas. No latim - ensina Silveira
Bueno - podia dizer-se: URBS ROMAE (cidade de Roma) e URBAS ROMA (cidade Roma).
No primeiro caso, houve construção com genitivo. No segundo caso, ROMA é
apôsto. Tanto faz que se diga RUA DE RUI BARBOSA como RUA RUI BARBOSA. A
região, que envolve o Estado do Amazonas e outras zonas naturais, tem o nome de
AMAZÔNIA. [apagado no original] a palavra com o sufixo IA, o mesmo que aparece
na formação de Lusitânia (de Lusitani) e de Germânia (de Germani). Os outros
assuntos do missivista, mostra oportunidade.
IN: TITO FILHO, A.
Caderno de anotações. Jornal do Piauí,
Teresina, p. 6, 28 dez. 1971.
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