NÃO VI AINDA uma só
das aldeias italianas perto de Nápoles. Mas amo-as na alegria da sua gente
pobre, da sua gente quente, expansiva, extrovertida. É verdade que a gente pode
admirar o que não viu, mas que se conhece por através da leitura. Quem não
estima as pequenas comunidades portuguêsas, simples, cheias de verde, moçoilas
fornidas de carne, vestidos quase no tornozelo? E Lisboa das noites do fado,
das peixadas suculentas, motoristas educados, onde nasceram os nossos avós
safados da colonização? E uma cidadezinha da Islândia, país minúsculo, sem
problemas? Estou em que amamos o distante pelo que o distante nos comunica de
beleza, de simpatia, de calor humano. Não estive em Mogi das Cruzes, São Paulo,
até hoje. Sinto-me, porém, como se com ela houvesse convivido, no entusiasmo,
no ideal dos seus homens ilustres. Lá reside Inocêncio Candelária, coração
vibrante, espírito iluminado, ganhador de prêmios literários, poeta, educador,
conferencistas, crítico. Lá nasceu Mello Freire, individualidade que Mogi
alteia pela extraordinária dedicação às letras. De Mogi recebo presente
principesco, que me manda Inocêncio Candelária: "Coletânea Mogiana", com excelentes apresentações do correto
intelectual Edgard da Silva e Costa e de Candelária. Esse rico florilégio foi
organizado pelo professor José Veiga, crítico ilustrado, pois a inteligência do
crítico bem se revela na escolha do material antológico. Li, com vivo
entusiasmo, "Coletânea Mogiana",
e fiquei certo de que Mogi das Cruzes representa, na paisagem paulista,
extraordinária atividade literária, que muito a projeta na admiração de outros
pedaços brasileiros. Quantos talentos nessa antologia. As notas biográficas
fazem que o leitor configure cada intelectual no plano social e humano, também.
Obra de mérito. Farto material literário. Desfile de homens de pensamento:
Nicanor Paraguassu (jornalista e creio que bom cronista), Inocêncio Candelária
(homem-plural), Botyra Camorim (poetisa mística), Benedito Barbosa Sobrinho
(contista de muito fôlego), Davi Marques (de poesia amarga, pessimista), Elza
Meirelles Chola (poesia contra a angústia da vida), Maria da Graça Tavares
Cogonhesi (lírico-amorosa), João Evangelista do Nascimento (poema do destino do
homem, de muita eloquência), José Feigol Guil (poesia-sentimento), Darcy
Albernaz (mensagem poética de ironia contra os ridículos), Euclydes Bauer
Barbosa (cronista, seguro narrador), Benedito Xavier Pinheiro (poeta de ternura
e sentimento), Samuel R. Freire (lirismo-encantamento, no verso como na prosa),
Alba Ferri (fixadora de paisagens humanas), Paulo Ferrari Massaro (rico de
ternura nas cantigas), Darcy Seraphim (lírico), Walter Rodrigues de Aguiar
(alegre, trovador de boa cepa), Aziz Ansaral Rizer (prosa vivaz), Maria Helena
Rizek (poesia-incredulidade), Edgard da Silva e Costa (primoroso cronista),
Nyrle Freitas Andery (prosa sentimental), Nyssia Aparecida da Freitas Meira
(poetisa notável na interpretação do drama do Calvário), Antônio Ferreira da
Silva (poesia filosófica da incerteza), Alba Maria Ferreira da Silva (notável
na fixação dos quadros da civilização dos tempos que correm, juventude sem
horizonte, guerra, a máquina fabricando angústia), Miguel Ribeiro de Andrade
(poesia-paixão), Olavo Aparecido Câmara (cultor do apólogo), Neusa Kazuyo
Yoshida (lírica), Roberto Angelini (lírico), Rosa Maria Alves Soares
(poesia-humanidade), José de Moura Santos (excelente cronista de episódios
históricos), Olga Duarte Nóbrega (poesia-educação), Roberto Monteiro (crônicas
ligeiras, de saborosa ironia), Maria Eunice Borini Strazzi (poesia profética: a
solidão do homem - a solidão que está chegando), Manuel Sanchez Grilo
(religiosidade e saudade), Moacyr Wuo (cantiga de amor perdido), José Mary
Negrão (poesia didática), Guilherme José de Matos (poesia social, grito contra
os desumanos), Paulo de Tarso Brasil (de variada e rica inspiração), Carlos da
Silva Tupiniquim (versos de alegria e de confôrto), Elisabeth Salgado Martins
(ritmo, muito ritmo), João Raphael de Lara Netto (poesia-súplica), Walkyria
Coelho Bourg (contista, estilo gracioso), Luiz de Castro (poesia-sentimento),
Alfredo de Paula Pereira das Neves (inspirada poesia de exaltação a Luther
King), Ary Silva (canto da saudade), Ângela Maria Paiva (posia de ternura),
Isaac Grimberg (prosa cívica), Esther Angra Leite (poesia-sofrimento), Glauco de
Lorenzi (concepções de poesia filosófica, ensinamentos para a vida), Roberto de
Lorenzi (poeta-filósofo), Iracema Brasil (mística, de profunda religiosidade),
João Francisco de Melo Colella (canto de paz, de amor, condenação da guerra e
da maldade, vibrações cívicas), Waldomiro Pereira da Silva (poesia-bondade),
Walter Gomes Amorim (narrativa correta, cheia de humor), Luiz Cesar Veiga
(lírico do sonho) e José Veiga (lírico da paisagem doméstica).
In: TITO FILHO, A.
Caderno de anotações. Jornal do Piauí,
Teresina, p. 2, 11 dez. 1971.
Nenhum comentário:
Postar um comentário