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terça-feira, 19 de agosto de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (175)

NÃO VI AINDA uma só das aldeias italianas perto de Nápoles. Mas amo-as na alegria da sua gente pobre, da sua gente quente, expansiva, extrovertida. É verdade que a gente pode admirar o que não viu, mas que se conhece por através da leitura. Quem não estima as pequenas comunidades portuguêsas, simples, cheias de verde, moçoilas fornidas de carne, vestidos quase no tornozelo? E Lisboa das noites do fado, das peixadas suculentas, motoristas educados, onde nasceram os nossos avós safados da colonização? E uma cidadezinha da Islândia, país minúsculo, sem problemas? Estou em que amamos o distante pelo que o distante nos comunica de beleza, de simpatia, de calor humano. Não estive em Mogi das Cruzes, São Paulo, até hoje. Sinto-me, porém, como se com ela houvesse convivido, no entusiasmo, no ideal dos seus homens ilustres. Lá reside Inocêncio Candelária, coração vibrante, espírito iluminado, ganhador de prêmios literários, poeta, educador, conferencistas, crítico. Lá nasceu Mello Freire, individualidade que Mogi alteia pela extraordinária dedicação às letras. De Mogi recebo presente principesco, que me manda Inocêncio Candelária: "Coletânea Mogiana", com excelentes apresentações do correto intelectual Edgard da Silva e Costa e de Candelária. Esse rico florilégio foi organizado pelo professor José Veiga, crítico ilustrado, pois a inteligência do crítico bem se revela na escolha do material antológico. Li, com vivo entusiasmo, "Coletânea Mogiana", e fiquei certo de que Mogi das Cruzes representa, na paisagem paulista, extraordinária atividade literária, que muito a projeta na admiração de outros pedaços brasileiros. Quantos talentos nessa antologia. As notas biográficas fazem que o leitor configure cada intelectual no plano social e humano, também. Obra de mérito. Farto material literário. Desfile de homens de pensamento: Nicanor Paraguassu (jornalista e creio que bom cronista), Inocêncio Candelária (homem-plural), Botyra Camorim (poetisa mística), Benedito Barbosa Sobrinho (contista de muito fôlego), Davi Marques (de poesia amarga, pessimista), Elza Meirelles Chola (poesia contra a angústia da vida), Maria da Graça Tavares Cogonhesi (lírico-amorosa), João Evangelista do Nascimento (poema do destino do homem, de muita eloquência), José Feigol Guil (poesia-sentimento), Darcy Albernaz (mensagem poética de ironia contra os ridículos), Euclydes Bauer Barbosa (cronista, seguro narrador), Benedito Xavier Pinheiro (poeta de ternura e sentimento), Samuel R. Freire (lirismo-encantamento, no verso como na prosa), Alba Ferri (fixadora de paisagens humanas), Paulo Ferrari Massaro (rico de ternura nas cantigas), Darcy Seraphim (lírico), Walter Rodrigues de Aguiar (alegre, trovador de boa cepa), Aziz Ansaral Rizer (prosa vivaz), Maria Helena Rizek (poesia-incredulidade), Edgard da Silva e Costa (primoroso cronista), Nyrle Freitas Andery (prosa sentimental), Nyssia Aparecida da Freitas Meira (poetisa notável na interpretação do drama do Calvário), Antônio Ferreira da Silva (poesia filosófica da incerteza), Alba Maria Ferreira da Silva (notável na fixação dos quadros da civilização dos tempos que correm, juventude sem horizonte, guerra, a máquina fabricando angústia), Miguel Ribeiro de Andrade (poesia-paixão), Olavo Aparecido Câmara (cultor do apólogo), Neusa Kazuyo Yoshida (lírica), Roberto Angelini (lírico), Rosa Maria Alves Soares (poesia-humanidade), José de Moura Santos (excelente cronista de episódios históricos), Olga Duarte Nóbrega (poesia-educação), Roberto Monteiro (crônicas ligeiras, de saborosa ironia), Maria Eunice Borini Strazzi (poesia profética: a solidão do homem - a solidão que está chegando), Manuel Sanchez Grilo (religiosidade e saudade), Moacyr Wuo (cantiga de amor perdido), José Mary Negrão (poesia didática), Guilherme José de Matos (poesia social, grito contra os desumanos), Paulo de Tarso Brasil (de variada e rica inspiração), Carlos da Silva Tupiniquim (versos de alegria e de confôrto), Elisabeth Salgado Martins (ritmo, muito ritmo), João Raphael de Lara Netto (poesia-súplica), Walkyria Coelho Bourg (contista, estilo gracioso), Luiz de Castro (poesia-sentimento), Alfredo de Paula Pereira das Neves (inspirada poesia de exaltação a Luther King), Ary Silva (canto da saudade), Ângela Maria Paiva (posia de ternura), Isaac Grimberg (prosa cívica), Esther Angra Leite (poesia-sofrimento), Glauco de Lorenzi (concepções de poesia filosófica, ensinamentos para a vida), Roberto de Lorenzi (poeta-filósofo), Iracema Brasil (mística, de profunda religiosidade), João Francisco de Melo Colella (canto de paz, de amor, condenação da guerra e da maldade, vibrações cívicas), Waldomiro Pereira da Silva (poesia-bondade), Walter Gomes Amorim (narrativa correta, cheia de humor), Luiz Cesar Veiga (lírico do sonho) e José Veiga (lírico da paisagem doméstica).    




In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 11 dez. 1971.

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