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terça-feira, 19 de agosto de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (174)

Com a transcrição desta crítica de Santos Stockler, publicada no jornal "Beira Baixa, de Portugal, homenageio, hoje, o talento de Hardi Filho. Eis o artigo do ilustrado crítico português:

"Gruta Iluminada é já em si um título que tem um certo ressaibo a poesia, embora nem sempre os títulos correspondam ao valor dos textos. Mas, desta vez a coisa está correta, pois logo que haja luz dentro de uma gruta, é sinal de que existe lá vida. E onde haja vida, há poesia, se bem que também haja vida, há poesia, se bem que também haja vida numa natureza morta, mas nunca em tôda a poesia considerada 'viva' dos nossos dias.

E onde está essa poesia? É precisamente isso que se torna necessário ao crítico apontar, pois que dizer 'esta obra não tem nada a ver com a poesia', sem se apontar o porquê dessa afirmação, é muito vago, como vago é também, se acaso não constitui êrro maior, um crítico receber uma obra para análise e, só por que o autor não é do grupo, ou por qualquer outra circunstância, ou mesmo por mera 'birrinha' pessoal, como tântas vêzes já tem acontecido, êsse crítico atira com a obra para a fogueira do ferro velho da sua rua, não é de um crítico considerado honesto, uma vez que tôdas as obras têm o seu valor relativo e tal como as obras dos consagrados, essa edição também custou dinheiro - na maior parte dos casos ao pobre do autor, pois que os autores portuguêses são quase todos pobres, embora alguns aparentem alimentar-se da raiz da árvore literária...

Pouco importa, depois o que alguns venham a dizer dêsse crítico, uma vez que êle se considera senhor da fatia maior e, uma vez assim, depressa arma aos pardais da sua zona.

E como a crítica é, quanto a nós, (ou não será mesmo?) uma coisa honesta, nós temos de provar que realmente existe mesmo poesia em quase tôda a Gruta Iluminada. E como fazê-lo, sem que depois a 'abelha, mestra' nos espete o seu ferrão? Muito simples: descer até ao último palmo da gruta e, através da luz que nela encontramos, vamos vendo, palmo a palmo, todo o espaço, o que neste caso é tôda a poesia que lá existe dentro.

Ora, foi precisamente isso mesmo que nós fizemos: lemos a obra, poema a poema, página a página, isto é, do primeiro ao último poema da obra, saboreando, demoradamente, novamente poema a poema, a luz poética que cada um dêsses poemas contêm. E assim achamos a poesia contida nesta obra de Hardi filho.

Contudo não iremos aqui dizer aos leitores (e nem aos críticos do mesmo ofício) que a Gruta Iluminada é uma obra prima da moderna poesia brasileira, mas, apenas, (e isto é que tem validade, por ser honesto!) que há nesta obra [de] poesia, ou melhor, que o seu autor sabe perfeitamente aquilo que faz e o caminho que segue, já que, segundo a nossa modesta opinião, Hardi Filho já nasceu com o dom da poesia dentro dêle. E a quantos duvidarem da nossa opinião, pois que não nos consideramos infalíveis e nem mestres da arte de poetar, apenas nos limitamos a dar-lhes êste conselho: leiam a obra e depois então digam coisas, que nós teremos muito gôsto em aprender aquilo que não sabemos.

Mas antes disso, meditem nas palavras que abaixo transcrevo, pois que estas, agora, não são da nossa lavra, mas sim da autoria de José de Arimathéa Tito Filho, um nome que merece a consideração e o respeito dos mais considerados da Literatura Brasileira:

Hardi Filho é a vocação real de poeta, bem revelada nesse livro de verso de boa água, dedicado mais aos tristes, Cinzas e Orvalhos, indicado pela Academia Piauiense de Letras ao Prêmio Celso Pinheiro - Concurso Literário da Prefeitura de Teresina - 1963. Só as coisas simples o comovem, com suas mensagens inquietantes. Sua poesia é a contemplação onde permanece, em absoluto abandono, como se não precisasse do confôrto humano. Tem êle o gôsto da solidão. Personalidade forte, espírito direito, tudo nêle é claro como paisagens dos trópicos. De apurada experiência intelectual, Hardi escreveu livro rico de língua inspiração poética, que tanto enobrece as letras piauienses. Obra que aproxima a alma dos outros para a compreensão dos desencantos do mundo".



In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 7, 10 dez. 1971.

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