Com a transcrição
desta crítica de Santos Stockler, publicada no jornal "Beira Baixa, de
Portugal, homenageio, hoje, o talento de Hardi Filho. Eis o artigo do ilustrado
crítico português:
"Gruta Iluminada é já em si um título que
tem um certo ressaibo a poesia, embora nem sempre os títulos correspondam ao
valor dos textos. Mas, desta vez a coisa está correta, pois logo que haja luz
dentro de uma gruta, é sinal de que existe lá vida. E onde haja vida, há
poesia, se bem que também haja vida, há poesia, se bem que também haja vida
numa natureza morta, mas nunca em tôda a poesia considerada 'viva' dos nossos
dias.
E onde está essa
poesia? É precisamente isso que se torna necessário ao crítico apontar, pois
que dizer 'esta obra não tem nada a ver com a poesia', sem se apontar o porquê
dessa afirmação, é muito vago, como vago é também, se acaso não constitui êrro
maior, um crítico receber uma obra para análise e, só por que o autor não é do
grupo, ou por qualquer outra circunstância, ou mesmo por mera 'birrinha'
pessoal, como tântas vêzes já tem acontecido, êsse crítico atira com a obra
para a fogueira do ferro velho da sua rua, não é de um crítico considerado
honesto, uma vez que tôdas as obras têm o seu valor relativo e tal como as
obras dos consagrados, essa edição também custou dinheiro - na maior parte dos
casos ao pobre do autor, pois que os autores portuguêses são quase todos
pobres, embora alguns aparentem alimentar-se da raiz da árvore literária...
Pouco importa, depois
o que alguns venham a dizer dêsse crítico, uma vez que êle se considera senhor
da fatia maior e, uma vez assim, depressa arma aos pardais da sua zona.
E como a crítica é,
quanto a nós, (ou não será mesmo?) uma coisa honesta, nós temos de provar que
realmente existe mesmo poesia em quase tôda a Gruta Iluminada. E como fazê-lo, sem que depois a 'abelha, mestra'
nos espete o seu ferrão? Muito simples: descer até ao último palmo da gruta e,
através da luz que nela encontramos, vamos vendo, palmo a palmo, todo o espaço,
o que neste caso é tôda a poesia que lá existe dentro.
Ora, foi precisamente
isso mesmo que nós fizemos: lemos a obra, poema a poema, página a página, isto
é, do primeiro ao último poema da obra, saboreando, demoradamente, novamente
poema a poema, a luz poética que cada um dêsses poemas contêm. E assim achamos
a poesia contida nesta obra de Hardi filho.
Contudo não iremos
aqui dizer aos leitores (e nem aos críticos do mesmo ofício) que a Gruta Iluminada é uma obra prima da
moderna poesia brasileira, mas, apenas, (e isto é que tem validade, por ser
honesto!) que há nesta obra [de] poesia, ou melhor, que o seu autor sabe
perfeitamente aquilo que faz e o caminho que segue, já que, segundo a nossa
modesta opinião, Hardi Filho já nasceu com o dom da poesia dentro dêle. E a
quantos duvidarem da nossa opinião, pois que não nos consideramos infalíveis e
nem mestres da arte de poetar, apenas nos limitamos a dar-lhes êste conselho:
leiam a obra e depois então digam coisas, que nós teremos muito gôsto em
aprender aquilo que não sabemos.
Mas antes disso,
meditem nas palavras que abaixo transcrevo, pois que estas, agora, não são da
nossa lavra, mas sim da autoria de José de Arimathéa Tito Filho, um nome que
merece a consideração e o respeito dos mais considerados da Literatura Brasileira:
Hardi Filho é a vocação real de poeta, bem revelada nesse
livro de verso de boa água, dedicado mais aos tristes, Cinzas e Orvalhos,
indicado pela Academia Piauiense de Letras ao Prêmio Celso Pinheiro - Concurso
Literário da Prefeitura de Teresina - 1963. Só as coisas simples o comovem, com
suas mensagens inquietantes. Sua poesia é a contemplação onde permanece, em
absoluto abandono, como se não precisasse do confôrto humano. Tem êle o gôsto
da solidão. Personalidade forte, espírito direito, tudo nêle é claro como
paisagens dos trópicos. De apurada experiência intelectual, Hardi escreveu
livro rico de língua inspiração poética, que tanto enobrece as letras
piauienses. Obra que aproxima a alma dos outros para a compreensão dos
desencantos do mundo".
In: TITO FILHO, A.
Caderno de anotações. Jornal do Piauí,
Teresina, p. 7, 10 dez. 1971.
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