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terça-feira, 5 de agosto de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (169)

Por mais uma vez, em programação radiofônica (Difusora) e nesta coluna, discuti problemas de trânsito de Teresina. Depois dos debate, recebi da inteligência de Walderes Sousa estas bem traçadas linhas:

Nos meus rabiscos, em modesta coluna de JORNAL DO PIAUÍ, sempre me tenho ocupado dos problemas de trânsito em Teresina. Ora para criticar os responsáveis pelo problema, ora para dar uma sugestão, muitas das vêzes não aceita.

Dias atrás, por ocasião da Semana do Trânsito, ouvi umas palavras do ilustre Mestre com relação a êste grave problema, as quais em muito coincidiram com o que penso e tenho dito, com relação aos desregramentos de condutores de veículos automotores, de ciclistas e mesmo de muitos pedestres, êstes geralmente responsáveis pelos seus próprios infortúnios, o que é de se lamentar.

Em minha última coluna cheguei a sugerir ao DETRAN que contrate um técnico, uma pessoa que entende dêste assunto, pois até agora os responsáveis pelo problema não deram mostra da menor condição de resolvê-lo. Será que falecem na autoridade estas condições?

O pior é que, enquanto a interrogação fica no ar, os desastres acontecem a todo instante. É assim como uma dança macabra, a dança da morte. Quem bota o pé na rua de carro (dirigindo ou como passageiro), de bicicleta ou a pé, não sabe se voltará ileso. E quantos, todo dia, não conseguem regressar com vida.

Falo com experiência pois, modéstia à parte, conhêço todas as regiões dêste imenso Brasil, suas maiores cidades, as de tráfego mais difícil e as de melhor traçado, de norte a sul, e nunca vi, em nenhum delas, tanto loucura ao volante, tantos desrespeitos às leis de trânsito e até descaso pela vida humana.

Meu caro professor. Antes que isso atinja a calamidades maiores, é preciso que vozes como a sua, opiniões como a sua, clamem por uma providência superior, para pôr fim a tudo isso.

Há poucas horas atrás, quando dirigia pela Avenida Frei Serafim, ao cruzar o trecho dos supermercados, os quais sou obrigado a cruzar mais de uma vez por dia, por ser o caminho natural de minha residência, vi, mais uma vez, aquêle espetáculo comum de veículos estacionados, uns por cima das calçadas, outros atravessados na rua, filas duplas de um lado e outro das estreitas travessas, e vêm, formando-se os costumeiros engarrafamentos; o soar das buzinas, os palavrões dos motoristas os pedestres apavorados a correrem descontroladamente, sem saber para onde se dirigir. O senhor já pensou que imenso purgatório é êste em que vivemos?

Já sugeri ao Diretor do DETRAN que colocasse naquele local um guarda, pelos menos nas horas de maior movimentação. Mas isso já faz dias e o problema continua. A sugestão não foi aceita. Prova de que o problema não deve ser resolvido.

Digo, mais uma vez, que a Semana do Trânsito falhou, não atingiu os seus objetivos. Pedir carteiras a motoristas não deveria ter sido a principal finalidade. Com bastante tempo sugeri que deveria ser feita uma campanha de esclarecimentos [à] motoristas e pedestres, com jingles pelas emissoras de rádio, faixas, cartazes e todos os meios de comunicação, orientando a quantos têm que cruzar estas estreitas, fedorentas, calorentas e aperreadas ruas de nossa capital.

Aproveito para, ao fim desta, tratar de um assunto ainda com relação a veículos. É sôbre o aumento que acabam de conceder para os táxis. Mais um avanço para a bôlsa popular. Acho que foi a minha primeira e quase única voz a se levantar, quando se começou a falar em aumento de tarifas de táxis. Disse eu que em Teresina se paga os táxis mais caros do Brasil. Digo e provo. Agora mesmo estive em Fortaleza e lá verifiquei, constatei, paguei táxis com a bandeirada 0,45 e a mudança em 0,05. No sul, o Senhor bem sabe, é muito mais barato. A gente anda de táxi que enjoa e paga uma ninharia. Aqui, quando se pega um táxi vão-se até os fôrros dos bolsos. Uma arrodeada na Praça Pedro II chaga quase a 3,00. E o motorista geralmente não tem troco nem de 1,00.

Alegam que a gasolina por aí é mais barata. Realmente. Mas a diferença no litro nunca vai nem a 0,05 e isso êles já vêm tirando em dôbro, numa mudança de 0,10 e bandeirada de 1,00, que nunca vi em lugar nenhum. Êsse aumento ora decretado, se pôsto em prática, virá oficializar mais um assalto â bôlsa do teresinense.

Estas linhas, que poderiam parecer a outro um desabafo, ao ilustre Mestre, que muito bem me conhece, significará apenas a confissão de uma verdade, que deve ser dita e que deve mudar.

Sem outro para o momento, sirvo-me de ensejo para reiterar ao prezado professor protestos da minha estima e admiração".



In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 23 nov. 1971.

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