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terça-feira, 19 de agosto de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (173)

DE MAREDA BOGADO: "Niterói, outubro, 1971. Arimathéa. quantas cartas agradáveis me fêz sem que eu pudesse abraçá-lo em agradecimento. Saiba que me fizeram muito bem sentir... Se descabidas ficam por sua conta o êrro e o ônus. Mando-lhe o fluminense José Cândido de Carvalho. Espero que seja um prazer que você conheça O CORONEL E O LOBISOMEM. Há referências no texto ao gado do Piauí. Acredita numa possível extensão do pastoreiro daí até nós? Por Minas, talvez. Vale a pena verificar". Observação. Mareda Bogado é tipo inesquecível. Alegria contagiante. Adoça as horas da vida de qualquer de nós. Parece tecida de bondade. Aqui estêve em janeiro de 1971. Mensageira do Instituto Nacional do Livro para curso de biblioteca. Conquistou discípulos. Fêz de cada coração teresinense uma amizade. Dela recebi "O Coronel e o Lobisomem", obra-prima do romance nacional escrita por José Cândido de Carvalho. História do coronel Ponciano de Azevedo Furtado, contada pelo próprio Ponciano - que ingressa na galeria das personagens do romance brasileiro como Vasco Moscoso de Aragão, de Jorge Amado, isto é, na qualidade de tipo completo, bem desenhado, nítido, íntegro. Ponciano pertence a uma aristocracia rural decadente. Sensível e simpático. Rábula também. Vaidoso e honesto. Semelha herói quixotesco. Lutador contra as próprias criações de sua imaginação prodigiosa. Livro sem defeitura, ricoso de novos processos de derivação vocabular, como invencioneiro, cativoso, desbenefício, pormenorizagem, trafegação, brincativo, tristento, desimportante, desconsentir, recatosa, maridanca, mimosura, suspirento e tantos outros. No tovante à pergunta de Mareda Bogado: creio que o gado do Piauí foi elemento de comunicação com Minas, o Estado do Rio, com o Rio Grande do Sul. Há um livro gaúcho - "O Boi das Aspas de Ouro" - em que os têrmos do pastoreio muito se identificam com os dos vaqueiros do Piauí.

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DE FRANCISCO Alves de Castro, Diretor Cultural da Associação Recreativa Cepisa, em ofício de outubro de 1971: "Professor. Estamos remetendo a V. S. um número do nosso jornalzinho INFORMATIVO 70, que há mais de ano está em circulação mensal, no nosso meio interno. O nosso objetivo é participar com o leitor e torná-lo ciente do que participamos. É claro que desejamos, cada dia que se passa, tornar-nos mais comunicativos, mas nos falta orientação. Diante do exposto gostaríamos de ter a opinião de V. S. a respeito da utilidade do INFORMATIVO e orientação para torná-lo melhor. Informamos-lhe que no mês próximo passado foi eleita nova diretoria para os destinos da Associação Recreativa Cepisa. E agora nos empenhamos numa campanha de doação de livros para a nossa biblioteca, mas não sabemos, ainda, quais os órgãos que fornecem livros grátis. Caso V. S. queira ajudar-nos, ficaremos muito agradecidos. E nesta oportunidade, enviamos a V. S. votos sinceros por esta data de hoje dedicada aos mestres". Bem redigida, bem orientada a publicação. Muito apreciei. No momento em que tantos são fúteis e vivem de festocas e festanças, inclusive o govêrno, conforta sentir que alguns são sérios e querem ser úteis à educação. O "Informativo 70" merece aplausos. Assentaria eu que melhor há de ficar com a experiência, com a divulgação de processos de trabalho, com a estampação do que realiza a CEPISA em benefício da coletividade. A verdadeira convivência está na realização de atividades sérias, culturais. Esta a convivência da estima e do respeito. No Brasil existe uma entidade que distribui livros: Instituto Nacional do Livro, Palácio da Cultura, Estado da Guanabara. Dirige-o escritora talentosa, Maria Alice Barroso. De mim, farei doação de algumas obras à Associação Recreativa Cepisa, com grande prazer.

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DA GUANABARA, com data de outubro de 1971: "A família Taumaturgo de Azevedo cumprimenta-o e agradece-lhe em memória do Marechal Gregório Taumaturgo de Azevedo".

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Dia 24 do corrente, em carta do professor Benedito de Castro Lima, saiu, nesta coluna, COMPRIMENTOS. O sentido da frase revela fàcilmente que se tratava de CUMPRIMENTOS. Também escrevi BALZAC e se estampou BALZÃO. Que diabo!

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COM MUITO atraso, registro o gesto aplaudido do Anexo Duque de Caxias, do Colégio Zacarias de Góis, comemorativo do vigésimo sexto aniversário de criação da Organização das Nações Unidas. Fiz palestra para os estudantes do educandário. Iniciativa do Centro Cívico Escolar "Aurino Nunes". Parabéns a diretora Antônia Siqueira Soares.

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Li "Os pastores da Noite", de Jorge Amado. A malandragem noturna de Salvador. Amor nas praias. Marafonas. Coronéis. Digo e redigo: Jorge Amado vale por "Terra do sem fim", por "Os velhos marinheiros", por "ABC de Castro Alves". O resto é repetição. Sim, quase me esqueço: vale por "Capitães da Areia". O resto não tem conteúdo. "Terras do sem fim" é portentoso documento da conquista da terra do cacau.

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Manual curioso escreveu Cornel Lengyel: "Presidentes dos Estados Unidos". Traços biográficos e principais atividades de cada um no exercício da primeira magistratura.

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Para compreensão do jornalismo moderno, torna-se obrigatória a leitura de "As novas dimensões do jornalismo", de mestre Celso Kelly.



In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 3, 26 nov. 1971.

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