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segunda-feira, 12 de maio de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (91)



Altevir Alencar envia-me de Fortaleza êste comentário:

"É perfeitamente sensível o revigoramento que experimenta, de uns cinco anos a esta parte, a vida literária piauiense. Sinal benefício ou prenúncio de novos estágios intelectuais? Não sei. Sei apenas que hão aparecido valores novos, ao mesmo tempo em que homens de letras já conhecidos por vias de obras impressas, voltam a atuar nesse campo ainda praticamente inexplorado da cultura social.

Em 1969 tivemos a publicação de considerável número de obras em prosa e verso, indo desde o conto ao romance, da trova ao poema.

Nesse ano, que já vai a meio, é expressivo o número de brochuras dadas à publicidade, principalmente em Teresina, através da Companhia Editôra do Piauí S/A.

Com efeito, o panorama literário piauiense pode ser descortinado com satisfação. O campo é vasto. A terra é boa. Há matéria prima de primeira qualidade. Inicia-se o trabalho de exploração. E os primeiros resultados saídos dos albores da Década da Educação, são incentivadores.

Vimos de concluir a leitura agora - por exemplo -, do livro SALMOS DO MEU DESTINO. Livro de estréia, segundo nos aprece (não há bibliografia). Sua autora, a poetisa JUDITH SANTANA, até agora desconhecida do grande público de sua terra, aparece, surge, neste livro, como verdadeira revelação de uma vocação inata para cantar as belezas humanas e telúricas, com características pessoais. Ainda há pouco acompanhamos o ruidoso lançamento de MEUS POEMAS ÚTEIS, do jovem beletrista teresinense HERCULANO MORAES, e sôbre quem nos referiremos em próximos dias, aqui nesta coluna.

Nos poemas de JUDITH SANTANA brilha o raio meridiano de uma inteligência burilada. Nem por isso, nem mesmo pela segurança versicular como são talhadas as composições, desde o verso branco ao sonêto clássico, deixa-se de perceber, por trás da poetisa fluente e inspirada a personalidade de uma professôra, de uma educadora, de uma pessoa vivida na cansativa faina diuturna de educar-se, para poder educar.

O poeta não é necessariamente um filólogo. Precisa, isto, sim, obter o domínio da parte essencial do vernáculo, com que vai trabalhar, sem prejudicar, com esta ascendência gramatical, a beleza natural e a ternura dos versos que produzirá.

É o caso de JUDITH SANTANA. Essa poetisa que nos afigura uma esperança para a poesia de sua terra, consegue, em SALMOS DE MEU DESTINO, conciliar os interêsses do magistério, que brincam em seu cérebro, às ternuras da frase desfeita em versos, que nascem de seu coração.

Tem, não resta dúvida, recursos para ir muito além. Poderá não só acompanhar o revigoramento que está latente nas letras contemporâneas do Piauí, mas ultrapassá-lo, na medida exata de seu valor.

Temos lido poucos livros - cá na província - de tão elevado valor espiritual. SALMOS DO MEU DESTIBO é uma mensagem de amor e de fé. Parece-nos mesmo, uma profissão de fé. O juramento de uma poetisa que desponta como um sol, iluminando tôdas as áreas em seu derredor.

E isto é muito salutar, sobretudo por que sua poesia é autentica, humana, original, prenhe de equidade, nesta época de tantos disparates".
    


In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 16 jun. 1970.

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