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quarta-feira, 11 de junho de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (109)

A GRANDE VERDADE - Sousa Santos, na Câmara, patriòticamente: "Apesar do maravilhoso trabalho da SUDENE, há que considerar o flagelo das sêcas no Nordeste, não serão [apagado no original] tímidos projetos de irrigação em curso que terão [por] virtude alimentar os milhões de patrícios, que, famintos e desesperados, reiniciam sua periódica e penosa migração, abandonando lavouras e [?], sob o torturante imperativo de sobrevivência ou, como se fôssem êles multidões de novos e biblícos Josés, vendidos pelos próprios irmãos”.

Observação. Estou de garganta cansada. Faz três anos prego às areias do deserto ou aos peixes. Os homens abandonaram o criador e o agricultor. É triste dizer que o boi não é mais riqueza do Piauí. As comunidades municipais, há anos, estão voltadas para as obras de fachada: parques infantis, comissariados, cadeias, praças, campos de futebol. Grupos escolares também. Aumento de salas de aula. Interessante: certas unidades escolares são construídas em áreas que não oferecem as mínimas condições de funcionamento: não há professores, nem alunos. Não se estudam as condições sociais e econômicas da área para a construção de tais unidades. O pior está em que o agricultor e criador ficaram marginalizados.

MAPA DE PRESIDENTES - A Editôra Arte Nova, muito bem intencionada, fêz mapa dos presidentes da República brasileira. De Deodoro a Médici. Soube que o consultor intelectual do mapa foi Pedro Calmon, historiador de fôlego, membro da Academia Brasileira de Letras. Mas existem falhas no mapa, e delas deseducadoras dos que o lêem. Ei-las: 1) Em Deodoro da Fonseca diz-se que o Proclamador foi Presidente por designação da Constituição de 1889. Nunca dos nuncas. Deodoro assumiu o poder quando não havia constituição republicana. Promulgada a Carta, esta chancelou o período do govêrno e determinou que o presidente do primeiro período fôsse eleito pelo Congresso. Deodoro foi eleito, indiretamente. Acontece é que a Constituição é de 1891, e não de 1889. 2) Atribui-se a Campos Sales o Código Comercial Brasileiro. Mas êsse Código pertence ao Império. 3) Esqueceu-se o mapa de registrar que Vitoriano Pereira estêve na presidência por quatro meses, em substituição a Prudente de Morais, doente, e que Rosa e Silva também assumiu o Executivo no período da viagem de Campos Sales à Argentina. 4) Interessante: o mapa cita que Washington Luís foi apeado do poder no dia 24-10-30. Certo. E acrescenta que Getúlio assumiu a 3-11-30. Certo. Deixou de registrar o govêrno da Junta Militar (dois generais e um almirante). 5) Pelo mapa, Epitácio Pessoa substituiu a Rodrigues Alves. Não. Eleito pela segunda vez presidente, Rodrigues estava doente. Faleceu antes da posse. E a presidência passou ao vice, Delfim Moreira, que, de acôrdo com a Carta Constitucional, convocou eleições. Foi eleito Epitácio. 6) Sustenta-se que Afonso Pena afastou-se do poder, doente, em 1909. Se a memória não em falha, deu-se o afastamento em 1908. 7) Atesta-se que Getúlio foi designado pela Constituição de 1934 para governar o país. Não. Getúlio foi eleito pelo Congresso. 8) José Linhares não figura no mapa. Linhares foi presidente da madrugada de 30 de outubro de 1945 a 31 de janeiro de 1946. E presidente constitucional na linha sucessória. Getúlio renunciou ao poder, premido pelas Forças Armadas. Não havia Congresso. O sucessor estava, como estêve, com o presidente do Supremo Tribunal Federal (Linhares). 9) Diz-se que Dutra foi Ministro da Guerra durante dez anos. Errada. Reduza-se: sete anos. 10) E mais: Dutra exerceu o poder até 1950. Errado. Exerceu-o até 31-1-1951. 11) Café Filho não se licenciou no dia 8.11.55, substituído por Nereu Ramos. Café licenciou-se nos primeiros dias de novembro e foi substituído por Carlos Luz. Também Nereu Ramos não era presidente do Senado, pois a Presidência estava vaga, com a subida de Café ao poder. Nereu era 1º vice. 

  

In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 15 jun. 1970.  

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