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terça-feira, 14 de outubro de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (187)

DE LUIS Pereira da Silva: "Na história das línguas românicas fala-se muito na palavra LÁCIO. Eu lhe pergunto: é uma região, estado ou cidade e que papel tão importante exerceu na criação de nosso português? Por quê?RESPOSTA. Lácio era um território muito limitado da margem esquerda do rio Fibre. Dialeto falado pelos habitantes: o latim. Nesse território, onde se elevam as sete colinas, foi fundada Roma. Pouco a pouco, de conquista em conquista, Roma estende o seu domínio por grande parte do mundo conhecido. E o latim torna-se a língua universal do célebre Império Romano. A extraordinária expansão romana levou o latim a muitas áreas, nas quais os povos dominados deturpavam a fala romana (latim vulgar) e disso resultou a transformação do latim em outras falas usuais, conhecidas como línguas romanicas (português, inclusive).

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MURILO Resende, para justificar o Albertão (quinhentos mil contos por um terreno na Tabuleta) afirmou a Lopes dos Santos que Teresina terá, em 1980, mais de quinhentos mil habitantes. Murilo, certamente, vai proibir o uso da pílula e mandar buscar magotes de indianos, que residirão nos pombais do Parque Piauí. Sabe Murilo que a taxa de crescimento demográfico no Brasil foi de três por cento entre 1950 e 1960, quando não se fazia uso da pílula. Murilo acha que população grande corresponde a progresso. Nunca dos nuncas. Eis pedaços do ensinamento de Simonsen: "A explosão demográfica pode ser desejada por um Govêrno cuja principal preocupação não seja a de melhorar os padrões de vida do povo, mas a de fortalecer os quadros da sua infantaria". E mais: “Entretanto a aritmética muda, quando no voltamos para as nações subdesenvolvidas, essencialmente preocupadas em melhorar sua renda per capita, mas freadas pelo pêso da explosão demográfica". Mais ainda: "Quatro razões explicam porque o crescimento demográfico acelerado contribui negativamente para o aumento da renda per capita: o efeito aritmético, o efeito infra-estrutura social, o efeito pirâmide-etária e o efeito emprêgo". Caso Murilo queira, passe aqui pela redação (de tarde) para uns dedos-de-prosa a respeito dessas razões. Veja logo o efeito pirâmide: "Um crescimento demográfico muito rápido modifica a composição da população por idades, tornando percentualmente muito elevada a faixa das crianças e jovens aquém da idade de trabalho. O censo de 1960 revelou que quarenta e dois por cento da população brasileira da época não chegava aos quinze anos".

Há imperiosa necessidade de uma política populacional. O próprio Papa aceitou a planificação familiar pelo método Ogino-Knaus. E o que mais se vende hoje, no mundo, é pílula anticoncepcional.

Murilo deseja o dôbro de gente em Teresina para 1980. Volta-se, assim, contra o Programa Estratégico de Desenvolvimento, elaborado pelo Ministro do Planejamento - "um grande passa para definir a política demográfica brasileira, levando em consideração a situação atualmente existente e as perspectivas do crescimento populacional".

Leia-se Rubens Vaz da Costa: "Embora as proposições ainda sejam bastante cautelosas, face aos graves problemas de crescimento da população, essa iniciativa do Govêrno Federal - que pela primeira vez traça uma política demográfica RESTRITIVA - é bem vinda, e de há muito já deveria ter sido tomada".

Simonsen arremata: "De fato, qualquer política de contrôle populacional tem que partir do postulado básico do respeito às liberdades individuais. Cada família deve ter o direito de escolher livremente a dimensão que desejar. Êsse direito, todavia, só se poderá exercer na sua plenitude quando a população tiver acesso a tôdas as opções, uma das quais é a do uso dos anticoncepcionais modernos".

Em verdade, Murilo tem razão: é preciso parir muito menino para lotar o Albertão no ano da graça de mil novecentos e oitenta. O Albertão vai enricar alguns e empobrecer um povo. Já enricou um deputado (quinhentos mil contos-terreno) e uma firma de Belo Horizonte, que abiscoitou seiscentos e quarenta mil contos pelo projeto do referido.

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KARLA pergunta: "Que caracteriza um porto organizado, seja marítimo ou fluvial?” RESPOSTA. Pôrto, ensinam as enciclopédias, é abrigo (costeiro ou fluvial), natural ou artificial, próprio para receber navios. Os Aliados, na Segunda Grande Guerra, desembarcaram na França (1944) por meio de dois portos artificiais. O Pôrto militar (organizado) deve estar protegido contra ataques, oferecer bacia segura para os navios ancorados, possuir arsenal provido de docas, oficinas mecânicas e armazéns de abastecimentos. O pôrto de comércio terá docas e entre postos gerais, e muitas bacias. Será dotado de tôdas as facilidades para carga e descarga de mercadorias. Alguns dos principais portos do mundo: Roterdã (Holanda), Londres e Liverpool (Inglaterra), Antuérpia (Bélgica), Hamburgo (Alemanha), Marselha (França), Nova Iorque, o mais importante, São Francisco e Filadélfia (EEUU), Buenos Aires (Argentina), Xangai (China), Santos e Guanabara (Brasil).

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NINGUÉM pode esconder: a ARENA piauiense semelha notável saco-de-gatos. Atritos em muitos lugares do interior. As lideranças vivem desprestigiadas pelo governador Alberto Silva, mudas, retraídas. Um senador rompido: Fausto Castelo Branco. Um ex-governador confinado: João Clímaco de Almeida. Outro senador, Helvídio Nunes, desprezado. Não se entendem bem o governador e o prefeito da capital. Homero Castelo Branco atesta cobras e lagartos do secretário Pádua Ramos. O líder do govêrno na Assembléia desmente o secretário de Fazenda, e rebaixa-o, quando afirma que não mantém audiência com secretário, sim com o governador. E anula a autoridade de Rupert Macieira (aliás, bom secretário), quando derriba um colega em Piracuruca. O líder da ARENA, José Raimundo, vai acusado pelo deputado arenista Wilson Brandão de corrupção. José Raimundo defende-se. Amabilidades são trocadas no parlamento piauiense:

José Raimundo - Vossa Excelência tem cultura enlatada.

Wilson Brandão - A cabeça de Vossa Excelência é muito grande, mas vazia.

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Que cousas! Dessas desagregações o MDB vai enchendo o papo. A ARENA vive em desassossego justamente porque se menosprezaram as lideranças, os comandos reais e efetivos. Partido desagregado é partido sem atuação. Os partidos são o elo indispensável entre o povo e a estrutura representativa do govêrno. São os partidos que organizam o povo heterogêneo, popularizando ideias em tôrno das quais são organizados os programas de govêrno.



In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 6, 29 dez. 1971.

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