DESSA extraordinária
figura humana que se chama Félix Aires, do Rio, com data de 9-12-71: "Tito Filho. Recebi e já entreguei o ofício
de designação dos acadêmicos Cristino Castelo Branco, Martins Napoleão, Bugyja
Britto e Moura Rêgo como representantes da Academia Piauiense de Letras junto à
Federação das Academias de Letras do Brasil. Brevemente estarei em Teresina
para conversar com o amigo e tomar um sorvête de bacuri. Divulgue êste regime
alimentar para a velhice: arroz integral, pão integral, legumes, verduras,
feijão, bôlo de bacalhau com cará, abóbora cozida, grão-de-bico. Tempêro: óleo,
alho e um sal especial. Frutas: mamão, melancia, morango, maça. O regime
emagrece o paciente, mas os achaques da velhice desaparecem".
X X X
Outra recomendação de
Karla: "Peço que diga a função
sintática de todos os elementos das sentenças: "Admira-se a
Bernardes" - "O livro é meu”. RESPOSTA. Primeira oração. Sujeito
indeterminado. O pronome SE indica tal indeterminação. Predicado é o verbo. Objeto
direto: a Bernardes. Trata-se de objeto direto preposicionado, de que em alguns
casos a gente pode fazer uso. Um dos casos: quando o objeto direto aparece
representado por nome de pessoa. Segunda oração: o predicado é o verbo.
Sujeito: o livro. O artigo aí faz papel de adjunto adnominal. MEU funciona como
predicativo do sujeito.
X X X
Livros recomendados
para leitura: "Deus e o Homem na
Poesia e na Filosofia", de Amorim de Carvalho; e "La Fragmentacion Linguística de la Romania",
de Wartburg.
X X X
Outro mandamento de Karla:
"Faça a distinção entre TE e TI".
RESPOSTA. Os pronomes chamados oblíquos átonos aparecem com verbos: antes do
verbo, depois do verbo, no meio do verbo. É ocaso do pronome TE. Empregam-se os
oblíquos tônicos quando acompanhados e preposição. É o caso de TI.
Exemplificação: ABRAÇO-TE, DEI A TI, FALEI DE TI, ENTRE TI E MIM.
X X X
CONCURSO de dança: o
casal que conseguir dançar quarenta horas, seguidamente, ganhará dois mil
cruzeiros de premiação. A isto se está chamando de A FESTA DO SÉCULO. Pobre
mocidade. Pobre Teresina. Há três ou quatro anos aqui estiveram médicos, psicólogos,
sociólogos, economistas. Realizaram inquéritos. Com alguns conversei.
Revelaram-me que Teresina é a cidade brasileira em que mais há preocupação com
futilidades, com superfluidades. Espantoso. De um de janeiro a trinta e um de
dezembro - festas, festinhas, festocas, festanças. Comes e bebes. Rainha disto
e rainha daquilo. Misse de qualquer cousa. Fartança de tertúlia. Clubes das
mais variadas denominações. Afrontosas a ociosidade e a dissipação das classes
altas. Afrontosa a uma cidade pobre, de aflitivos problemas sociais. Cidade
paupérrima, bairros sujos, de sentinas de buracos, cidade escura, lixenta,
desarborizada, desnutrida. Mendicância nas ruas, meretrício que é a fisionomia
doente da cidade. E a juventude? Que se está fazendo pela juventude? Então é possível
educar com o ócio e com o supérfluo? Vive-se aqui de bródios, de ceias
esticadas, de reuniões para o vazio. E venha concurso de dança. Rebolado de
quarenta horas. Parece que ninguém preza a saúde dos moços. Quanto mais a
mocidade receber a mensagem de que a vida é prazer, luxo, brutalidade,
materialização da vida - melhor. As livrarias vivem às môscas. Agoniza a vida
intelectual. Constituem CAFONICE os assuntos culturais. No Dia da Cultura, o
govêrno preocupa-se com o episódio Pelé. Desde o despontar do dia até o
instante em que as tertúlias encerravam atividades - Pelé foi vedete. E Rui
Barbosa fazem paz no túmulo.
X X X
O NOBRE professor
Pedro Vasconcelos Filho encaminhou-me diploma de Honra ao Mérito do MOBRAL
NACIONAL, concedido "pela participação no processo de erradicação do
analfabetismo, contribuindo assim para o desenvolvimento de sua comunidade e
para a promoção do Homem Brasileiro". Diploma assinado pela figura
exponencial do padre Felipe Spotorno, Secretário Executivo do Movimento
Brasileiro de Alfabetização. Conheci-o em Brasília ano passado. Guardo do padre
Felipe impressão magnífica. Impressão da sua fé, da sua coragem cívica, do seu
amor à causa que lhe confiaram. Não sei se mereci a diplomação. Tenho, porém,
consciência tranquila de haver contribuído para o trabalho do MOBRAL no Piauí,
solidário sempre com êsse combatente do bom combate, Pedro Vasconcelos Filho.
X X X
Em mensagem à
Assembléia Legislativa, escreveu o governador Alberto Silva: "Lembrando que, praticamente, todos os
Estados do Norte e Nordeste e todos os Estados da União já possuem, ou estão em
fase adiantada de programação e construção dos seus Estádios Estaduais, não
poderia o govêrno, preocupado em reformular conceitos e integrar efetivamente o
Piauí na nova mentalidade implantada no Brasil pelo Governo da Revolução,
deixar de tomar a corajosa iniciativa que se propõe". OBSERVAÇÃO: A
CORAJOSA INICIATIVA nada mais é do que a construção do ALBERTÃO, estádio para
sessenta mil pessoas, numa cidade que tem pouco mais de duzentos mil
habitantes. Duvido que seja MENTALIDADE revolucionária o desperdício de
dinheiro com elefantes brancos, com estádios faraônicos. Só o terreno,
quinhentos mil contos, pertencente a deputado federal da ARENA. Projeto da monstruosidade:
seiscentos e quarenta mil contos, pagos a uma firma mineira, entusiasmada de
tanto dinheiro. Engana-se o ilustre governador ao afirmar que todos os Estados
possuem ou estão programando estádios de futebol, principalmente estádio tipo
pêso-morto, infalivelmente deficitário. Não possuem estádios estaduais nem os
programando ou construindo: Acre, Pará, Maranhão, Paraíba, Espírito Santo,
Estado do Rio, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul. O
grande estádio Beira rio de Pôrto Alegre, é particular, e o único que se vem
autosustentando por tudo que ali se vende é fabricado pelo clube Internacional. Comentário do dito Armando Nogueira,
comentarista do Jornal do Brasil,
demonstrou, numa série de artigos, que êsses espalhafatosos estádios oferecem
prejuízos incalculáveis. Como o de Manaus (Tartarugão), o da Guanabara
(Maracanã), o e Belo Horizonte (Mineirão), o de Aracaju (Batistão). A única
vantagem que êles proporcionam - sustenta Armando - se relaciona com os
governadores, que dão o nome aos tais bois. O ex-governador Castelo, do Ceará,
iniciou o Castelão - e a triste herança passou a Cals. O sr. Aluisio Alves
trombeteou o de Natal, batizado Aluisão, recebido pelo finado governador Gurgel
(sacerdote católico). E lá se encontra inacabado o pomposo elefante. O de
Maceió, o Pelezão, dá tanto prejuízo ao govêrno que o governador das Alagoas
deseja livrar-se dêle por qualquer preço, segundo me confessou Rodrigues Filho.
Observe-se que o Estado da Guanabara tem população metropolitana de mais de
sete milhões de habitantes, grande parte louca por futebol, com torcidas
organizadas, e o Maracanã vive quase sempre sêco. Lotação do Maracanã: cento e
cinquenta mil pessoas para a população referida, enquanto aqui, nesta Teresina
grávida de problemas - de pauperismo aviltante -, população de duzentos mil, se
pretende um estádio para sessenta mil pessoas, em bairro distante. quem vai
lotar essa praça faraônica? O futuro dirá de que lado se encontra a razão. E
haverá necessidade de que se apurem responsabilidades.
X X X
Prometi, no jornal de
domingo, algumas considerações a respeito da literatura piauiense. Faltou-me
tempo. Fica o assunto para quinta-feira.
In: TITO FILHO, A.
Caderno de anotações. Jornal do Piauí,
Teresina, p. 2, 21 dez. 1971.
Nenhum comentário:
Postar um comentário