Eis resumo dos acontecimentos da célebre
Batalha do Jenipapo. Dos antecedentes e da própria Batalha. Fiz o levantamento
depois de esforçada consulta a autores de boa cepa. De mim, apenas o trabalho
de leitura atenta e demorada. Os estudiosos que corrijam falhas e supram
lacunas.
ANTECEDENTES
I - Em abril de 1821, D. João VI deixava o
Rio de Janeiro e regressava a Portugal. Os negócios do país ficaram com o
filho, príncipe D. Pedro.
II - Já em abril de 1822, em Oeiras, o
brigadeiro Manuel de Sousa Martins abraçava a causa separatista entre Brasil e
Portugal. Campanha surda. Conspiravam-se nas fazendas, por tôda parte.
Sucederam-se os pasquins, em Oeiras, Campo Maior e Parnaíba. Instigando o povo
contra os portuguêses.
III - Dia 8 de agôsto de 1822, chega a Oeiras
o sargento-mor João José da Cunha Fidié, Comandante das Armas. Empossou-se no
dia seguinte, para escrever uma das maiores páginas da nossa História.
IV - Em Parnaíba, a campanha separatista era
comandada por Simplício Dias da Silva.
V - Em Campo Maior, estava à frente da
campanha Lourenço de Araújo Barbosa, logo chamado a Oeiras.
VI - A 19 de outubro de 1822, foi proclamada,
em Parnaíba, a Independência do Piauí, por Simplício Dias da Silva, João
Cândido de Deus e Silva, Domingos Dias, José Ferreira Meireles, Bernardo
Antônio Saraiva, Ângelo da Costa Rosal, Bernardo de Freitas Caldas e Joaquim
Timóteo de Brito.
VIII - Fidié segue para Campo Maior, onde
pretendia estabelecer o centro das operações, e sufocar o movimento
independente de Parnaíba.
IX - Viagem penosa a do Comandante português.
Não havia chuvas. Nada se prestava à alimentação do gado. Sêca desoladora. De
árvore a carnaubeira. Êsse o cenário que a tropa de Fidié encontrava na longa
caminhada. Depois de léguas e léguas - uma casinha, de que fugiam para os matos
os habitantes. Os soldados saqueavam essas habitações e deixavam-nas em
miseráveis condições. Rios esgotados. Não havia água. A 25 de novembro de 1822,
Fidié avista a cidade de Campo Maior.
X - O Comandante português delibera seguir
para Parnaíba. Sabedores do fato, os cabeças do movimento independente deixam a
cidade e rumam para o Ceará. Fidié chega a Parnaíba no dia 18 de dezembro de
1822.
XI - Dia 24 de janeiro de 1823, o Brigadeiro
Manuel de Sousa Martins proclama a independência do Piauí em Oeiras.
XII - Chegam ao Piauí fôrças do Ceará. Duas
divisões. Uma comandada pelo Capitão José Francisco de Sousa; a outra, pelo
Capitão de 2ª linha Luís Rodrigues Chaves. Esta última entrou em Campo Maior no
dia 12 de fevereiro de 1823 (cem homens). A outra ficaria em Piracuruca. A
divisão de Campo Maior possuía armamento quase imprestável, sem munição nem
petrechos bélicos. Reinava em Campo Maior absoluto desrespeito à vida e à
propriedade. Roubavam-se os bens dos portuguêses. Em Piracuruca, desertaram
quase todos os soldados de José Francisco de Sousa. Reuniram-se aos índios e
atacavam e roubavam sertanejos.
XIII - Em Parnaíba, Fidié tivera tempo
bastante para disciplinar a sua tropa e receber material bélico do Maranhão.
XIV - Começam a desertar os soldados da
divisão cearense de Campo Maior. A sêca chegara ao período mais agudo.
Saqueavam-se igrejas. O Comandante da divisão de Piracuruca deu parte de doente
e foi embora. Houve deserção total.
XV - Não chegava o auxílio que se prometeu,
do Ceará, aos homens que se encontravam em Campo Maior.
XVI - Dia 1º-3-1823, com mais de mil homens,
Fidié marcha rumo de Piracuruca. Entrou sem disparar um tiro. Continuava sêca
terrível.
XVII - Leonardo de Carvalho Castelo Branco
estêve em Campo Maior e aquartelou-se na fazenda Melancias. Foi preso e remetido
para Lisboa.
XVIII - A prisão exacerbou ânimos. Fidié
aproximava-se de Campo Maior. Depois de abandonar Piracuruca, o Capitão João da
Costa Alecrim aquartelou-se no Estanhado (União). Luís Rodrigues Chaves, por
intermédio de emissário, com êle entrou em entendimento. Reuniram-se a Alecrim
o baiano Salvador Cardoso de Oliveira e seu irmão Pedro Francisco Martins.
XIX - Alecrim segue para Campo Maior com a
tropa de Salvador. Marcha cansativa. A Campo Maior chega também o Capitão
Alexandre Nery Pereira Nereu, com soldados do Ceará.
XX - Luís Rodrigues Chaves convocou o povo.
Do vaqueiro ao roceiro todos se apresentaram. Perto de dois mil homens,
formados frente à Igreja de Santo Antônio.
XXI - Poucas espingardas com os cearenses. Os
piauienses conduziam velhas espadas, facões, machados e foices.
A BATALHA
XXII - Dia 13-3-1823. A tropa, cedo, seguiu
para o Rio Jenipapo, que forçosamente, srria atravessado por Fidié. Terreno
plano. Junto às margens do rio, arbustos. Os brasileiros ocultam-se no leito
sêco do rio e muitos nos arbustos das ribanceiras. Nas proximidades da margem
direita, a estrada repartia-se em duas: Alecrim e Chaves guardariam ambas. Mas
no ponto de bifurcação, Fidié dividiu as fôrças em duas alas. Uma, da
cavalaria, seguiu pela entrada da direita; a outra, da artilharia, comandada
por Fidié, seguiu pela esquerda.
XXIII - Primeiro encontro com a cavalaria,
fortemente repelida pelos cearenses. Os portugueses retrocederam e fugiram. Os
brasileiros passaram a examinar se deviam perseguir a cavalaria portuguesa.
Enquanto isto, Fidié passou o Jenipapo, escolheu lugar, dispôs as tropas.
Esperou o ataque. Os brasileiros partiram precipitadamente e foram alvejados
com onze peças de artilharia. Desigualdade de fôrças.
XXIV - O recurso era atacar os portuguêses ao
mesmo tempo por todos os lados e separá-los. Houve tentativa, logo repelida.
Outra. Também repelida. Outros ataques com grande perda de vidas. A fuzilaria e
as peças varriam o campo. Muitos morriam à boca das peças. Dominou-os o
cansaço. As armas caíam-lhes das mãos. Não combatiam mais. Buscavam a morte.
XXV - O combate durou das nove da manhã às
duas horas da tarde. Às duas horas começou a retirada, em desordem. Não estava
Fidié em condições de perseguir os fugitivos depois de cinco horas de combate,
sob sol ardente.
XXVI - Não se sabe o número de mortos de
Fidié. Os seus soldados foram reunidos em cinco sepulturas. Calcula-se em
dezesseis os mortos. Sessenta feridos. Mais de quinhentos brasileiros
aprisionados. E mais de duzentos, entre mortos e feridos.
XXVII - Fidié tratou de abandonar o campo de
luta. Era necessário ocupar Campo Maior. E Fidié para isto se preparava quando
o avisaram de ter sido roubada parte de sua bagagem de guerra: munições, armas,
dinheiro e os despojos de Parnaíba. Era loucura marchar contra Oeiras. Ficou
Fidié a uns dois quilômetros de Campo Maior.
XXVIII - Começam tropelias em Campo Maior.
Vários portuguêses foram assassinados. Dia 16 de março, Fidié seguiu para o
Estanhado (União). Daí, para Caxias.
XXIX - Dia 25 de março, chegaram ao Mocha
(Oeiras) os homens de Alecrim, Salvador, Rodrigues Chaves e Pedro Martins.
CONCLUSÃO
A luta no Piauí decidiria a unidade
brasileira. A iniciativa coube ao coronel Simplício Dias da Silva, rico e
viajado. Sôbre os destroços da sua riqueza, edifica-se a unidade da pátria. A
obra de Simplício foi gigantesca. O Norte era autêntico satélite de Portugal.
No Sul, a Independência foi aplauso e festa. No Norte, fome e peste, sangue e
morticínio. Jenipapo foi carnificina pavorosa.
In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 7, 21 nov.
1971.
Nenhum comentário:
Postar um comentário