COPIO da revista "Geografia Ilustrada", recentemente editada: "O Piauí representa sintomas típicos de
região subdesenvolvida, seja qual for o diagnóstico empregado. Grande
participação do setor primário na composição da renda interna, pouca
industrialização, grande concentração populacional na zona rural, baixo consumo
de energia elétrica. Em 1969, quando a renda per capita do Brasil era estimada
em mais de trezentos e cinquenta dólares, a do Piauí não chegava a sessenta.
Considerando apenas o Nordeste, ainda assim ela é duas vezes menor do que a de
Sergipe, por exemplo. Mais expressivo do que qualquer indicador econômico,
entretanto, é o próprio nível de vida do povo". E acrescenta a
revista: "Na zona rural a
alimentação geralmente se compõe de café matinal, acompanhado de um pedaço de
pão e beiju de tapioca. A segunda refeição costuma ser à base de carne-sêca,
feijão, farinha de mandioca e milho. Esta dieta, de baixo teor de proteínas,
não basta para o duro trabalho no pastoreiro ou na lavoura. O resultado é a
subnutrição, tornando o organismo vulnerável a quaisquer doenças. O nível
educacional acompanha o que ocorre na maioria dos Estados nordestinos, com o
analfabetismo secundado por altas taxas de evasão escolar. O problema é
agravado no campo, onde o calendário escolar coincide quase sempre com o
período das colheitas". OBSERVAÇÃO. Eis aí o quadro que não me canso
de mostrar e demonstrar. Enquanto isto se passa, vive-se nesta terra de festas
e da construção de obras suntuárias. Teresina é a cidade dos clubes e das
tertúlias e dos natais dos pobres. Há mais clubes em Teresina do que sapo na
fonte luminosa da praça de São Benedito.
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O PRESIDENTE Acióli, da Cepisa, deve, com
urgência, liquidar abuso que se vem praticando. Abuso, só, não. Extorsão. Pois
a Cepisa está cobrando TAXA DE RELIGAÇÃO sem desligar a luz da casa do depenado
contribuinte. Cobra-se a taxa por serviço público que se presta. Se a luz NÃO
FOI RELIGADA, como é possível a cobrança do tributo de religação?
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CARTA de José Marques de Oliveira, de
6.12.71: "Caro mestre. Solicito seu
comentário a respeito das alterações introduzidas no Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguêsa de 1943, pelo acôrdo assinado em 22.4.71 pela Academia
Brasileira de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa, cuja matéria se
encontra na capa do primeiro volume do Pequeno Dicionário da Língua Portuguêsa
Ilustrado, publicado em fascículos pela Abril Cultural". OBSERVAÇÃO.
Muito admiro a José Marques de Oliveira, pelo interêsse que êle devota a
assuntos de cultura e de educação. Ainda não li o acôrdo. Não sei se o govêrno
o aprovou. A revista "Manchete"
escreveu que está sendo redigida de conformidade com as alterações aprovadas.
Lendo a revista e observando as normas de redação, verifiquei que o acôrdo
determina supressão de acentos gráficos em três casos: o chamado acento
diferencial (EMPRÊGO, substantivo, e EMPREGO, verbo). Como se sabe, o acôrdo de
1943 rezou que êsse acento diferenciava a pronúncia aberta e fechada das
palavras de escrita idêntica (homográficas). Outro caso: abolição do acento
grave e circunflexo dos advérbios terminados em MENTE. Pela reza de 1943, êsses
advérbios têm acento grave quando derivados de adjetivos com acento agudo:
pálido - pàlidamente. E têm acento circunflexo quando derivados de adjetivos
com acento circunflexo: cômoda - cômodamente. Terceiro caso: o nôvo acôrdo
manda suprimir o acento grave e o circunflexo dos derivados em que aparece a
letra Z como consoante de ligação. às vezes o sufixo se liga ao primitivo por
consoante de ligação. Se o primeiro possui acento agudo ou circunflexo na
última sílaba, há necessidade de ligar o sufixo por consoante: de CAFÉ, por
exemplo, se faz CAFETEIRA. O sufixo é EIRA. Mas a consoante de ligação não foi
o z. Então, no derivado desaparece o acento da palavra primitiva. Veja-se
cafèzal. Sufixo, AL, ligado pelo z. Aí, no derivado, o acento agudo de CAFÉ
passa a grave no derivado. Observe-se avôzinho. Sufixo INHO ligado por z. No
derivado conserva-se o circunflexo de AVÔ. E mais: o nôvo acôrdo manda abolir o
trema, em qualquer caso. Gostei das alterações. Muito simplificam a escritura.
De parabéns os jovens escolares, que sempre tropeçavam na utilização dêsses
sinais. Ainda não estou prestando obediência a tais normas porque desconheço a
sua oficialização.
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Asseguram-me que alguns altos auxiliares do
governador Alberto Silva residem em casas cujos aluguéis são pagos pelos cofres
públicos. Aluguel de dois mil contos mensais (dois mil cruzeiros). Verdadeira
INDÚSTRIA esta de aluguel de prédios residenciais à administração. Há
proprietários que deixam as suas residências próprias e passam a alugar casa
alheia, na base de trezentos ou quatrocentos mensais, enquanto pela sua o
govêrno paga de mil e quinhentos a dois mil. Negócio rendoso. Se verdadeira a
informação que me deram, acredito que o critério do governador Alberto Silva
golpeará tal INDÚSTRIA.
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Ouvinte de programa de rádio que realizo
pergunta-me se o inspirado e talentoso poeta Carlos de Oliveira Neto
(piauiense) é parente de Rui Barbosa (Rui Caetano Barbosa de Oliveira). Acho
que sim. Neste país todos são parentes. Mistura dos safados colonizadores
portuguêses, de índio e de negro. Manuel Bandeira teve essa visão "tanto em face do passado que se evoca quanto
em relação ao presente que se admira". Leiam pedaços do poema NÃO SEI
DANÇAR:
"Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí porque vim assistir a êste baile de
Terça-feira
gorda
Mistura muito excelente de chás...
Esta foi açafada...
Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal.
Tão Brasil!
De fato êste salão de sangues misturados
parece o Brasil".
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Uma velha cantiga brasileira diz também que
TODOS NÓS SOMOS FIDALGOS DUMA BANDA SÓ. Deu-se o negócio com um sujeito chamado
Nogueira. Salafrário. Criminoso. Ladrão. Pai fidalgo e mão mulata. Amaro
Joaquim, governador da Paraíba, desejava condená-lo à morte. Mas o pai de
Nogueira era fidalgo. A mãe, porém, mulata. Resolveu o governador que o patife
recebesse chicotadas no pelourinho, como escravo. E mandou açoitá-lo só pela
metade, pela metade de mulataria materna. Estória contada por Koster.
Referindo-se à decisão do governador Amaro Joaquim, escreveu o saudoso Gustavo
Barroso: "Os inúmeros réus de nossa
República bem andam precisados dum Amaro Joaquim em miniatura. Acabaram-se os
privilégios da nobreza, e do sangue dela não resta mais uma gota nas veias dessa
gente que anda por aí... Dos altos sentimentos da velha fidalgaria também nada
mais resta... E os fidalgotes do nosso regime hoje em dia não têm mais valor
algum que os salve. Grande falta faz um Amaro Joaquim que enèrgicamente os
desembuce, arrancando-lhes os capuzes negros da hipocrisia com que come tem as
maiores vilanias, que os leve ao pelourinho infamante da praça pública e, pela
mão soez e possante do algoz, os faça açoitar, não dum lado só, como ao
bastardo réprobo dos Nogueiras, porém dos dois lados, que ambos nessas figuras
de juripedantes simulados, de advogados administrativos ladravazes, de
negocistas e de tartufos, são absolutamente indignos de qualquer consideração e
ignóbeis por natureza".
In: TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 12-13
dez. 1971.
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