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sábado, 8 de janeiro de 2011

CADERNO DE ANOTAÇÕES (10)

Com o título "Piauí em Marcha", a generosidade de Cândido Marinho Rocha concebeu estas considerações publicadas na imprensa de Belém:

A convite do presidente da Academia Piauiense de Letras, Dr. José de Arimathéa Tito Filho, a nossa Academia de Letras, com auxilio de S. Excia. o Sr. Fernando Guilhon, eminente governador do Estado, ali compareceu com uma Comissão composta por Alonso Rocha, De Campos Ribeiro e pelo cronista, afim de participar do II Encontro das Academias de Letras do Brasil.

Entre os dias 16 e 19 permaneceram sob a influencia da gentileza extraordinária daquele povo. Hospedados num hotel de extremo luxo, o Piauí Hotel, ali encontramos o conforto mais exigente, desde a piscina até o elegante bar, desde o ar condicionado em todo o prédio até os ricos tapetes coloridos, desde a decoração sofisticadíssima ao serviço eficiente do restaurante, desde a atenção com que o hóspede é atingido pessoalmente pelos eficientes servidores até à alimentação farta e saborosa. Esta foi a primeira agradável surpresa que recebemos em Teresina.

A segunda, foi o imenso parque ajardinado que há em frente ao Hotel, iluminação fria perfeita e farta, gramado primorosamente conservado, em cada canto belíssimo e artístico chafariz amenizando o ar, palmeiras regionais elegantes e bem tratadas - buriti, babaçu, tucum. E, para quebrar a monotonia, belas Acácias e Oitis faceiros. Complementando o panorama o sopro afetuoso que vem do "velho Monge", o Parnaíba, que corre um pouco mais adiante.

Não podemos continuar enumerando as demais revelações de Teresina, mas devemos citar o Palácio do Governo, pintado de branco, bem ornamentado interiormente, com gosto e sobriedade. O magnífico estádio de futebol, ainda incompleto, mas já sedutor pela jovialidade de sua construção, alegria do gramado, segurança arquitetural e localização excepcional.

O rio Parnaíba, que recebe as homenagens do sistema potamográfico do Estado, formado pelos rios Uruçuí, Vermelho, uruçuí Preto, Gurguéia, Canindé, Piauí, Poti, Longá, ornamenta a cidade, dividindo o Piauí do Maranhão. Longa avenida asfaltada segue o rio e, em fileira graciosa, erguem-se amplos bares ao ar livre, onde a sociedade se reúne para comer churrasco de bode - o fino - e tomar suco de caju - o máximo.

O Estado do Piauí é geralmente acusado, por quem o desconhece, de ser possuidor de clima insuportável, quente, e por não dispor de acomodações para turistas. Negamos a fama. Todos devemos reconhecer que atualmente a terra de Álvaro Mendes e João Luís Moura Soares cresce e aparece. A média anual do clima piauiense é de 27º, a máxima chega a 39,6º e a mínima a 16,8º. Se não fosse assim, como se poderia acreditar que em 1950 o Piauí possuía 49 municípios e 1.045.696 habitantes e em 1970 chegamos a 114 municípios e 1.734.856 almas?

O que não entendemos perfeitamente é que, antes do Piauí ser colonizado, fosse ocupado pelos temíveis índios Tupis, Caraíbas e Tapuias e hoje seja habitado por gente tão fina! Suaves são os piauienses. Harmoniosas são as damas daquelas terras. Generoso e amável o trabalhador que anda nas ruas, que tudo deixa para oferecer uma informação, uma palavra amiga, uma resposta delicada. Atencioso é o vendedor do Mercado Público que, para não ofender o comprador, diz-lhe o preço da mercadoria em sussurro. E lá tudo é mais barato do que aqui em Belém. À margem do Parnaíba, ao longo da cidade, os jumentos conduzem cargas de palhas, melancias, coco verde, mantas de carne de sol, rapaduras, cajus, milho e mandioca.

A energia da Boa Esperança não é mais apenas esperança. Chega e, dentro em breve, veremos desmentidos, com as indústrias que não existem, mas estão na agenda do operoso governador Alberto Silva, e que nos disse Tito Filho, assim: "Repare, o que mais existe no Piauí é menino e Folhas de Pagamento..."

Os meus queridos amigos piauienses aqui residentes queiram aguardar a nova crônica, em que diremos algumas palavras a propósito de Altos, Campo Maior, Piripiri, Piracuruca, Sete cidades e dos nossos inesquecíveis confrades Tito Filho, Felício Pinto, Barros Coelho, Fontes Ibiapina.


A. Tito Filho, 20/11/1973, Jornal do Piauí.

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