NO JANTAR modesto, simples, de confraternização
espiritual dos membros da Academia Piauiense de Letras, pela passagem dos
cinquentas e quatro anos de fundação do sodalício, pronunciei palavras de muita
sinceridade. Lembrei o idealismo dos dez fundadores, dentre os quais vivos um
só, Edison Cunha, crítico, orador, advogado de têmpera. Recordei a mocidade
divina d Lucídio Freitas, os dias de entusiasmo e palpitação da Academia e os
seus tempos de marasmo, de estagnação. Não me esqueci de Simplício Mendes, estuaste
de entusiasmo, nos seus vários mandatos de presidência, e dos outros
presidentes, como Clodoaldo, Higino Cunha, Martins Napoleão, Clidenor Santos,
Álvaro Ferreira. Pratiquei justiça com Leônidas Melo, governador do Estado, que
tanto a prestigiou, editorando obras dos acadêmicos, e com o ex-governador
Helvído Nunes, solidário intransigente com as comemorações do cinquentenário. E
expus o quadro de penúria em que vive, faz tempo, a Casa de Lucídio Freitas,
sem um abrigo seu, vivendo em salas que as administrações lhe emprestam, ou
reunindo-se nas residências particulares dos seus presidentes. Constrangedora a
circunstância de a Academia possuir apenas patrimônio material de setecentos e oitenta
cruzeiros. Ao menos podia pagar a edição da Revista Acadêmica. Depois destas expressões,
houve o discurso do governador Alberto Silva, bem escrito tocado de humilde e
rico de conceitos definidores das responsabilidades dos intelectuais. No final,
a concessão de uma sede provisória à Academia Piauiense de Letras - sede que a
Academia aguarda com ansiedade.
X X X
GERARDO Almeida exerceu, com altivez, durante meses, o
mandato de vereador de Teresina (ARENA). Deixou o legislativo municipal, porque
o Superior Tribunal Eleitoral reconheceu que Osmar Mendes havia padecido
injustiça. Na eleição foi mais votado do que Gerardo. E este, de vereador,
desceu para a primeira suplência. Na Câmara, entretanto, Gerardo revelou-se
cidadão de ideias, de pensamentos, com a capacidade e o direito de DIVERGIR.
Tristes dos homens que não podem, por medo ou ignorância, utilizar-se dessa
prerrogativa chamada DIVERGÊNCIA. Não são homens. São castrações de
inteligência de dignidade humana.
Sub-homens. Verificaram-se recentemente eleições para composição dos diretórios
udenistas. Gerardo foi arredado. PUNIRAM-NO. Aliás, puniram o sublime direito
que os homens têm de PENSAR, de DIVERGIR. Mas essas PUNIÇÕES exaltam, nunca
enfraquecem a personalidade dos punidos.
X X X
DE RENATO Castelo Branco, escrevendo a respeito do Piauí
e do piauiense, em obra publicada o ano passado:
- É neste labor prematuro, que lhe é imposto desde a mais
tenra idade, não tem sequer a compensação de um regime alimentar recuperador.
Ao contrário, agravam-se as perdas orgânicas de uma vida árdua, sob o
esgotamento de um regime alimentar superdeficitário".
- "Raramente se dedica à lavoura. O roçado quando o
faz, é unicamente para a própria manutenção. O solo, arenoso nas regiões
saarizadas, ou impermeável e granítico nas chapadas, é um obstáculo invencível
aos seus parcos mios de produção. A agricultura, em consequências, não é
compensadora; só entra em segundo plano em sua vocação".
- "A estagnação era, assim, inevitável. Sobreveio a
inércia. A pobreza - aumentada pelo flagelo - dominou as populações. E a vida
do Estado, paralisada, veio assim até nossos dias".
- "As terras piauienses próprias para a agricultura,
já observava Gustavo Dodt, constituem uma parte muito pequena do total do
território, cuja parte maior não serve senão para a criação. não receio faltar
à verdade, se considero, de cem partes de todo o território, apenas duas partes
favoravelmente cultiváveis e setenta partes aproveitáveis para a criação".
- "O gado, parece-nos fora de dúvida, deveria ser o
objeto primordial da administração piauiense, arrancando a indústria pastoril
do sistema rotineiro em que se encontra, racionalizando-a, melhorando os
rebanhos, desenvolvendo as suas indústrias derivadas".
- "Desamparado o pastoreio, como se fez, não só se
prejudicou a principal indústria do Estado, como se agravou, ainda, o problema
do latifúndio, que se pretendia, com isto, combater... Longe de diminuir,
portanto, o latifúndio cresceu. As populações, em consequência, empobreceram
ainda mais. E o pequeno proprietário, transformado, por este modo, em agregado,
vinga-se a seu modo: subnutrido, produz pouco; ignorante, arrima a terra, derrubando
e queimando as matas, destruindo a casa, prejudicando a pesca pelo extermínio
irracional dos peixes".
- "E foi assim que a indústria da criação, depois de
conhecer dias áureos, decaiu. Depois de abastecer de gado desde o Pará até
Pernambuco, alcançou, em menos dias, uma situação lastimável. Oeiras, antiga
capital do Estado, que chegou a possuir uma indústria de laticínios grande e
próspera, é hoje uma cidade morta e decadente. E da indústria do charque, de
Parnaíba, que abatia, por ano, ainda em 1824, quase dez mil cabeças de gado,
hoje nada resta".
OBSERVAÇÃO. Está aí o quadro da realidade piauiense.
Miséria alimentar. No interior estagnação. O MEU BOI MORREU, mas morreu o boi
do Piauí. Cidades mortas, como as que pintou Monteiro Lobato. Miséria
habitacional. Miséria educacional pelas cidades interioranas e zona rural.
Enquanto isto, a pequena parte central de Teresina terá avenidas maravilhosas,
hotéis de luxo - e na Tabuleta se edificará estádio faraônico para sessenta e
cinco mil espectadores. Estamos como está a ALTA RODA - fugindo da realidade da
vida por através de tranquilizantes - enquanto nós fugimos da realidade pela
fantasia dos embelezamentos de avenidas e prédios, como se essas cousas
representassem PROGRESSO.
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LETRA B do Abecedário Literário do Piauí, que Félix Aires
está organizando: Bugyja Britto, B. Lemos, Breno Pinheiro, Baurélio Mangabeira,
Berilo Nves, Balduíno Barbosa de Deus, Brito Melo.
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INDICAÇÃO de José Carlos Freitas:: "Fale sobre o
PROTERRA". RESPOSTA. O PROTERRA (Programa de Distribuição de Terras e
Estímulo à Agro-Indústria) é criação do Presidente Médici para solução do grave
problema do desajuste econômico do Nordeste. Objetivo: "Promover o mais
fácil acesso do homem à terra, criar melhores condições de emprego de
mão-de-obra e fomentar a agro-indústria nas regiões compreendidas nas áreas de
atração da SUDAN e da SUDENE. O PROTERRA objetiva também: "ajuda
financeira à organização da propriedade rural, à organização ou ampliação de
serviços de pesquisas e experimentação agrícola, a sistemas de armazenagem e
silos, assim como a meios de comercialização, transporte, energia e
outros".
TITO FILHO, A. Caderno de anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 6, 1 fev. 1972.
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