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quinta-feira, 24 de abril de 2014

CADERNO DE ANOTAÇÕES (83)

DA CORRESPONDÊNCIA - De João Benício Machado de Albuquerque, com data de 31 de dezembro de 1969: "Ilustre prof. Tito Filho. Pela primeira vez lhe escrevo. Estou sempre à sua escuta, pois gosto de ouvir sábias palavras, que se refletem nas mentes de nós jovens.

"Mestre, gostaria de ouvir sua impressão quanto ao concurso realizado no INPS, para o cargo de auxiliar de serviço médico. Fui um dos aprovados no citado concurso, mas na secção competente os funcionários ficam aborrecidos quando pedimos informações e dizem "não sei de nada".

"Há quase dois anos foram realizadas as provas, e não se fale mais em nada. O mais irritante é que enorme esfôrço foi feito para que conseguíssemos um simples contrato, e a taxa de inscrição foi a mais cara já cobrada em nosso Estado. E olhe lá: de dois em dois dias a taxa subia dois cruzeiros novos. Quem tivesse interêsse na inscrição, teria que chegar nos primeiros dias, do contrário taxa alta pagaria.

"Agora, meu ilustre educador, alegam a inexistência de meios para os contratos, e eu pergunto: por que promoveram o concurso? Será que queriam somente receber a elevada soma da taxa referente a 1.935 candidatos? Que nos dizem os dirigentes do Instituto Nacional de Previdência Social? Qual a garantia da não caducidade do concurso?

"Espero que tudo esteja pelo contrário do que muitos pensam.

"Sou estudante pobre, necessito de emprêgo melhor para ajudar os meus, e para isto estudei. Quando participei do concurso, fazia o terceiro ano de ginásio, sob o comando do ilustre prof. Bartolomeu Vasconcelos Filho. Cheguei a ficar envaidecido por haver passado a perna sôbre a cabeça de meia dúzia de acadêmicos, porém estou quase certo de que foi inútil o meu esfôrço e dos 12 candidatos que lograram aprovação.

"Venho eu, portanto, recorrer aos seus conhecimentos a respeito da matéria, porque sou leigo no assunto, e não quero falar muito para não cometer tolices. O pouco que sei é dito por colegas em palestras, e sempre a mesma história: "nos concursos do Piauí existe sempre marmelada".

"Espero que o ilustre professor me oriente, dê o seu parecer sôbre o assunto
".

OBSERVAÇÃO. Existem milhares de concursados, no Brasil, sem que tenham obtido nomeação. Vigora política de figurões, desconhecida do Presidente da república, a política do engavetamento dos concursos feitos. Fácil a razão: as repartições encontram-se abarrotadas de protegidos (CLT e serviços prestados). No caso do INPS nenhuma culpa do que está acontecendo cabe ao dr. Jorge Chaib, criterioso superintendente regional. Disse me êle, com coragem e civismo, relativamente à carta acima transcrita: "O missivista tem razão. Tenho insistido e até abusivamente pela nomeação dos concursados. E como sempre dizem que tudo depende da autorização do Presidente da República, fêz-se a solicitação na época do Presidente Costa e Silva. No meu relatório anual, vou voltar ao assunto. De tanto insistir, obtive autorização para contratar até quinze servidores. Já foi constituída a Associação de Auxiliares de Serviços Médicos, entidade com a qual deverei contratar os quinze primeiros colocados no concurso. O edital de licitação deverá sair na próxima semana, mas infelizmente só pude conseguir para os primeiros quinze colocados. Foi a maneira legal que o ex-presidente do INPS encontrou para atender aos meus insistentes pedidos".

AS NOTAS.

1) O Conselho de Cultura votou pesar pelo falecimento de Dona Nazaré Freitas.      

2) Casaram-se os jovens Maria (filha do casal Raimundo Mendes) e Paulo Roberto (filho do casal José Pires Oliveira). Elegante e distinta recepção no Clube dos Diários. Grato ao convite.

3) De Lincoln: "Gosto de ver um homem viver de modo que seu lugar se orgulhe dêle".

4) Hélio Passos, sempre atento às cousas do Piauí, manda-me do Rio, artigo de Félix Aires, publicado no "Jornal do Comércio", da cidade-estado: "Trata-se - diz êle - de matéria altamente significativa para todos nós do Piauí, torrão raramente lembrado pelos jornais do Rio". Já fiz leitura completa do artigo pela emissora Rádio Clube, e vou publicá-lo neste jornal.

5) Para orientação, de Luiz Gonzaga dos Santos Rêgo: o juízo é ato essencial da inteligência. No juízo distingue-se a matéria, que abrange as idéias, e nela está o sujeito, elemento do qual se afirma ou se nega, e também nela se encontra o predicado, elemento que é afirmado ou negado. O enunciado do juízo tem o nome de proposição.

6) Grato às mensagens natalinas que me mandaram Orlando Teixeira de Queiroz, Vicente Alcântara, José Augusto de Melo, a presidência e funcionários da COMEPI (Deoclécio Dantas) e Vasquez Filho, com esta quadra: "Tão devotado era o seu guarda / Do castelo do barão / Que só dormia de tarde / Com lança e escudo na mão". Deus cubra de bênçãos os bondosos enviadores de votos de felicidades a êste amigo.  


In: TITO FILHO, A. Caderno de Anotações. Jornal do Piauí, Teresina, p. 2, 8 jan. 1970.   

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